GA71:§242 – tonalidade afetiva [Stimmung]

Casanova

Tudo aquilo que pode ser pensado sobre as “tonalidades afetivas” precisa ser pensado a partir da experiência do seer e de sua questionabilidade, isto é, a partir da dor da história do seer. (a dor como a clareira da diferença – essa diferença mesma)

A requisição nunca pode voltar-se para um tratamento das “tonalidades afetivas” por assim dizer em si e para sua articulação em uma ordem hierárquica absoluta, que as coloque por assim dizer prontas para a escolha. Aqui não há nenhuma questão acerca de uma multiplicidade de tonalidades afetivas antes de tudo estabelecidas antropologicamente, sobre as quais, então, de acordo com o entusiasmo ou a depressão, se disporiam, a fim de jogar umas contra as outras, as tonalidades afetivas, e escolher sobretudo aquelas que se acham de acordo com o “tempo” heroico e exitoso; situação na qual, naturalmente, a “angústia’, completamente marcada pela incompreensão corrente, com certeza se vê prejudicada, se é que ela consegue efetivamente escapar à condenação sumária. (217)

Na medida em que “a tonalidade afetiva” é concebida em Ser e tempo como “disposição”, isso significa que ela precisa ser experimentada a partir do ser-aí. “Disposição” não visa, aqui, ao “bem” ou “mau” estar como condição psicológica. “Encontrar-se disposto” significa, aqui, o encontrar-se disposto ekstático no aí como a localidade do avatar do tempo estranho do ser-aí. Tempo como avatar do tempo é a essência da “temporalidade” do ser-aí.

“A tonalidade afetiva” é, aqui, já o estar afinado pela voz, isto é, pela requisição adicionada pelo pensamento e oriunda da questionabilidade do seer. A tonalidade afetiva fundamental é a “tonalidade afetiva” que responde a uma tal requisição, a dor da questionabilidade. A tonalidade afetiva também precisa ser experimentada em sua essência a partir da essência da dor como a despedida da intimidade (a dor não pode ser mal interpretada, por exemplo, como “tonalidade afetiva” no entendimento usual de “sentimento”).

Tonalidade afetiva é escuta interior a – (responder) à voz da dignidade do seer, voz essa que afina na dor da questionabilidade do seer.

“As tonalidades afetivas” do ser-aí “vêm” a partir do seer; elas são incontornáveis; elas nunca são, porém, de maneira igualmente essencial estados que se abatem sobre nós, mas, insistentes, são marcadas pela experiência.

É preciso que pensemos aqui “sobre” as tonalidades afetivas no sentido em que as tonalidades afetivas são radicalmente pensadas em termos da história do seer, isto é, no sentido em que são experimentadas de maneira pensante. Esse experimentar também é, então, ao mesmo tempo “afinador” em um sentido subsequente. A dor abriga em si a unidade originária da alegria da intimidade e da tristeza da separação.

A alegria é a guarda e a defesa do seer em sua transversão e abrigo no início.

A tristeza é a guarda e a defesa do seer em sua transversão e em seu curso evasivo em meio ao ocaso do início.

Alegria e dor, assim como sua unidade dolorosa, determinam-se sobretudo a partir da inicialidade do início.

Rojcewicz

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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