Conceber o ente segundo o seu caráter fundamental como vontade não é nenhuma visão de pensadores singulares, mas uma necessidade da história do ser-aí que eles fundamentam. GA6MAC I
A única coisa que nos diz respeito é o rastro que aquele curso de pensamento até a vontade de poder deixou na história do ser, o que significa, nas regiões ainda virgens das decisões futuras. GA6MAC III
O pensamento nietzschiano da vontade de poder pensa de tal modo o ente na totalidade que o fundamento metafísico da história da época atual e futura se torna visível e ao mesmo tempo determinante por meio daí. GA6MAC III
Incontornável é o que o pensamento nietzschiano da vontade de poder possui enquanto o fundamento histórico do que aconteceu sob a figura da modernidade no interior da história ocidental. GA6MAC III
Se a vontade de poder é o caráter fundamental de todos os entes, ele precisa ser “alcançado”, na medida em que se pensa esse pensamento, em todas as regiões do ente: na natureza, na arte, na história, na política, na ciência e no conhecimento em geral. GA6MAC III
A determinação da conexão entre o eterno retorno do mesmo e a vontade de poder exige os seguintes passos: 1) O pensamento do eterno retorno do mesmo pensa antecipadamente o pensamento fundamental da vontade de poder em termos de história da metafísica, ou seja, em seu acabamento. GA6MAC IV
O fato de os dois pensamentos pensarem o mesmo – a vontade de poder em termos modernos, o eterno retorno do mesmo em termos da história do fim torna-se visível quando nos aproximamos de uma meditação sobre o projeto diretriz de toda metafísica. GA6MAC IV
De antemão, o eterno retorno do mesmo e a vontade de poder são concebidos como determinações fundamentais do ente na totalidade e enquanto tal, e, em verdade, a vontade de poder como a cunhagem do o-que-ser (quididade) intrínseca ao fim da história e o eterno retorno do mesmo como a cunhagem do que-ser (quodidade). GA6MAC IV
No entanto, como se chega a essa interpretação do ente, se é que ela não surge como uma opinião arbitrária e violenta apenas na cabeça do excêntrico senhor Nietzsche? Como se chega ao projeto do mundo como vontade de poder, supondo que Nietzsche não faça outra coisa em uma tal interpretação do mundo senão dizer aquilo para o que impele uma longa história do Ocidente, sobretudo a história da modernidade, em seu curso mais velado? O que se essencializa e vigora na metafísica ocidental, para que ela se torne por fim uma metafísica da vontade de poder? Perguntando assim, saímos daquilo que não passa aparentemente de um mero relato e de uma mera elucidação e nos movemos para uma “con-frontação” com a metafísica nietzschiana. GA6MAC V
Por fim, se o fundamento para a concepção nietzschiana de toda a metafísica, a interpretação do ente na totalidade enquanto vontade de poder, se movimenta inteiramente na via do pensamento metafísico até aqui e consuma o pensamento fundamental dessa metafísica, então a “imagem” nietzschiana da “história” estaria em todos os aspectos justificada e se comprovaria como a unicamente possível e necessária. GA6MAC V
Dessas reflexões resulta uma coisa: a referência ao fato de Nietzsche reprojetar interpretativamente a sua própria posição metafísica fundamental – a vontade de poder enquanto o caráter fundamental do ente, a instauração de valores, a origem da instauração de valores a partir da vontade de poder – para o interior da história da metafísica até aqui não pode ser usada como uma objeção barata para imputar a Nietzsche uma transfiguração da imagem da história, ou mesmo para rejeitar a legitimidade do pensamento valorativo. GA6MAC V
Se tentarmos demonstrar agora, porém, que a metafísica anterior a Nietzsche não interpretou o ente enquanto vontade de poder e que o pensamento valorativo lhe era, por conseguinte, estranho, então essa pretensão está sujeita à mesma objeção que foi apresentada contra a interpretação nietzschiana da história. GA6MAC V
A única razão para as exposições inadequadas da doutrina nietzschiana do além-do-homem é o fato de não se ter conseguido levar a sério até aqui a filosofia da vontade de poder enquanto metafísica e conceber metafisicamente as doutrinas do niilismo, do além-do-homem e, antes de tudo, a doutrina do eterno retorno do mesmo como elementos constituintes necessários, o que significa, porém, pensá-las a partir da história e da essência da metafísica ocidental. GA6MAC V
Ao contrário, no sentido moderno corretamente compreendido, isto é, como vontade de poder, o “poder” só se torna essencialmente possível como história moderna. GA6MAC V
Para o pensador da vontade de poder, a única coisa essencial dentre os gregos é o pensador histórico Tucídides, que pensou a história da guerra do Peloponeso; é por isso que se diz na passagem citada, uma passagem que contém concomitantemente as mais incisivas palavras de Nietzsche contra Platão: “a minha cura de todo platonismo foi incessantemente Tucídides. GA6MAC V
Como se chega ao projeto do ser como vontade de poder? Posto que todo projeto do ser é um projeto jogado, de modo que o ser conforma o elemento essencializante de sua verdade, a resposta à questão levantada equivale à experiência da história maximamente velada do ser. GA6MAC V
O pensamento nietzschiano precisou saltar muito mais para o interior da metafísica porque o ser trouxe à tona a própria essência como vontade de poder, como aquilo que, por meio do projeto, precisou ser concebido na história da verdade do ente enquanto vontade de poder. GA6MAC V
Pensado em termos “clássicos”, o “niilismo” é, ao mesmo tempo, o título para a essência histórica da metafísica, na medida em que a verdade sobre o ente enquanto tal na totalidade se consuma na metafísica da vontade de poder e em que essa história se interpreta por meio dessa metafísica. GA6MAC VI
Como a vontade de poder enquanto o princípio da transvaloração deixa a história surgir com o traço fundamental do niilismo clássico, a humanidade dessa história também precisa se ratificar aí ante si mesma. GA6MAC VI
A vontade de superar o niilismo desconhece a si mesma porque exclui a si mesma da manifestabilidade da essência do niilismo como a história da permanência de fora do ser, sem que possa saber algo sobre essa exclusão. GA6MAC VIII