GA6T1:469-470 – amor fati

Casanova

O próprio Nietzsche escolheu um termo para a caracterização do que denominamos a sua posição metafísica fundamental. Esse termo foi desde então frequentemente citado e caiu mesmo nas graças dos intérpretes de Nietzsche como um termo capaz dc designar a sua filosofia: amor fati – o amor à necessidade (cf. Epílogo a Nietzsche contra Wagner; VIII, 206). No entanto, esse termo só expressa a posição metafísica fundamental de Nietzsche se compreendemos as duas palavras “amor” e “fatum” a partir do pensar nietzschiano mais próprio, e não inserimos aí representações usuais quaisquer.

Amor – o amor precisa ser entendido como vontade, como a vontade que quer que o amado seja, em sua essência, o que ele é. A vontade mais elevada, mais ampla e mais decisiva desse tipo é a vontade como transfiguração, a vontade que erige e expõe o querido em sua essência para o interior das possibilidades mais elevadas de seu ser.

Fatum – a necessidade precisa ser compreendida da seguinte forma: não como uma fatalidade contingente que se desenrola cegamente em um lugar qualquer e se acha abandonada a si mesma, mas como aquela viragem da penúria que se descortina no instante capturado como a eternidade da plenitude do devir do ente na totalidade: circulus vitiosus deus.

Amor fati é a vontade transfiguradora da pertinência ao que há de mais ôntico no ente. O fatum é brutal, confuso e devastador para aquele que se acha simplesmente aí e se deixa atacar por ele. Contudo, o fatum é sublime e o maior prazer para aquele que sabe e compreende que ele mesmo pertence ao fatum como criador, isto é, sempre como alguém decidido. Esse saber não é outra coisa senão o saber que ressoa necessariamente em todo amor. (p. 366)

Klossowski

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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