Primordialmente só é importante uma única coisa: A ideia do definir, a lógica da apreensão do objeto (Logik des Gegenstanderfassens), a conceitualidade do objeto (Begrifflichkeit des Gegenstandes) na respectiva determinidade definitória devem ser hauridas do modo como o objeto se torna acessível originariamente. Tornam-se decisivas também para a definição a situação da vida (Situation des Lebens) em que o objeto é experienciado e, ademais, a intenção fundamental na qual o experimentar (Erfahrung) a ele se dirige de antemão (no modo “adequado” ao sentido da situação e à propensão antecipadora da apreensão (concepção prévia (Vorgriff)) ).
Aqui, suspende-se a ideia de definição da lógica “formal”; e isso porque essa ideia de definição e a lógica “formal” de modo algum são “formais”, mas surgem essencialmente sempre de uma regionalidade material do objeto (materialen Gegenstandregion) (cousas, viventes, elementos significativos) e de sua problemática “lógica”, que orienta sua propensão de apreensão cognitiva determinada (kenntnismäßiger Erfassungstendenz) (um coletar ordenador1.
A propensão ao erro (Fehltendenz), portanto, encontra-se no fato de que, em relação ao objeto e à possibilidade de tê-lo, (29) atribui-se uma norma de determinação de maneira acrítica, ou, seguindo o uso tradicional, lança-se mão dos mesmos sempre de novo e como algo óbvio; essa norma de definição também desvirtua de antemão a propensão de apreensão. Esse emprego inadvertido da norma de definição, o impensado escorregar para dentro da propensão de apreensão que assim se dá, toma-se possível pela falta de experiência fundamental, onde o filosofar vem “à fala”; e considera-se que essa falta é suprida quando reunimos uma multiplicidade de opiniões e sentenças em relação ao que se deve chamar de filosofia, opiniões e sentenças que acabamos escolhendo segundo o costume, o gosto, a necessidade premente, a comodidade e a moda.
A falta de experiência fundamental plena, ou seja, daquela experiência que apreende também a explicitação imanente da tarefa, reprime uma problemática radical da lógica, de tal modo que, propriamente desde o tempo após Aristóteles, a filosofia não mais compreendeu o problema da verdadeira lógica. E precisamente Kant, que pretendeu afirmar que a lógica não teria dado nenhum passo à frente nem para trás desde Aristóteles, ao compreender a lógica num sentido estrito (lógica escolar) acabou enredando-se na lógica pseudoaristotélica, de maneira mais decisiva do que ele poderia suspeitar.
(HEIDEGGER, Martin. Interpretações fenomenológicas sobre Aristóteles. Introdução à pesquisa fenomenológica. Tr. Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 28-29)
ordnendes Sammeln ↩