GA65:58. O que são os três encobrimentos do abandono do ser e como se mostram

Tradução do inglês

1. Cálculo – toma o poder principalmente pela maquinação da tecnicidade, é fundado em termos de conhecer no matemático; aqui antecipação não clara em princípios e regras orientadores e assim a certeza da direção e planejamento, o experimento; a falta de questionamento em de algum modo gerir (Durchkommen); nada é impossível, se está certo de “entes”; não há mais necessidade para a questão concernente ao que á mais próprio à verdade. Tudo deve ser ajustado ao estado existente de cálculo. Daqui em diante a prioridade de organização, renúncia desde a base de uma transformação livremente crescente. O incalculável é aqui somente aquilo que ainda não foi dominado pelo cálculo, embora em algum ponto também recuperável em si mesmo – logo não de todo fora do reino de todo cálculo. Destino e providência são tratados em momentos “sentimentais”, que precisamente na “dominação” do cálculo não são freqüentes, mas nunca de modo que uma força formativa possa advir daquilo ali invocado – uma força que desafiaria sempre a forçar a mania de cálculo a seu limite.

Cálculo significa aqui como a lei básica de comportamento, não como a mera consideração ou mesmo esperteza de uma ação isolada, que pertence a toda ação humana.

2. Aceleração – de qualquer espécie; o aumento mecânico das “velocidades” técnicas, e estas somente uma conseqüência desta aceleração, que significa não-se-capaz-de-suportar a quietude do crescimento oculto e espera; a mania por aquilo que é surpreendente, por aquilo que imediatamente (nos) arrebata e (nos) impressiona, de novo e de novo e em diferentes maneiras; fugacidade como a lei básica de “constância”. É necessário esquecer rapidamente e se perder no que vem em seguida. Deste ponto de vista, então, a ideia falsa daquilo que é alto e “superior” na des-figuração (Missgestalt) de máxima realização; aperfeiçoamento puramente quantitativo, cegueira àquilo que é verdadeiramente do momento, que não é fugaz mas abre a eternidade. Mas do ponto de vista da aceleração o eterno é o mero perdurar do mesmo, o vazio “e-assim-por-diante”. A agitação genuína da luta permanece oculta. Seu lugar é tomado pela agitação da operação sempre inventiva, que é dirigida pela ansiedade da acedia.

3. A eclosão da massificação. Não somente no sentido das “massas” em um sentido “social”. Estas massas aumentam apenas porque números e o calculável já contam como aquilo que é igualmente acessível a todo mundo. O que é comum aos muitos e a todos é o que os “muitos” conhecem como o que sobre eles se eleva. Assim respondendo ao cálculo e aceleração, assim como por outro lado cálculo e aceleração provêm massificação com sua trilha e escopo. Aqui está a acentuada oposição – porque é inconspícua – ao raro e único (o vigor essencial do ser). Em toda parte nestes disfarces do abandono do ser, o não é mais próprio dos entes, os não-entes, espalha-se – e, de fato, na semelhança de um evento “importante”.

A difusão destes disfarces do abandono do ser e assim precisamente este abandono ele mesmo é o mais forte impedimento – porque inicialmente dificilmente notável – para apropriadamente estimar e fundamentar o afinamento-fundamental da reserva, na qual aquilo que é mais próprio à verdade primeiro se acende, à medida que acontece o deslocamento em Da-sein.

Mas aquelas maneiras de acolher entes e suas “dominações” são por conseguinte tão prejudiciais, porque elas não se deixam simplesmente remover como supostamente formas externas que abarcam algo interior. Elas ocupam o lugar do interior e no final negam a diferença entre o interior e o exterior, pois estão na dianteira e são tudo. Isto corresponde à maneira pela qual alcança-se conhecimento (Wissen) – corresponde à distribuição calculada, rápida, massiva de informação não compreendida (Kenntnis) a tantos quanto possível no mais curto tempo possível. “Escolaridade” (se torna) uma palavra que, no significado que agora tem, vira de cabeça para baixo o que é mais próprio à escola e à schole. Mas isto também é apenas um novo sinal do colapso que não para o crescente desenraizamento, porque este colapso não chega – ou quer chegar a – as raízes dos entes, porque lá teria que confrontar sua própria falta de fundamento.

Estes três – cálculo, aceleração, e massificação – são acompanhados por um quarto, um que se relaciona aos três e assume de maneira enfática o desmantelamento e o disfarce doa desintegração interior. Ou seja:

4. Despojamento, publicação e vulgarização de toda harmonia. A desolação que aqui se cria corresponde à crescente artificialidade de toda atitude e junto com isto a despontencialização da palavra. A palavra então é apenas a casca e estímulo amplificado, na qual não pode mais estar uma conexão a um “sentido”, porque toda reunião de uma possível atenção é removida e a atenção ela mesma é desprezada como algo estranho e fraco.

Tudo isto se torna ainda mais sinistro, quanto menos obstrutivamente se exaure e quanto mais automaticamente toma posse do dia a dia e, da forma que é, se cobre de novas formas de estabelecimento.

A conseqüência da harmonia despojada, que ao mesmo tempo disfarça o vazio crescente, mostra-se finalmente na incapacidade de experimentar (erfahren) o verdadeiro e real acontecimento, o abandono do ser, à medida que a harmonia se desgraça – admitindo-se que ela poderia ser mostrada dentro de certos limites.

5. Todos estes sinais de abandono do ser apontam para o início da época de total falta de questionamento de todas as coisas e de toda maquinação.

Não apenas trata-se de que basicamente nada oculto não será mais admitido, mas o que é mais decisivo é que o abrigo de si como tal, como poder determinante, não tem mais entrada permitida.

Na época de total falta de questionamento, entretanto, “problemas” se empilharão e se precipitarão, aqueles tipos de “questões” que não são realmente questões, porque suas respostas não ousam ter algo que os conectem, na medida que se tornam imediatamente problemas de novo. Isto diz exatamente e de modo antecipado que nada está imune à dissolução e que a desconstrução (Auflösung) é apenas uma questão de números no tocante a tempo, espaço, e força.

6. Mas agora, desde que entes são abandonados pelo ser (Seyn), a oportunidade levanta-se para a mais insípida “sentimentalidade”. Agora pela primeira vez tudo é “experimentado ao vivo” (erlebt) e todo empreendimento e desempenho está embebido com “experiências-vividas” (Erlebnisse). E esta “experiência-vivida” prova que agora mesmo o homem como um ente incorreu na perda do ser (Seyn) e caiu prisioneiro de sua caçada por experiências-vividas.

Emad & Maly

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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