GA6T1:76-78 – dynamis, energeia, entelecheia

Casanova

Nietzsche equipara, frequentemente, poder e força, sem que essa noção de força seja determinada de maneira mais próxima. Força, a capacidade reunida em si e pronta para atuação, o estar em condições de…, é o que os gregos, antes (51) de tudo Aristóteles, designam como δυναμις. Contudo, o poder é igualmente o ser-poderoso no sentido da realização do domínio, o estar-em-obra da força, ou, em termos gregos: ἐνέργεια. Poder é vontade como querer-para-além-de-si. Precisamente dessa forma, porém, ela se mostra como o chegar-a-si-mesmo, encontrar-se e afirmar-se na simplicidade fechada da essência, em termos gregos: ἐντελέχεια. Para Nietzsche, poder significa tudo isso ao mesmo tempo: δυναμις, ἐνέργεια, ἐντελέχεια.

Na coletânea de ensaios que conhecemos sob o nome de a Metafísica, de Aristóteles encontramos um ensaio, refiro-me ao livro Θ (IX) da Metafísica, que trata de δυναμις, ἐνέργεια, ἐντελέχεια como determinações supremas do ser.

O que Aristóteles, ainda na via de uma filosofia originária, mas também já no fim dessa via, pensa nesse livro, isto é, o que ele pergunta aí sobre o ser, foi transmitido posteriormente à filosofia escolástica como a doutrina da potentia e do actus. Desde o começo da modernidade, a filosofia se manteve presa à aspiração de conceber o ser a partir do pensar. Assim, as determinações do ser – potentia e actus – se aproximam das formas fundamentais do pensar, do juízo. Possibilidade, realidade efetiva e, além disso, necessidade tornam-se modalidades do ser e do pensar. Desde então, a doutrina das modalidades se tornou um componente integrante de toda e qualquer doutrina de categorias.

O que a filosofia acadêmica atual compreende por tudo isso é objeto da erudição e do exercício da agudeza intelectual. O que se apresenta em Aristóteles como saber acerca da δυναμις, da ἐνέργεια, da ἐντελέχεια é ainda filosofia; ou seja, aquele livro citado da Metafísica, de Aristóteles é o que há de maxi-mamente digno de questão em toda a filosofia aristotélica. Apesar de Nietzsche não se dar conta da conexão velada e vital de seu conceito de poder como um conceito de ser com a doutrina aristotélica; apesar de essa conexão permanecer aparentemente muito frouxa e indeterminada, pode ser dito que aquela doutrina aristotélica tem mais ligação com a doutrina nietzschiana da vontade de poder do que com qualquer doutrina de categorias e modalidades da filosofia acadêmica. No entanto, a própria doutrina aristotélica é apenas um prolongamento, um chegar-ao-primeiro-fim do primeiro começo da filosofia ocidental que teve lugar com Anaximandro, Heráclito e Parmênides.

Todavia, não devemos compreender a referência à ligação interna entre a vontade de poder em Nietzsche e as noções de δυναμις, ἐνέργεια e ἐντελέχεια em Aristóteles como se a doutrina nietzschiana do ser pudesse ser imediatamente interpretada com o auxílio da doutrina aristotélica. As duas doutrinas precisam ser reconduzidas a um contexto mais originário de colocação do problema. Isso vale, antes de tudo, para a doutrina aristotélica. Não é nenhum exagero dizer que (52) não compreendemos mais, nem temos hoje a menor ideia do que está em questão com essa doutrina aristotélica. A razão para esse estado de coisas é simples: as pessoas interpretam essa doutrina primeiramente com o auxílio das doutrinas correspondentes da Idade Média e da modernidade que não são, por sua vez, senão uma modulação e um declínio da doutrina aristotélica e que não se mostram, portanto, como apropriadas para fornecer o solo à nossa concepção. (GA6PT:50-52)

Klossowski

Krell

Original

  1. Heidegger had lectured in the summer of 1931 on Aristotle, Metaphysics IX. (The text of that course appeared in 1981 as vol. 33 of the Gesamtausgabe.) On the question of ἀλήθεια and Being in chapter 10 of Metaphysics IX, see Martin Heidegger, Logik: Die Frage nach der Wahrheit (Frankfurt/Main: V. Klostermann, 1976), pp. 170-82, the text of his 1925-26 lecture course. Cf. the review of this volume in Research in Phenomenology, VI (1976), 151-66.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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