Auto-meditação como fundamentação da ipseidade encontra-se fora das doutrinas citadas. Ela sabe com certeza que se decide aí algo essencial, ela sabe que se decide se a questão “quem somos nós?” é questionada ou se ela não é não apenas postergada, mas também em geral negada enquanto questão.
Não querer questionar essa questão significa: ou bem se desviar da verdade questionável sobre o homem, ou bem difundir a convicção de que já se encontra para toda a eternidade decidido quem nós somos.
Caso aconteça essa segunda opção, então todas as experiências e realizações não serão levadas a termo senão como expressão da “vida” segura de “si mesma” e consideradas, por isso, como organizáveis. GA65 (Casanova): 19
Tudo parece como se a decisão entre ser ou não ser já fosse sempre decidida em favor do ser, uma vez que, de qualquer modo, a “vida” é: querer ser. GA65 (Casanova): 48
Mas o que significa aí “vida” e até que ponto a “vida” é aqui concebida? Como impulso de autoconservação. GA65 (Casanova): 48
O esquecimento do ser não sabe nada sobre ela, ele pensa estar junto ao “ente”, junto ao “efetivamente real”, próximo da “vida” e seguro do “vivenciar”. GA65 (Casanova): 55
(Viven-ciar) Referir o ente enquanto re-presentado em direção a si como o meio de referência e, assim, vinculá-lo “à vida”. Por que o homem como “vida” (animal rationale) (ratio – re-presentação!). Só o viven-ciado e o viven-ciável, aquilo que penetra na esfera do viven-ciar, aquilo que o homem consegue trazer para si e para diante de si, pode viger como “ente”. GA65 (Casanova): 63
Esse passo encontra-se tanto mais próximo, uma vez que, do lado da região contrária à natureza, na história, predomina o método puramente “historiológico” ou “pré-historiológico”, que pensa completamente em termos de causalidade e torna acessível a “vida” e o “vivenciável” ao computo causal e vê tão somente aí a forma do “saber” histórico. GA65 (Casanova): 76
Pois com o ponto de partida na “vida” enquanto realidade efetiva fundamental (“vida” como vida-de-tudo e, ao mesmo tempo, como vida humana) é possível assegurar de imediato duas coisas: Vida como ação e como fazer é um ir além e um prosseguir e se acha assim dirigida para além de si rumo ao “sentido” e ao “valor”, ou seja, “idealismo”: mas, é assim que se pode revidar imediatamente, não da forma de vida da representação e da “consciência”, mas do vivenciar e do efetivamente atuar, vida e vivência; tudo isso soa “realista”, mas também pode se permitir, se necessário, ser considerado também e precisamente como o mais elevado GA65 (Casanova): 110
Pois com o ponto de partida na “vida” enquanto realidade efetiva fundamental (“vida” como vida-de-tudo e, ao mesmo tempo, como vida humana) é possível assegurar de imediato duas coisas: Vida como ação e como fazer é um ir além e um prosseguir e se acha assim dirigida para além de si rumo ao “sentido” e ao “valor”, ou seja, “idealismo”: mas, é assim que se pode revidar imediatamente, não da forma de vida da representação e da “consciência”, mas do vivenciar e do efetivamente atuar, vida e vivência; tudo isso soa “realista”, mas também pode se permitir, se necessário, ser considerado também e precisamente como o mais elevado idealismo. GA65 (Casanova): 110
A dissolução do “eu” na “vida” como povo: aqui, a superação do “eu” é viabilizada a partir do abandono da primeira condição de tal superação, a saber, a meditação sobre o ser-si-mesmo e sobre sua essência, que se determina a partir da atribuição apropriadora e da sobreapropriação. GA65 (Casanova): 197
O Neokantismo, que também afirma a filosofia da “vida” e da “existência”, porque os dois, por exemplo, Dilthey da mesma maneira que Jaspers, permanecem sem nenhuma ideia daquilo que propriamente aconteceu na metafísica ocidental e que precisa se preparar como a necessidade do outro início. GA65 (Casanova): 212
Nietzsche não chega, porém, a uma posição livre em sua meditação sobre a “verdade”, porque ele: 1) Refere a verdade à “vida” (de maneira “biológico”-idealista) como asseguramento da vida. “ GA65 (Casanova): 234
3) Este conceito de verdade erigido com vistas à “vida” e determinado a partir do conceito tradicional de ser está, além disso, completamente na via da tradição, na medida em que a verdade é uma determinação e um resultado do pensamento e da re-presentação. GA65 (Casanova): 234
Pois, apesar das ressonâncias do “perspectivismo”, a “verdade” continua enredada na “vida” e a vida mesma, de maneira quase coisal, um centro de vontade e de força, que quer sua elevação e superelevação. GA65 (Casanova): 234
E, contudo, mesmo essa questão e esse saber em torno dessa questão não são originários (abstraindo-se completamente do ponto de partida da “vida” e da interpretação do “ser”). GA65 (Casanova): 234
Como é, porém, que se chega em geral ao critério de medida do “valor” para a vida? A vida mesma não exige decisões sobre as suas condições? Que vida? E se ela exige algo assim, então há a questão de saber como as próprias condições e as decisões sobre isso pertencem à “vida” e o que, então, significa “vida”. GA65 (Casanova): 234
Com certeza, mostra-se aqui toda a plurissignificância da “vida” e resta a questão de saber se e como aqui uma ordem hierárquica é passível de ser estabelecida, por exemplo, em correspondência à doutrina leibniziana da mônada. GA65 (Casanova): 234
Mas quem foi que imaginou a aletheia algum dia normativamente, e de onde provém o direito a esse elemento tradicional, e, contudo, ao mesmo tempo esquecido? Como é que podemos conceber um estado na essência da verdade, sem que todo “verdadeiro” permaneça apenas um engodo? Por meio de uma fuga em direção ao cerne da realidade efetiva próxima à vida de uma “vida” bastante questionável, não há como conquistar nada aqui. GA65 (Casanova): 236
Do acontecimento apropriador no qual esse pertencimento se funda historicamente emerge pela primeira vez a fundamentação da razão pela qual “vida” e corpo, geração e gênero, estirpe, dito na palavra fundamental: a terra, pertencendo à história e recolhendo ao seu modo em si uma vez mais a história, e, em tudo isso, sendo útil à contenda entre terra e mundo, é sustentada pelo mais íntimo pudor de ser a cada vez algo incondicionado. GA65 (Casanova): 251
Nenhuma conversão pode ser levada a termo, mas apenas o degradar-se em meio à interpretação não filosófica do idealismo, interpretação essa por meio da qual, então, com certeza, a despotencialização nele velada do ser parece justificada a partir do empreendimento do ente, que precisa se salvar na ideia de valor, lá onde lhe restou ainda tanto em termos de circunspecção que ele reconhece como é que a afirmação incondicional do real e efetivo e da “vida” (do ente, portanto) carece de um rastro do não-ente, que não se consegue mais naturalmente saber como ser. GA65 (Casanova): 259
O gigantesco leva a termo a consumação da posição metafísica fundamental do homem, que volta para o interior da inversão de sua figura e interpreta todas as “metas” e “valores” (“ideais” e “ideias”) como “expressão” e como um aborto da mera “vida” “eterna” em si. GA65 (Casanova): 260
Os fenômenos de primeiro plano do gigantesco devem tornar essa “origem” representável na “vida” da maneira o mais penetrante possível, isto é, devem con-statar historiologicamente para a era do gigantismo, e ratificar isso diante dele mesmo em sua “vitalidade”. GA65 (Casanova): 260
Logo se prossegue agora mesmo sem o ente e se satisfaz com os objetos, isto, se encontra toda “vida” e toda realidade efetiva no empreendimento do elemento objetivo. GA65 (Casanova): 262
A “vida” é tragada para o cerne da vivência e essa vivência mesma se eleva em direção à instituição do vivenciar. GA65 (Casanova): 262
Para não falar de modo algum da recaída inevitável na metafísica e da dependência das representações do “movimento”, da “vida” e do “devir” em relação ao ser como entidade, tal interpretação do acontecimento apropriador afastaria completamente desse acontecimento, uma vez que ela fala do acontecimento apropriador como um objeto, ao invés de deixar que essa essenciação mesma e apenas ela fale, para que o pensar permaneça um pensar do seer, que não enuncia algo sobre o seer, mas fala em meio a um dizer, que pertence ao re-dito e que alija de si todas as objetivações e falsificações em algo situativo (ou “fluente”); e isso porque se entraria imediatamente com isso no plano do re-presentar e porque a inabitualidade do GA65 (Casanova): 267
A perdição no ente vivencia-se como capacidade de transformar a “vida” no turbilhão calculável da circulação vazia em torno de si mesma e de tornar essa capacidade crível como “próxima à vida”. GA65 (Casanova): 274
Mas e se nós buscássemos a salvação em meio a um caminho de volta à intuição goethiana da natureza e, então, transformássemos mesmo a “terra” e a “vida” em teoria? E se o revolvimento no irracional começar e, então, com maior razão, tudo se mantiver como era até aqui, sim, se o que se tinha até aqui for, então, completamente ratificado sem restrição? Isso ainda está por vir, pois sem isso a Modernidade não alcançaria sua consumação. GA65 (Casanova): 275