GA6T2:208-209 – Diferença Ontológica

Casanova

A “ontologia” está fundada na distinção entre ser e ente. A “distinção” é denominada de maneira mais apropriada por meio do termo “diferença”, no qual se indica que ser e ente são transportados um para fora do outro [Δια-φορά], que eles estão cindidos e, contudo, ligados um ao outro; e isso, em verdade, por si mesmos, não somente com base em um “ato” de “distinção”. Distinção como “diferença” significa que subsiste uma ex-portação (definition1047) entre ser e ente. De onde e como se chega a uma tal ex-portação não é dito; a diferença seria agora denominada apenas como ensejo e como impulso para a questão acerca dessa ex-portação. A distinção entre ser e ente é visada como o fundamento da possibilidade da ontologia. No entanto, “a diferença ontológica” não é introduzida, a fim de resolver, com isso, a questão da ontologia, mas a fim de denominar a única coisa que, enquanto algo até aqui inquestionado, tornou toda “ontologia”, isto é, toda metafísica, no fundo questionável. A referência à diferença ontológica denomina o solo e o “fundamento” de toda ontologia, e, por isso, de toda metafísica. A denominação da diferença ontológica deve indicar que está chegando um instante histórico, no qual se apresentam a urgência e a necessidade de questionar o solo e o fundamento da “onto-logia”. E por isso que se fala em Ser e tempo de “ontologia fundamental”. Não precisamos discutir aqui se com essa ontologia fundamental não se busca senão imputar à metafísica enquanto um edifício já erigido um outro “fundamento”, ou se resultam da meditação sobre a “diferença ontológica” outras decisões quanto à “metafísica”. A referência à “diferença ontológica” só procura indicar a conexão interna entre a nossa meditação atual sobre um conceito mais originário de metafísica e aquilo que foi comunicado antes.

A distinção entre ser e ente é o solo desconhecido e infundado, mas ao mesmo tempo por toda parte requisitado de toda metafísica. Todo afã pela metafísica e todos os esforços em torno da produção de “ontologias” enquanto sistemas doutrinários, assim como toda crítica à ontologia no interior da metafísica não atestam outra coisa senão a fuga constantemente crescente ante esse solo desconhecido. Para aquele que sabe, contudo, esse solo é tão digno de questão que precisa permanecer em aberto a pergunta sobre se aquilo que denominamos justamente a distinção (Distinctio), a ex-portação que tem lugar entre ser e ente, pode ser experimentado na direção dessa denominação de uma maneira que faça jus à sua essência. (GA6; GA6T2MAC:156-157)

Klossowski

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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