GA6T2:141-142 – o sujeito

Casanova

Na medida em que se interpreta a sentença de Protágoras sobre o homem como a medida de todas as coisas “subjetivamente”, isto é, como se todas as coisas dependessem do homem enquanto o “sujeito”, transpõe-se o conteúdo grego para uma posição metafísica fundamental, que concebe o homem de maneira essencialmente diversa da dos gregos. Mas a determinação moderna do homem enquanto “sujeito” também não é tão inequívoca quanto poderia nos fazer acreditar de maneira enganosa a utilização corrente dos conceitos “sujeito”, “subjetividade”, “subjetivo” e “subjetivístico”.

Perguntamos: como se chega ao posicionamento enfático do “sujeito”? De onde emerge esse domínio do elemento subjetivo que dirige toda a humanidade moderna e toda a sua compreensão do mundo? Essa pergunta é justa porque até o começo da metafísica moderna com Descartes e mesmo ainda no interior dessa própria metafísica todo ente, na medida em que é um ente, é concebido como sub-iectum. Sub-iectum é a tradução e interpretação latinas do termo grego hypokeimenon, e significa aquilo que sub-jaz, aquilo que se encontra na base, aquilo que por si mesmo já se encontra aí defronte. Por meio de Descartes e desde Descartes, o homem, o “eu” humano, se torna “sujeito” de maneira predominante. Como o homem assume o papel do único sujeito propriamente dito? Por que esse sujeito humano transpõe-se para o “eu”, de modo que a subjetividade passa a significar o mesmo que egocidade? É a subjetividade que se define pela egocidade ou é, inversamente, a egocidade que se define pela subjetividade?

Segundo o seu conceito essencial, “subiectum” é aquilo que já se acha a cada vez aí defronte em um sentido insigne, aquilo que se encontra, assim, na base para um outro e é dessa forma fundamento. Também precisamos afastar inicialmente do conceito essencial de “subiectum” o conceito “homem” em geral e, por isso, também os conceitos “eu” e “egocidade”. Sujeitos – algo que se acha aí defronte por si mesmo – são as pedras, as plantas e os animais não menos do que os homens. Perguntamos: de que o subiectum é aquilo que se acha na base, se no começo da metafísica moderna o homem se transforma em subiectum em sentido enfático?

Com isso, voltamo-nos uma vez mais para a questão já tocada aqui de maneira tangencial: quais são o fundamento e o solo buscados na metafísica moderna? No começo da metafísica moderna, a tradicional questão diretriz da metafísica, a questão “o que é o ente?”, transforma-se na pergunta sobre o método, sobre o caminho no qual algo incondicionadamente certo e seguro é buscado pelo próprio homem e para o homem e a essência da verdade é circunscrita. A questão “o que é o ente?” transforma-se na questão acerca do fundamentum absolutum inconcussum veritatis, acerca do fundamento incondicionado e inabalável da verdade. Essa transformação é o começo de um novo pensamento, por meio do qual a época se torna uma nova época e o tempo subsequente se transforma na modernidade. [GA6ES:557-558]

Vermal

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Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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