Português
A sentença de Protágoras diz inequivocamente que “todo” ente está ligado ao homem como ἐγώ (eu), e que o homem é a medida para o ser do ente. Mas de que tipo é essa ligação do ente com o “eu”, pressupondo que pensemos de maneira grega em nossa pós-compreensão dessa sentença e que não venhamos a inserir inopinadamente na sentença representações do homem como “sujeito”? O homem apreende aquilo que se presenta na região de sua apreensão. Esse ente que se presenta mantém-se como um tal de antemão em uma região própria àquilo que é acessível, porque essa região é uma região de desvelamento. A apreensão daquilo que se presenta funda-se sobre a sua permanência no interior da região do desvelamento.
Tal como algumas gerações antes de nós, hoje já esquecemos há muito essa região do desvelamento do ente. No entanto, continuamos a requisitá-la constantemente. Achamos, em verdade, que um ente se torna acessível pelo fato de um eu representar enquanto sujeito um objeto. Como se para tanto não precisasse vigorar de antemão um aberto, no interior de cuja abertura algo se torna acessível enquanto objeto para um sujeito e a própria acessibilidade ainda pode ser atravessada como experimentável! Ainda que de maneira bastante indeterminada, os gregos conheciam, contudo, esse desvelamento, em meio ao qual o ente se presenta e o qual ele por assim dizer traz consigo. Apesar de tudo aquilo que se encontra desde então entre nós e os gregos em termos de uma interpretação metafísica do ente, podemos nos lembrar dessa região do desvelamento e experimentá-la como o lugar em que se mantém o nosso ser-homem. Podemos atentar suficientemente para o desvelamento, sem que sejamos e pensemos de modo grego. Por meio da permanência na região do desvelamento, o homem pertence à esfera fixa daquilo que se presenta para ele. Por meio desse pertecimento a essa esfera, um limite é ao mesmo tempo assumido contra aquilo que não se presenta. E aqui, portanto, que o si mesmo do homem é definido como o “eu” respectivo por meio da restrição ao desvelado circundante. A pertinência restrita à esfera do desvelado constitui concomi-tantemente o ser si mesmo do homem. É por meio da restrição que o homem se transforma em ἐγώ, mas não por meio de uma supressão de tal ordem das restrições que o eu que representa a si mesmo se incha e transforma em ponto de medida e em centro de tudo aquilo que é re-presentável. O “eu” é para os gregos o nome para o homem que se insere nessa restrição, e, assim, é junto a si mesmo ele mesmo.
Experimentado de maneira grega, o homem da relação fundamental com o ente é μέτρον, medida, porquanto ele permite que a moderação e a circunscriação à região restrita para o respectivo si mesmo se transformem em traço fundamental de sua essência. Nisso reside ao mesmo tempo o reconhecimento de um velamento do ente e a admissão de uma impossibilidade de decisão quanto à presença e à ausência, quanto à aparência do ente puro e simples. Por isso, Protágoras diz (Diels, Fragmente der Vorsokratiker, 19 Protágoras B, 4); “Saber algo certamente sobre os deuses (isso significa, em termos gregos: ter a “visão” de algo desvelado) eu não estou em condições, nem que eles são, nem que eles não são, nem como eles são em sua aparência”; “Pois muitas são as coisas que nos impedem de apreender o ente enquanto um tal; tanto a não-manifestabilidade (isto é, o velamento) do ente quanto a brevidade da história do homem”.
Podemos nos espantar com o fato de Sócrates, em face dessa prudente observação de Protágoras, dizer (Platão, [Teeteto->https://platonismo.hyperlogos.info/Teeteto], 152b): “É de se supor que ele (Protágoras), como um homem envolto em pensamentos (em sua sentença sobre o homem como metron panton khrematon), não estava simplesmente dizendo tolices”? O modo como Protágoras define a relação do homem com o ente é apenas uma circunscrição acentuada do desvelamento do ente na totalidade à respectiva esfera da experiência do mundo. Essa limitação pressupõe que esse desvelamento já tinha sido experimentado uma vez enquanto tal e já tinha sido alçado ao conhecimento como o caráter fundamental do próprio ente. Isso aconteceu nas posições metafísicas fundamentais dos pensadores no começo da filosofia ocidental: em Anaximandro, Heráclito e Parmênides. A sofistica, em relação à qual Protágoras é reconhecido como um dos principais pensadores, só é possível com base na e como uma variação da sophia, isto é, da interpretação grega do ser como presença e da determinação grega da essência da verdade como aletheia (desvelamento). O homem é a cada vez a medida da presença e do desvelamento por meio da moderação e da restrição ao aberto mais próximo, sem negar aquilo que há de mais distante e que se acha cerrado e sem se arrogar uma decisão quanto ao seu presentar-se ou ausentar-se. Não há aqui nenhum rastro do pensamento de que o ente enquanto tal precisa se retificar segundo o eu colocado sobre si mesmo enquanto o sujeito, de que esse sujeito seria o juiz sobre todo ente e sobre seu ser e de que ele decidiria por conta dessa jurisdição com uma certeza incondicionada sobre a objetividade dos objetos. Aqui não há de maneira alguma o rastro daquele procedimento cartesiano que tenta até mesmo comprovar a essência e a existência de Deus como incondicionadamente certas. Se pensarmos nos quatro “momentos” que determinam a essência da metafísica, então podemos dizer agora o seguinte sobre a sentença de Protágoras:
1. O “eu” determina-se para Protágoras por meio do pertencimento a cada vez limitado ao desvelamento do ente. O ser si mesmo do homem funda-se na confiabilidade do ente desvelado e de sua esfera.
2. O ser possui o caráter essencial da presença.
3. A verdade é experimentada como desvelamento.
4. “Medida” possui o sentido de moderação do desvelamento.
Para Descartes e para a sua posição metafísica fundamental, todos esses momentos possuem uma outra significação. Sua posição metafísica fundamental não é independente da metafísica grega, mas está essencialmente distanciada dela. Como a dependência e a distância nunca foram claramente diferenciadas até aqui, sempre foi possível se imiscuir uma vez mais na ilusão de que Protágoras seria, por assim dizer, o Descartes da metafísica grega; assim como se pôde pretender que Platão seria o Kant da filosofia grega e Aristóteles o seu São Tomás de Aquino. [GA6MAC:554-557]
Der Satz des Protagoras sagt eindeutig, daß »alles« Seiende auf den Menschen als ἐγώ (Ich) bezogen ist und daß der Mensch das Maß für das Sein des Seienden ist. Welcher Art aber ist dieser Bezug des Seienden auf das »Ich«, vorausgesetzt, daß wir im Nachverstehen dieses Spruches griechisch denken und nicht Vorstellungen vom Menschen als »Subjekt« unversehens in den Spruch hineinlegen? Der Mensch vernimmt das im Umkreis seines Vernehmens Anwesende. Dieses Anwesende hält sich als ein solches zum voraus in einem Bezirk des Zugänglichen, weil dieser Bezirk ein solcher der Unverborgenheit ist. Das Vernehmen des Anwesenden gründet auf dessen Verweilen innerhalb des Bezirks der Unverborgenheit.
Wir Heutigen und manche Geschlechter vor uns haben diesen Bezirk der Unverborgenheit des Seienden längst vergessen und nehmen ihn gleichwohl ständig in Anspruch. Wir meinen zwar, ein Seiendes werde dadurch zugänglich, daß ein Ich als Subjekt ein Objekt vorstellt. Als ob hierzu nicht vorher schon ein Offenes walten müßte, innerhalb von dessen Offenheit etwas als Objekt für ein Subjekt zugänglich und die Zugänglichkeit selbst noch als erfahrbare durchfahren werden kann? Die Griechen jedoch wußten, wenngleich unbestimmt genug, von dieser Unverborgenheit, in die herein das Seiende anwest und die es gleichsam mit sich bringt. Wir können uns trotz allem, was seitdem an metaphysischer Auslegung des Seienden zwischen den Griechen und uns liegt, dieses Bezirkes der Unverborgenheit erinnern und ihn als jenes erfahren, worin unser Menschsein sich aufhält. Ein zureichendes Achten auf die Unverborgenheit kann gelingen, ohne daß wir noch einmal in griechischer Weise sind und denken. Durch das Verweilen im Bezirk des Unverborgenen gehört der Mensch in einen festen Umkreis des ihm Anwesenden. Durch die Zugehörigkeit in diesen Umkreis ist zugleich eine Grenze gegen das Nichtanwesende übernommen. Hier wird also das Selbst des Menschen zum jeweiligen »Ich« durch die Beschränkung auf das umgebende Unverborgene bestimmt. Die beschränkte Zugehörigkeit in den Umkreis des Unverborgenen macht das Selbstsein des Menschen mit aus. Durch die Beschränkung wird der Mensch zum ἐγώ, nicht aber durch eine Entschränkung der Art, daß zuvor das sich selbst vorstellende Ich zum Maß- und Mittel-punkt alles Vorstellbaren sich aufspreizt. »Ich« ist für die Griechen der Name für den Menschen, der sich in diese Beschränkung fügt und so bei sich selbst er selbst ist. Der Mensch des griechisch erfahrenen Grundverhältnisses zum Seienden ist μέτρον, Maß, indem er die Mäßigung auf den für das jeweilige Selbst beschränkten Umkreis des Unverborgenen zum Grundzug seines Wesens werden läßt. Darin liegt zugleich die Anerkennung einer Verborgenheit von Seiendem und das Zugeständnis einer Unentscheidbarkeit über das Anwesen und Abwesen, über das Aussehen des Seienden schlechthin. Daher sagt Protagoras (Diels, »Fragmente der Vorsokratiker«, Protagoras B, 4) : »Über die Götter freilich etwas zu wissen (das heißt griechisch: etwas Unverborgenes zu, >Gesicht< zu bekommen), bin ich nicht imstande, weder daß sie sind, noch daß sie nicht sind, noch wie sie sind in ihrem Aussehen« ; »Vielerlei nämlich ist, was daran hindert, das Seiende als ein solches zu vernehmen; sowohl die Nichtoffenbarkeit (d. h. Verborgenheit) des Seienden als auch die Kürze der Geschichte des Menschen.« Dürfen wir uns wundern, daß Sokrates angesichts dieser Besonnenheit des Protagoras von diesem sagt (Piaton, Theaitet, 152 b): »Zu vermuten ist, daß er (Protagoras) als ein besinnlicher Mann (bei seinem Spruch über den Menschen als metron panton khrematon) nicht einfach daherschwatzt.« Die Art, wie Protagoras das Verhältnis des Menschen zum Seienden bestimmt, ist nur eine betonte Einschränkung der Unverborgenheit des Seienden auf den jeweiligen Umkreis der Welterfahrung. Diese Einschränkung setzt voraus, daß die Unverborgenheit des Seienden waltet, noch mehr, daß diese Unverborgenheit bereits als solche schon einmal erfahren und als Grundcharakter des Seienden selbst ins Wissen gehoben wurde. Dies geschah in den metaphysischen Grundstellungen der Denker im Anfang der abendländischen Philosophie : bei Anaximander, Heraklit und Parmenides. Die Sophistik, zu der Protagoras als ihr führender Denker gezählt wird, ist nur möglich auf dem Grunde und als Abart der sophia, d. h. der griechischen Auslegung des Seins als Anwesenheit und der griechischen Wesensbestimmung der Wahrheit als aletheia (Unverborgenheit). Der Mensch ist jeweilen das Maß der Anwesenheit und Unverborgenheit durch die Mäßigung und Beschränkung auf das nächste Offene, ohne das fernste Verschlossene zu leugnen und eine Entscheidung über dessen Anwesen und Abwesen sich anzumaßen. Hier ist nirgends die Spur des Gedankens, daß das Seiende als solches nach dem auf sich gestellten Ich als dem Subjekt sich zu richten habe, daß dieses Subjekt der Richter über alles Seiende und dessen Sein sei und kraft dieses Richteramtes aus unbedingter Gewißheit über die Objektivität der Objekte entscheide. Hier ist vollends nicht die Spur von jenem Vorgehen Descartes’, das sogar versucht, Wesen und Existenz Gottes als unbedingt gewiß zu erweisen. Denken wir an die vier »Momente«, die das Wesen der Metaphysik bestimmen, dann kann jetzt zum Spruch des Protagoras folgendes gesagt werden : 1. Das »Ich« bestimmt sich für Protagoras durch die je begrenzte Zugehörigkeit ins Unverborgene des Seienden. Das Selbstsein des Menschen gründet in der Verläßlichkeit des unverborgenen Seienden und seines Umkreises. 2. Das Sein hat den Wesenscharakter der Anwesenheit. 3. Wahrheit ist erfahren als Unverborgenheit. 4. »Maß« hat den Sinn von Mäßigung der Unverborgenheit. Für Descartes und seine metaphysische Grundstellung haben alle diese Momente eine andere Bedeutung. Seine metaphysische Grundstellung ist nicht unabhängig von der griechischen Metaphysik, aber sie ist wesentlich von ihr entfernt. Weil die Abhängigkeit und die Entfernung bisher niemals klar unterschieden wurden, konnte sich immer wieder die Täuschung einschleichen, Protagoras sei gleichsam der Descartes der griechischen Metaphysik; so wie man vorgeben konnte, Piaton sei der Kant der griechischen Philosophie und Aristoteles ihr Thomas von Aquin. (p.136-140) [tabbyending]