GA7:245-246 — A dobra de ser e ente

Schuback

A relação de pensar e ser está em discussão. Antes de mais nada, devemos considerar atentamente que, pensando de forma penetrante sobre essa relação, o texto (fragmento VIII, 34s.) fala do eon e não do einai, como no fragmento III. Com isso pode-se, até com certo direito, achar que, no fragmento VIII, a questão não é o ser, mas o ente. Só que na palavra eon Parmênides não pensa, de modo algum, o ente em si a que, enquanto totalidade, também o pensamento pertence porque é também algo como um ente. Eon tampouco significa et vai no sentido do ser para si, como se o pensador fosse capaz de salientar o modo essencialmente não sensível do ser frente ao ente, assumido como o que é sensível. Sendo enunciado numa forma participial antes mesmo de existir no saber da linguagem um conceito gramatical a esse respeito, pensa-se bem mais o eon, o ente, o sendo, na dobra de ser e ente. A dobra se mostra, pelo menos, nas expressões “ser dos entes” e “sendo no ser”. Só que com o “no” e o “dos” o que se desdobra fica, em seu vigor de essência, mais escondido do que explicitado. As expressões estão bem longe de pensarem a dobra como tal ou mesmo de questionar o seu desdobramento.

Experienciado como ser, o tão propalado “ser ele mesmo”, na verdade, permanece ser, no sentido do ser dos entes. Ao início do pensamento ocidental foi, porém, concedido vislumbrar, numa visão apropriada, o que se diz na palavra einai, como physis, logos, hen. Porque a reunião integra todos os entes no ser, surge do pensamento que se volta para a reunião a impressão inevitável e insistente de que o ser (dos entes) não é apenas igual à totalidade do ser, mas, como o igual e também como o que unifica, é até mesmo o ente máximo. Para a representação, tudo se torna um ente.

A dobra de ser e ente como tal parece perder-se no inessencial, não obstante desde o seu início grego o pensamento se movimente em seu desdobramento, sem no entanto pensar e atentar para esse seu lugar e nem refletir sobre o desdobramento dessa dobra. No início do pensamento ocidental elimina-se, de forma imperceptível, a dobra. Essa eliminação não é, porém, um nada. A eliminação conferiu ao pensamento grego o seu modo de iniciação: que a iluminação de clareira do ser dos entes encubra-se enquanto iluminação de clareira. O encobrimento de que a dobra se elimina é tão essencial como o para onde a dobra se esvai. Para onde se esvai a dobra? Para o esquecimento. O seu domínio durador encobre-se como lethe, como esquecimento. À lethe pertence de forma tão imediata a aletheia que aquela pode se retrair em favor dessa e assumir no modo da physis, logos, hen, o sentido de um desencobrimento puro como se descobrir pudesse prescindir de encobrimento.

O que, no entanto, parece que só ilumina e clareia está perpassado de obscuridade. Por isso, tanto o desdobramento da dobra como a sua eliminação mantêm-se encobertos para o pensamento inicial.

Nesse sentido, devemos atentar no eon para a dobra de ser e ente a fim de seguir como Parmênides discute a relação de pensar e ser. (2002, p. 212-214)

Barjau

Préau

Krell & Capuzzi

Original

  1. Zwiefalt. Cf. p. 89, n. 1.[↩]
  2. Tout participe est à double sens parce qu’il tient à la fois du verbe et du nom. Dans έόν, nous trouvons l’acte d’être (είναι) (sens verbal), mais aussi ce qui est (τό έόν) (sens nominal). C’est pourquoi έόν est en quelque sorte le nom naturel du Pli de l’être et de l’étant; et, de même que ce Pli est le Pli par excellence, έόν est le Participe par excellence. (Cf. op. cit., pp. 133-136 et 174.)[↩]
  3. Das Entfaltende. — Dans « l’être de l’étant » (ou « l’étant dans l’être »), le de (ou le dans) sépare l’être et l’étant, autrement appliqués l’un contre l’autre, et marque leur distinction. La préposition joue le rôle du « dépliant » dont elle est le signe.[↩]
  4. Ins Fragwürdige, Cf. p. 76, n. 1.[↩]
  5. Sur l’oubli du Point le Plus Critique, l’être de l’oubli, la distinction du début et du commencement, cf. op, cit., pp. 97-98.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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