GA66:55 – corpo vital, alma e espírito

Casanova

A animalidade do homem (ζῷον, animal) conquista agora a sua vitória; o que não significa que agora tudo é pensado “animalescamente”. Por ser inequivocamente tosco, algo deste gênero também permaneceria inofensivo. Dizer que a animalidade vence significa: “corpo vital” e “alma” como as determinações iniciais e constantes (como quer que venhamos a concebê-las) do animalesco assumem o papel da essencialidade no interior da essência do homem. Tão antigo quanto a animalidade do homem é também o pensar – a razão, νοῦς, ratio, o “espírito” como determinação essencial do homem. E há muito tempo impera a ordem hierárquica corpo vital – alma – espírito; e, em verdade, por diversas razões: em última instância, porque o espírito como a “alma” do entendimento e da razão é suposto como o mais efetivamente real e o mais eficaz na produção e representação (actus purus), até que, com a inversão do platonismo por meio de (129) Nietzsche, o espírito pôde ser despotencializado e transformado no adversário da alma (da “vida”). A vitória da animalidade receia, em verdade, depor pura e simplesmente o “espírito” e expô-lo como um epifenômeno da “vida”. Por isto, atiça-se um pseudo-embate entre aqueles que defendem o “espírito” e aqueles que gostariam no fundo de negá-lo. Em verdade, porém, as pessoas já chegaram há muito tempo – sem saber por que – a um acordo; os negadores do “espírito” o querem ver apesar disto protegido e os defensores o negam, contudo, na medida em que procuram se salvar por meio de um truque e reorganizam aquela hierarquia acima mencionada, para que o “espírito” seja bem assumido agora no ponto central entre o animal, o corpo vital e a alma; diz-se agora: corpo vital – espírito – alma. Todavia, tudo permanece a mesma coisa, ou seja, o esquecimento do ser há muito concebido em uma marcha acelerada impele à sua consumação; pois cada vez menos se consegue saber o que significa propriamente “espírito”, depois de ele ter se tornado há muito tempo a concepção anímica da ratio e ter fundado essa ratio no sujeito.

Boutot

Emad & Kalary

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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