GA66:90 – tonalidade afetiva (Stimmung)

Casanova

A tonalidade afetiva pertence ao acontecimento da apropriação; como voz do seer, ela afina o que acontece apropriativamen-te (de-terminado afinadoramente para a fundação da verdade do seer) em uma tonalidade afetiva fundamental – tonalidade afetiva que se torna o fundamento de uma fundação da verdade do seer no ser-aí; tonalidade afetiva, que conjuga afinadoramente o ser-aí enquanto tal. A tonalidade afetiva fundamental, contudo, não é apenas um sentimento, uma faculdade da alma e do sujeito entre outras. Ela não é apenas “fundamento” de todos os comportamentos, atravessando-os afinadoramente, ela não é apenas “disposição”.

Essa interpretação buscada em Ser e tempo pensa, em verdade, a partir da questão do ser determinada em termos da história do seer, a partir do ser-aí e para ele, e, contudo, ainda reside na nomeação e, com isso, também no conceito, o elemento fatídico de colocar a tonalidade afetiva como ocorrência do “lado” do ser do homem, ao invés de levá-la a sério juntamente com o caráter de acontecimento apropriativo do afinar. Aqui, a interpretação metafísica própria ao primeiro início da tonalidade afetiva como πάθος e affectio continuam sendo um obstáculo central. Mesmo que evitemos interpretar equivocadamente αἰδώς, χάρις e todo e qualquer πάθος no sentido moderno ou mesmo apenas psicológico-cristão, mesmo que venhamos a pressentir que essas tonalidades afetivas copertencem ao seer correspondendo ao νοῦς e ao λόγος, é preciso ousar de qualquer modo uma admissão essencial, que confesse a indecisão de sua essência e reconheça nessa indecisão o fundamento para a transposição posterior para o interior da ψυχὴ, do animus, até mesmo da cogitatio, assim como para o interior da consciência. Se a “vivência” se apodera até mesmo da “tonalidade afetiva” (isto é, de sua interpretação essencial), então desaparece toda perspectiva de poder tornar algum dia experienciável o caráter de acontecimento apropriativo da tonalidade afetiva.

Emad & Kalary

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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