GA6 – vontade e ente

Como o nome para o caráter fundamental de todo ente, a expressão “vontade de poder” dá uma resposta à pergunta sobre o que é afinal o ente. GA6MAC I

É por isso que a denominação “vontade de poder” precisa ser estabelecida como o título da obra filosófica capital de um pensador que diz: todo ente é, no fundo, vontade de poder. GA6MAC I

Mas também precisamos atentar ao mesmo tempo para o fato de que, como Nietzsche vê a essência da festa, ele só pode pensá-la a partir de sua concepção fundamental de todo ente, a partir da vontade de poder. “ GA6MAC I

A expressão “vontade de poder” denomina o caráter fundamental do ente; todo ente que é, na medida em que é, é: vontade de poder. GA6MAC I

Nós ouvimos: o caráter fundamental do ente é vontade de poder, querer e, portanto, devir. GA6MAC I

Se inserirmos a vontade de poder nietzschiana, isto é, a sua pergunta sobre o ser do ente, na perspectiva da pergunta relativa a “ser e tempo”, então isso certamente não significará que a obra de Nietzsche está ligada a uma obra com o título Ser e tempo, e que ela é interpretada e medida segundo o que se encontra nesse livro. GA6MAC I

Com certeza, porém,a conexão entre o eterno retorno como a determinação mais elevada do ser e a vontade de poder como o caráter fundamental de todo ente não está dada em nossas mãos. GA6MAC I

Pois para o próprio Nietzsche também foi preciso direcionar, inicialmente, seu empenho decisivo para tornar visível, ao menos uma vez, através do todo do ente, seu caráter fundamental como vontade de poder. GA6MAC I

Ao contrário, se Nietzsche foi realmente o pensador que estamos convictos de que ele é, então é preciso que a demonstração da vontade de poder tenha girado constantemente em torno do pensamento do ser do ente, o que significa para ele: que ela tenha girado constantemente em torno do eterno retorno do mesmo. GA6MAC I

A posição fundamental de Nietzsche pode ser determinada por meio de duas sentenças: O caráter fundamental do ente como tal é “a vontade de poder”. GA6MAC I

Como temos de compreender essa nova instauração de valores? Dissemos de maneira antecipadora: a vontade de poder denomina o caráter fundamental de todo ente; ela visa àquilo que perfaz no ente o que o ente propriamente é. GA6MAC I

A demonstração da vontade de poder como o caráter fundamental do ente deve afastar a mentira em meio à experiência e à interpretação do ente. GA6MAC I

Se o ente é concebido como vontade de poder, então um dever se torna supérfluo, um dever que precisaria ser primeiramente pendurado sobre o ente, para que o ente se medisse por ele. GA6MAC I

Exibir o princípio da nova instauração de valores significa, por isso, inicialmente, comprovar a vontade de poder como caráter fundamental do ente por meio de todos os seus âmbitos e esferas. GA6MAC I

É de grande importância para uma tomada de posição em relação à interpretação nietzschiana do ente como vontade de poder saber que Nietzsche via desde o princípio o ente como um todo em meio às perspectivas das disciplinas tradicionais da filosofia escolar. GA6MAC I

Levaremos a cabo essa consideração por meio de duas perguntas: 1) O que Nietzsche tem em vista com essa expressão? 2) Por que não deve causar espanto o fato de o caráter fundamental do ente ser determinado como vontade? Comecemos com a pergunta citada por último: a concepção do ser de todo ente como vontade acha-se na linha da melhor e maior tradição da filosofia alemã. GA6MAC I

Conceber o ente segundo o seu caráter fundamental como vontade não é nenhuma visão de pensadores singulares, mas uma necessidade da história do ser-aí que eles fundamentam. GA6MAC I

Assim, pois, a vontade como o caráter corrente de todo ente não fornece nenhuma referência a um ponto desde onde se poderia derivar o seu conceito como um tal conceito do ser. GA6MAC I

Se para Nietzsche a vontade determina o ser de todo e qualquer ente, então não é a vontade que é algo psíquico, mas a alma (a psique) que é algo volitivo. GA6MAC I

É estranho que o pensador, para o qual o caráter fundamental de todo ente é a vontade, profira tal sentença: “não há nenhuma vontade”. GA6MAC I

Já sabemos agora – ao menos aproximadamente – que o que está em jogo em meio à pergunta sobre a vontade de poder é a pergunta sobre o ser do ente, sobre o que não é mais determinável a partir de um outro ente porque ele mesmo determina esses entes. GA6MAC I

A vontade é, como dissemos, de-cisão na qual o que quer se expõe da maneira mais ampla possível ao ente, a fim de mantê-lo na esfera de seu comportamento. GA6MAC I

Se é verdade que a vontade de poder é o caráter fundamental de todo ente e se Nietzsche determina agora a vontade como um sentimento paralelo de prazer, então essas duas concepções da vontade não são sem mais compatíveis. GA6MAC I

Aquilo que o conceito de “vontade” – como o caráter fundamental do ente – deve conceber aqui, o ser, ainda não está, contudo, suficientemente próximo de nós – ou melhor: nós não estamos ainda suficientemente próximos dele. GA6MAC I

Se levarmos em conta o que a palavra “vontade” deve denominar – a essência do ente mesmo –, então se torna compreensível o quão impotente precisa permanecer uma palavra tão isolada, mesmo se lhe é dada simultaneamente uma definição. GA6MAC I

Por mais decididamente que a interpretação do ser como vontade de poder permaneça própria a Nietzsche e por menos que ele soubesse expressamente em que contexto histórico se encontrava também o conceito de poder como determinação do ser, Nietzsche certamente entra com essa interpretação do ser do ente no círculo mais íntimo e mais amplo do pensamento ocidental. GA6MAC I

Se a vontade de poder determina então, efetivamente, o ente como tal, isto é, se ela o determina em sua verdade, então precisa-se inserir constantemente no contexto da interpretação do ente como vontade de poder a pergunta sobre a verdade, ou seja, a pergunta sobre a essência da verdade. GA6MAC I

Como se trata da elucidação da vontade de poder como caráter fundamental do ente, essa tarefa precisa ser estabelecida lá onde o questionável se mostra da maneira mais clara possível; pois toda clarificação precisa partir de algo claro e se encaminhar para o obscuro, nunca o contrário. GA6MAC I

Afirmar que o acontecimento fundamental do ente é a “arte” não diz outra coisa senão: a arte é vontade de poder. GA6MAC I

Muito antes de conceber expressamente a essência da arte como figura da vontade de poder, já em seu primeiro escrito (O nascimento da tragédia a partir do espírito da música), Nietzsche vê a arte como o caráter fundamental do ente. GA6MAC I

Perguntamos: 1) O que essa concepção da arte empreende para a determinação essencial da vontade de poder e, com isso, do ente na totalidade? Só podemos saber isso se antes perguntarmos: 2) O que significa essa interpretação da arte para o saber acerca da arte e para a posição em relação a ela? Começaremos com a segunda pergunta. GA6MAC I

Nosso intuito propriamente dito aponta para a tentativa de conceber a arte como uma figura, como a figura insigne da vontade de poder; isso quer dizer: ele aponta para a tentativa de apreender a vontade de poder em sua essência a partir da concepção nietzschiana da arte e por meio dela, e, assim, o ente na totalidade em vista de seu caráter fundamental. GA6MAC I

Só se deve avaliar a arte segundo o que ela é em sua realidade essencial; somente segundo essa sua realidade ela deve ser concebida como uma figura do ente, ou seja, como uma figura da vontade de poder. GA6MAC I

Segundo a aparência mais imediata, o pensamento nietzschiano sobre a arte é estético; segundo a sua vontade mais intrínseca, ele é metafísico, isto é, uma determinação do ser do ente. GA6MAC I

A pergunta sobre o que se tornou criativo em uma arte e sobre o que quer se tornar criativo nela não é outra coisa senão a pergunta: O que se mostra como propriamente estimulante no elemento estimulante? Que possibilidades há aqui? Como se determina a partir daí a configuração da arte? Em que medida a arte é um despertar do ente como um ente? Até que ponto ela é vontade de poder? Como e onde Nietzsche pensa a pergunta sobre o que há de propriamente criativo na arte? Nas reflexões que buscam conceber mais originariamente a diferença e a contradição entre o clássico e o romântico (A vontade de poder, n 843 até n 850). GA6MAC I

criativo em uma arte e sobre o que quer se tornar criativo nela não é outra coisa senão a pergunta: O que se mostra como propriamente estimulante no elemento estimulante? Que possibilidades há aqui? Como se determina a partir daí a configuração da arte? Em que medida a arte é um despertar do ente como um ente? Até que ponto ela é vontade de poder? Como e onde Nietzsche pensa a pergunta sobre o que há de propriamente criativo na arte? Nas reflexões que buscam conceber mais originariamente a diferença e a contradição entre o clássico e o romântico (A vontade de poder, n 843 até n 850). GA6MAC I

Nietzsche interpreta o ser do ente como vontade de poder. GA6MAC I

Em meio a essa inversão do platonismo, que é evocada e dirigida pela vontade de superação do niilismo, é mantida como autoevidente uma convicção comum ao platonismo: a convicção de que a verdade, isto é, o verdadeiramente ente, precisa ser assegurado sobre o caminho do conhecimento. GA6MAC I

Nietzsche determina o caráter fundamental do ente, ou seja, o ser, como vontade de poder. GA6MAC I

No entanto, como o caráter fundamental do ente, como a essência da realidade, a vontade de poder é, em si, aquele ser que quer a si mesmo, na medida em que quer ser o devir. GA6MAC I

Com Zaratustra começa “A era trágica” (A vontade de poder, n 37); o saber trágico sabe que a “vida mesma”, o ente na totalidade, condiciona “a tortura, a destruição”, o sofrimento, que nada disso é uma “objeção contra essa vida” (n 1052). GA6MAC II

O trágico no sentido nietzschiano não tem nada em comum com o mero turvamento produzido por um pessimismo autodestrutivo, mas também não se confunde com o delírio cego de um otimismo perdido no mero desejo; o trágico no sentido de Nietzsche está afastado dessa contradição, e isso já pelo fato de ser uma posição da vontade e, com isso, do saber em relação ao ente na totalidade cuja lei fundamental reside na luta como tal. GA6MAC II

Em termos principiais, é preciso dizer da representação nietzschiana do caos o seguinte: só um pensamento dotado de baixa capacidade respiratória deduzirá a partir da leitura dessa vontade de desdivinização do ente a vontade de ateização. GA6MAC II

Somente por isso é que é possível para Nietzsche se ver impelido diretamente de uma tal aspiração para o interior do seu oposto aparentemente incongruente, na medida em que ele requisita, na doutrina da vontade de poder, a suprema humanização do ente. GA6MAC II

Ele se decidiu em verdade pelas duas, tanto pela vontade de desumanização do ente na totalidade quanto pela vontade de levar a sério o fato de o homem estar preso a um canto. GA6MAC II

Em meio a esse cálculo não levamos mais em consideração o fato de nós, enquanto um si próprio temporal entregue à responsabilidade por si mesmo, estarmos entregues à responsabilidade do futuro em nossa vontade e de só a temporalidade do ser humano determinar o modo como o homem afinal se encontra nesse anel do ente. GA6MAC II

Todavia, já em 1884, quando, ao que tudo indica, ficou completamente claro para Nietzsche o fato de a vontade de poder ser o caráter corrente de todo ente, uma importante referência à conexão do eterno retorno com a vontade de poder aparece em um plano de n 2. GA6MAC II

Todavia, a partir das alusões que faz e da direção conjunta de seu pensamento, podemos claramente mostrar que ele tem em vista a vontade de poder como a constituição corrente de todo ente. GA6MAC II

Por conseguinte, resta apenas a pergunta: Como se relacionam a vontade de poder como a constituição corrente do ente e o eterno retorno do mesmo como o modo de ser do ente na totalidade? O que significa o fato de Nietzsche estipular a vontade de poder como “pressuposto” para o eterno retorno do mesmo? Como ele compreende aqui o termo “pressuposto”? Nietzsche chegou a estabelecer um conceito claro e bem fundamentado dessa relação aqui vigente? De fato, ele não chegou a ter nenhuma intelecção clara, e, sobretudo, não alcançou nenhuma intelecção conceitual da relação que já citamos, mas que ainda não examinamos. GA6MAC II

2) Porquanto o eterno retorno só é possível se a constituição da vontade de poder for própria ao ente como tal. GA6MAC II

Em todo caso, a reelaboração mencionada mostra que a vontade de poder e o eterno retorno do mesmo se compertencem; se as coisas não fossem assim, com que direito se poderia substituir um termo pelo outro? Mas, e se a vontade de poder no sentido mais próprio e intrínseco a Nietzsche não fosse em si mesma outra coisa senão o querer para trás o que foi e o querer para a frente o que precisa ser? E se o eterno retorno do mesmo como acontecimento não fosse outra coisa senão vontade de poder, do modo em verdade como Nietzsche compreende esse termo e não como um ponto de vista “político” qualquer dispõe dele em função de seus próprios propósitos? Nesse caso, a caracterização do ente como vontade de poder seria apenas o desdobramento do projeto original e primário do ente enquanto GA6MAC II

Em todo caso, a reelaboração mencionada mostra que a vontade de poder e o eterno retorno do mesmo se compertencem; se as coisas não fossem assim, com que direito se poderia substituir um termo pelo outro? Mas, e se a vontade de poder no sentido mais próprio e intrínseco a Nietzsche não fosse em si mesma outra coisa senão o querer para trás o que foi e o querer para a frente o que precisa ser? E se o eterno retorno do mesmo como acontecimento não fosse outra coisa senão vontade de poder, do modo em verdade como Nietzsche compreende esse termo e não como um ponto de vista “político” qualquer dispõe dele em função de seus próprios propósitos? Nesse caso, a caracterização do ente como vontade de poder seria apenas o desdobramento do projeto original e primário do ente enquanto eterno retorno do mesmo. GA6MAC II

com que direito se poderia substituir um termo pelo outro? Mas, e se a vontade de poder no sentido mais próprio e intrínseco a Nietzsche não fosse em si mesma outra coisa senão o querer para trás o que foi e o querer para a frente o que precisa ser? E se o eterno retorno do mesmo como acontecimento não fosse outra coisa senão vontade de poder, do modo em verdade como Nietzsche compreende esse termo e não como um ponto de vista “político” qualquer dispõe dele em função de seus próprios propósitos? Nesse caso, a caracterização do ente como vontade de poder seria apenas o desdobramento do projeto original e primário do ente enquanto eterno retorno do mesmo. GA6MAC II

Mas, mesmo se essa copertinência essencial entre a vontade de poder e o eterno retorno do mesmo vier à luz, não nos encontraremos aqui senão no começo da concepção filosófica; pois logo emerge a pergunta sobre o que afinal é pensado aí e como ele é pensado, uma vez que o ente como tal na totalidade aparece diante do pensamento no sentido do eterno retorno do mesmo e da vontade de poder, assim como de sua copertinência. GA6MAC II

Agora sabemos: Nietzsche dá duas respostas no que diz respeito ao ente na totalidade: o ente na totalidade é vontade de poder e o ente na totalidade é eterno retorno do mesmo. GA6MAC II

Em contrapartida, se abordarmos o problema a partir da questão diretriz desdobrada, então se mostrará o seguinte: nessas duas sentenças centrais – “o ente na totalidade é vontade de poder” e “o ente na totalidade é eterno retorno do mesmo” –, o “é” designa a cada vez uma coisa diversa. GA6MAC II

O ente na totalidade “é” vontade de poder significa: o ente como tal tem a constituição do que Nietzsche determina como vontade de poder. GA6MAC II

A determinação “vontade de poder” dá uma resposta à pergunta sobre o ente em vista de sua constituição; a determinação “eterno retorno do mesmo” dá uma resposta à pergunta sobre o ente em vista de seu modo de ser. GA6MAC II

Dessa forma, não é desde o princípio senão um equívoco, ou melhor, uma incompreensão metafísica, quando comentadores tentam jogar a vontade de poder contra o eterno retorno do mesmo e excluir este último pensamento da determinação metafísica do ente. GA6MAC II

A “recapitulação” começa com a seguinte sentença: “Cunhar sobre o devir o caráter do ser – essa é a mais elevada vontade de poder!’ Isso não significa: afastar e substituir o ente como o inconstante – pois inconstância é o que é implicado pelo devir – pelo ente como o constante; significa: transformar o devir em ente de tal modo que ele retenha como o que devêm e possua consistência, isto é, seja. GA6MAC II

A cunhagem, a reconversão do deveniente em ente é a mais elevada vontade de poder. GA6MAC II

A reconversão do deveniente em ente – a vontade de poder em sua figura mais elevada –, é em sua essência mais profunda, instantaneidade, isto é, eterno retorno do mesmo. GA6MAC II

A vontade de poder como a constituição do ente é apenas como ela é em razão do modo de ser em vista do qual Nietzsche projeta o ente na totalidade: “Segundo a sua possibilidade interna e em essência, a vontade de poder é eterno retorno do mesmo.” GA6MAC II

No sentido dado pelo pensador Nietzsche, o nome mítico Dionísio só se torna um nome transpassado inteiramente pelo pensamento quando tentamos pensar a copertinência entre “vontade de poder” e “eterno retorno do mesmo”, isto é, quando procuramos por aquelas determinações ontológicas que dirigem desde o início do pensamento grego todo pensar sobre o ente como tal na totalidade. – ( GA6MAC II

Amor fati é a vontade transfiguradora da pertinência ao que há de mais ôntico no ente. GA6MAC II

O pensamento nietzschiano da vontade de poder pensa de tal modo o ente na totalidade que o fundamento metafísico da história da época atual e futura se torna visível e ao mesmo tempo determinante por meio daí. GA6MAC III

Os dois – vontade de poder e eterno retorno do mesmo – dizem o mesmo e pensam o mesmo caráter fundamental do ente na totalidade. GA6MAC III

Diz-se que a profusão do material, a multiplicidade e a extensão dos domínios particulares no interior dos quais se poderia comprovar a vontade de poder como o caráter fundamental do ente não tinham mais como ser homogeneamente dominadas por um único pensador. GA6MAC III

Ora, mas se o princípio da nova instauração de valores é a vontade de poder, então isso não diz senão que a vida, isto é, o ente na totalidade, é em sua essência fundamental e em seu próprio fundamento essencial vontade de poder – e nada além disso. GA6MAC III

No pensamento único da vontade de poder, Nietzsche pensa o caráter fundamental do ente na totalidade. GA6MAC III

A sentença de sua metafísica, isto é, a sentença própria à determinação do ente na totalidade, diz: a vida é vontade de poder. GA6MAC III

Algo duplo e ao mesmo tempo singular vem à tona com essa sentença: 1) o ente na totalidade é “vida”; 2) a essência da vida é “vontade de poder”. GA6MAC III

A sentença nietzschiana “o ente na totalidade é vontade de poder” enuncia sobre o ente na totalidade aquilo que no começo do pensamento ocidental está predeterminado como possibilidade e que se tornou de maneira incontornável um declínio inevitável desse começo. GA6MAC III

O ente na totalidade é vontade de poder. GA6MAC III

Se a vontade de poder é o caráter fundamental de todos os entes, ele precisa ser “alcançado”, na medida em que se pensa esse pensamento, em todas as regiões do ente: na natureza, na arte, na história, na política, na ciência e no conhecimento em geral. GA6MAC III

Porquanto é um ente, tudo isso precisa ser vontade de poder. GA6MAC III

O que é então? Nós o saberemos ao concebermos a vontade de poder, isto é, ao estarmos em condição não apenas de construir para nós uma representação do que essa expressão significa, mas também de compreendê-la: vontade de poder – uma dominação peculiar do ser “sobre” o ente na totalidade (sob a figura velada do ente abandonado pelo ser). GA6MAC III

Mas por que afinal um modo de pensar metafísico não deveria ser biologista? Onde se acha escrito que aí se propaga um erro? Um pensamento que concebe todo ente como um vivente e como um fenômeno vital não se acha antes maximamente próximo do que é realmente real, e, com isso, não é o mais verdadeiro de todos? “Vida” – não ressoa para nós nessa palavra o que propriamente compreendemos por “ser”? Nietzsche mesmo observou uma vez (A vontade de poder, n 582; 1885-1886): “O ‘ser’ – não temos nenhuma outra representação dele senão ‘viver. – GA6MAC III

Pois somente em uma lúcida visualização dessas conexões e de sua necessidade desencobre-se a essência da verdade e do conhecimento como uma figura da vontade de poder e a própria vontade de poder como o caráter fundamental do ente na totalidade. GA6MAC III

Esse caos, a totalidade do ente, possui o caráter fundamental da vontade de poder. GA6MAC III

Apesar de seus esforços frequentemente parecerem dizer o contrário, Nietzsche não demonstra o fato de que “a essência mais íntima do ser é vontade de poder” por meio de uma conclusão levada a cabo sobre a base de um exame indutivo de todas as regiões do ente. GA6MAC III

Algo assim como a sentença: por toda parte, o ente é em seu ser vontade de poder. GA6MAC III

Ao contrário, Nietzsche pensa, antes de mais nada, muito mais como pensador e constantemente a partir do projeto do ente na totalidade em vista de seu ser como vontade de poder. GA6MAC III

Se a justiça é a “suprema representante da própria vida” e se a vontade de poder se torna propriamente manifesta na vida humana, então a extensão da justiça ao estado de poder fundamental do ente em geral e a interpretação integral do ente na totalidade como vontade de poder não se transforma em uma antropomorfização de todo ente? O mundo não é pensado segundo a imagem do homem? Tal pensamento não é um puro antropomorfismo? Com certeza – ele é o antropomorfismo do “grande estilo” que possui um sentido para o que é raro e dura muito tempo. GA6MAC III

Ora, mas não ouvimos sempre uma vez mais que, para Nietzsche, a essência do ente na totalidade é caos, ou seja, o “devir” e precisamente não um “ser” no sentido do fixo e do constante, que ele pensa como o não verdadeiro e o irreal? O ser é cerceado em favor do devir, cujo caráter de devir e de movimento se determina como vontade de poder. GA6MAC III

O pensamento fundamental de Nietzsche, “a vontade de poder”, ainda contém, em verdade, uma indicação da interpretação da entidade do ente na totalidade como vontade. GA6MAC IV

Pensar o ser, a entidade do ente, enquanto vontade de poder significa: conceber o ser como a liberação do poder em sua essência, de tal modo que o poder, vigorando incondicionadamente, estabelece o ente como o objetivamente efetivo no primado exclusivo contra o ser e faz com que o ser caia em esquecimento. GA6MAC IV

Ao contrário, Nietzsche pensa a sua interpretação do ser do ente como vontade de poder na unidade essencial com aquela determinação do ser que despontou na expressão “eterno retorno do mesmo”. GA6MAC IV

Se a vontade de poder é o caráter essencial da entidade do ente, então ela precisa pensar o mesmo que o eterno retorno do mesmo pensa. GA6MAC IV

De antemão, o eterno retorno do mesmo e a vontade de poder são concebidos como determinações fundamentais do ente na totalidade e enquanto tal, e, em verdade, a vontade de poder como a cunhagem do o-que-ser (quididade) intrínseca ao fim da história e o eterno retorno do mesmo como a cunhagem do que-ser (quodidade). GA6MAC IV

É de se espantar que a distinção entre o o-que-é e o fato-de-que-é reapareça ainda uma vez na consumação da metafísica ocidental com um extremo aguçamento, mas que isso se dê ao mesmo tempo de um tal modo que a distinção é esquecida enquanto essa distinção e as duas determinações fundamentais do ente na totalidade – a vontade de poder e o eterno retorno do mesmo – são ditas metafisicamente de uma maneira por assim dizer desprovida de terra natal, que as torna, porém, incondicionadas? A vontade de poder diz o que o ente “é”, ou seja, aquilo como o que ele vigora (como poder). GA6MAC IV

Em termos da metafísica do fim da história, o pensamento do eterno retorno do mesmo exprime a mesma coisa que a vontade de poder enquanto o caráter fundamental da entidade do ente diz em termos da consumação da modernidade. GA6MAC IV

Nietzsche reconhece e coloca como o caráter fundamental do ente na totalidade aquilo que ele denomina “vontade de poder”. GA6MAC V

“Vontade de poder” é, em suma, o nome para o caráter fundamental do ente e para a essência do poder. GA6MAC V

O fato de Nietzsche conceber o caráter fundamental do ente como vontade de poder não é nem invenção nem uma posição arbitrária de um fantasista que se extraviou do caminho para ir à caça de quimeras. GA6MAC V

Todo ente é, porquanto ele é e porquanto é tal como é: “vontade de poder”. GA6MAC V

Se todo ente é vontade de poder, então somente aquilo que preenche o poder em sua essência “possui” valor e “é” um valor. GA6MAC V

Nisto reside o seguinte: a vontade de poder enquanto o princípio da nova instauração de valores não tolera nenhuma outra meta estabelecida fora do ente na totalidade. GA6MAC V

No entanto, uma vez que todo ente enquanto vontade de poder, isto é, enquanto o superpotencializar-se que nunca se extingue, precisa ser um constante “devir”, esse “devir” jamais pode se movimentar “progressivamente” para uma “meta” fora de si mesmo, mas, encerrado no círculo da elevação de poder, precisa retornar a essa elevação; o ente na totalidade enquanto esse devir conforme ao poder também precisa retornar ele mesmo sempre uma vez mais e trazer de volta o mesmo. GA6MAC V

O caráter fundamental do ente enquanto vontade de poder determina-se, com isso, ao mesmo tempo como “eterno retorno do mesmo”. GA6MAC V

Assim, ainda denominamos um outro termo central da metafísica de Nietzsche e indicamos, além disso, algo essencial: é somente a partir da essência suficientemente concebida da vontade de poder que se torna compreensível por que o ser do ente na totalidade precisa ser eterno retorno do mesmo; e, inversamente: é somente a partir da essência do eterno retorno do mesmo que é possível apreender o cerne essencial mais íntimo da vontade de poder e a sua necessidade. GA6MAC V

O termo “vontade de poder” diz o que o ente é segundo a sua “essência” (constituição). GA6MAC V

Mas por meio de que homem então? Com o niilismo, isto é, com a transvaloração de todos os valores até aqui em meio ao ente enquanto vontade de poder e em face do eterno retorno do mesmo, torna-se necessário um novo estabelecimento da essência do homem. GA6MAC V

O niilismo clássico, que experimenta enquanto a transvaloração de todos os valores o ente enquanto vontade de poder e que pode admitir o eterno retorno do mesmo como a única meta, precisa criar o próprio homem para “além” de si e criar como medida a figura do “além-do-homem”. GA6MAC V

Ao contrário, ele é aquela figura extremamente inequívoca da humanidade que em algum grau se coloca no poder em todo homem e que lhe empresta por meio daí o pertencimento ao ente na totalidade, isto é, à vontade de poder, mostrando-o como sendo um “ente” verdadeiro, próximo da realidade e da “vida”. GA6MAC V

Na medida em que a vontade de poder constitui o caráter fundamental de todo ente, mas a verdade sobre o ente enquanto tal na totalidade chama-se metafísica, a “psicologia” de Nietzsche significa o mesmo que metafísica pura e simples. GA6MAC V

Esse modo determina-se a partir do caráter fundamental do ente como vontade de poder. GA6MAC V

Mas, como a instauração de valores tem o seu princípio na vontade de poder, a superação do niilismo desenvolve-se por meio de sua consumação no niilismo clássico e se torna uma interpretação do ente na totalidade como vontade de poder. GA6MAC V

A metafísica de Nietzsche é, por um lado, uma metafísica que possui enquanto verdade sobre o ente na totalidade a vontade de poder como o seu “objeto”, uma vez que essa perfaz o caráter conjunto do ente na totalidade. GA6MAC V

No entanto, como o caráter fundamental do ente na totalidade, a vontade de poder é, ao mesmo tempo, a determinação da essência do homem. GA6MAC V

No entanto, como o niilismo ativo já conhece e reconhece a vontade de poder como o caráter fundamental do ente, o niilismo não é para ele de modo algum um mero “exercício contemplativo” (n 24), nenhum mero não intrínseco ao juízo. GA6MAC V

No entanto, em que essa metafísica possui o seu fundamento histórico essencial? Formulado de outra forma: onde o pensamento valorativo possui a sua origem “metafísica”? Se a metafísica é a verdade sobre o ente na totalidade e, por isso, fala do ser do ente – a partir de que interpretação do ente na totalidade emerge o pensamento valorativo? Nós respondemos: a partir da determinação do ente na totalidade por meio do caráter fundamental da vontade de poder. GA6MAC V

No entanto, como se chega a essa interpretação do ente, se é que ela não surge como uma opinião arbitrária e violenta apenas na cabeça do excêntrico senhor Nietzsche? Como se chega ao projeto do mundo como vontade de poder, supondo que Nietzsche não faça outra coisa em uma tal interpretação do mundo senão dizer aquilo para o que impele uma longa história do Ocidente, sobretudo a história da modernidade, em seu curso mais velado? O que se essencializa e vigora na metafísica ocidental, para que ela se torne por fim uma metafísica da vontade de poder? Perguntando assim, saímos daquilo que não passa aparentemente de um mero relato e de uma mera elucidação e nos movemos para uma “con-frontação” com a metafísica nietzschiana. GA6MAC V

No entanto, na medida em que tudo aquilo que é real é real por meio do caráter fundamental da vontade de poder, a todo ente particular pertence a cada vez uma e sempre a sua “perspectiva”. GA6MAC V

O ente efetivamente real determinado em sua realidade efetiva pela vontade de poder é respectivamente um entrelaçamento de perspectivas e instaurações de valores, uma conformação de um “tipo complexo”; isso, porém, acontece porque a própria vontade de poder é de uma essência complexa. GA6MAC V

Pensada no sentido da metafísica da vontade de poder, a sentença “o ente na totalidade não possui valor algum” é a recusa mais incisiva da crença de que “valores” seriam algo em si, algo estabelecido acima do ente na totalidade e válido para ele. GA6MAC V

O ser, a entidade do ente, é interpretado como vontade de poder. GA6MAC V

Se levarmos em conta, além disso, a comprovação da copertinência originária entre instauração de valores e vontade de poder, então se mostra o seguinte: a interpretação nietzschiana de toda a metafísica a partir do pensamento valorativo enraíza-se na determinação fundamental do ente na totalidade enquanto vontade de poder. GA6MAC V

Nem Hegel nem Kant, nem Leibniz nem Descartes, nem Aristóteles nem Platão, nem Parmênides nem Heráclito conheciam a vontade de poder enquanto o caráter fundamental do ente. GA6MAC V

Por fim, se o fundamento para a concepção nietzschiana de toda a metafísica, a interpretação do ente na totalidade enquanto vontade de poder, se movimenta inteiramente na via do pensamento metafísico até aqui e consuma o pensamento fundamental dessa metafísica, então a “imagem” nietzschiana da “história” estaria em todos os aspectos justificada e se comprovaria como a unicamente possível e necessária. GA6MAC V

Dessas reflexões resulta uma coisa: a referência ao fato de Nietzsche reprojetar interpretativamente a sua própria posição metafísica fundamental – a vontade de poder enquanto o caráter fundamental do ente, a instauração de valores, a origem da instauração de valores a partir da vontade de poder – para o interior da história da metafísica até aqui não pode ser usada como uma objeção barata para imputar a Nietzsche uma transfiguração da imagem da história, ou mesmo para rejeitar a legitimidade do pensamento valorativo. GA6MAC V

É preciso mostrar de maneira comprobatória que o pensamento valorativo era e precisava permanecer estranho à metafísica mais antiga, porque a metafísica mais antiga ainda não estava em condições de conceber o ente enquanto vontade de poder. GA6MAC V

Se vier à tona, com isso, em que medida a interpretação do ente enquanto vontade de poder só se torna possível com base nas posições metafísicas fundamentais modernas, nós alcançaremos, no que diz respeito à origem do pensamento valorativo, a intelecção importante de que Nietzsche ainda não dá, nem pode dar, nenhuma resposta a essa pergunta sobre a origem. GA6MAC V

Mas e a própria vontade de poder – onde emerge o projeto do ente na totalidade que mostra o ente como vontade de poder? É somente com essa questão que podemos pensar as raízes da origem da instauração de valores no interior da metafísica. GA6MAC V

Se tentarmos demonstrar agora, porém, que a metafísica anterior a Nietzsche não interpretou o ente enquanto vontade de poder e que o pensamento valorativo lhe era, por conseguinte, estranho, então essa pretensão está sujeita à mesma objeção que foi apresentada contra a interpretação nietzschiana da história. GA6MAC V

Como se chegou a essa projeção? No sentido da interpretação nietzschiana da história, essa pergunta coloca em questão o seguinte: que figura da vontade de poder estava aqui em obra? Se a “verdade”, isto é, o verdadeiro e o real, é transplantada para o alto e para o além em um mundo em si, então o ente propriamente dito aparece como aquilo a que toda a vida humana precisa se submeter. GA6MAC V

A “ingenuidade” significa o mesmo que “inocência psicológica”; segundo o que foi dito anteriormente, essa expressão significa: não ser tocado por nenhuma contabilização do ente, e, com isso, da vida e de suas condições, em função da vontade de poder. GA6MAC V

Começamos a suspeitar o quão decididamente o pensamento valorativo enquanto contabilização de todo ente segundo o valor fundamental da vontade de poder já tem por sua base essencial o fato de o ente enquanto tal ser efetivamente interpretado segundo o ser humano, e não apenas o fato de a interpretação ser executada “por meio” do homem. GA6MAC V

O que está acontecendo aqui? Nietzsche faz o ego cogito remontar a um ego volo, e interpreta o velle como querer no sentido da vontade de poder, que ele pensa como o caráter fundamental do ente na totalidade. GA6MAC V

É necessária uma demonstração expressa e particular para saber em que medida a interpretação nietzschiana do ente na totalidade enquanto vontade de poder está enraizada na subjetividade supracitada dos impulsos e dos afetos e é ao mesmo tempo essencialmente codeterminada pelo projeto da entidade enquanto re-presentidade. GA6MAC V

Agora sabemos, porém, que Nietzsche concebe os valores como condições de possibilidade da vontade de poder, isto é, do caráter fundamental do ente. GA6MAC V

A vontade de poder é o caráter fundamental do ente na totalidade, o “ser” do ente, e, em verdade, no sentido amplo de que ela admite até mesmo o devir como ser, se é que o devir “não é um nada”. GA6MAC V

Isso acontece lá onde o caráter fundamental do ente se manifesta como vontade de poder. GA6MAC V

Na interpretação platônica da entidade do ente como idea falta todo rastro de uma experiência do ser enquanto “vontade de poder”. GA6MAC V

Será que, em Nietzsche, então, a “vontade de poder” se abate sobre a metafísica como uma interpretação arbitrária do ente na totalidade, sem uma proveniência histórica? Nós nos lembramos, contudo, que o próprio Nietzsche esclarece a sentença de Descartes a partir da vontade de verdade e declara essa vontade como um tipo de vontade de poder. GA6MAC V

O que continua em questão é se, segundo o seu conteúdo essencial, o ser como representidade seria um estágio prévio da vontade de poder que, experimentada como o caráter fundamental do ente, permite pela primeira vez um esclarecimento da certeza como vontade de fixação e dessa fixação como um tipo de vontade de poder. “ GA6MAC V

Assim, parece que encontramos a meada histórica, ao longo da qual podemos comprovar a proveniência histórica do projeto do ente como vontade de poder. GA6MAC V

A obra central de Schopenhauer, O mundo como vontade e representação, juntamente com uma interpretação bastante extrínseca e superficial das filosofias platônica e kantiana, reúne todas as direções fundamentais da interpretação ocidental do ente na totalidade, apesar de tudo ser aí desenraizado e colocado no nível de uma compreensibilidade que tende para o positivismo emergente. GA6MAC V

Não obstante, Nietzsche não retirou o projeto do ente como “vontade” dos “livros” de Schopenhauer. GA6MAC V

O fato de o ser do ente se tornar poderoso como vontade de poder não é a consequência do despontar da metafísica de Nietzsche. GA6MAC V

O pensamento nietzschiano precisou saltar muito mais para o interior da metafísica porque o ser trouxe à tona a própria essência como vontade de poder, como aquilo que, por meio do projeto, precisou ser concebido na história da verdade do ente enquanto vontade de poder. GA6MAC V

Mas também precisamos manter no pensamento o outro elemento, o modo como o ser enquanto vontade de poder emerge da determinação essencial da idea e, por isso, traz em si a distinção entre ser e ente; e isso de um tal modo que a distinção, inquestionada enquanto tal forma a composição estrutural fundamental da metafísica. GA6MAC V

Clarifica-se e solidifica-se o saber de que o caráter fundamental do ente seria a “vontade de poder” e de que toda interpretação do mundo proviria dessa vontade, uma vez que ela possuiria o modo de ser das instaurações de valores. GA6MAC VI

“A vontade de poder” mostra-se como a expressão para o ser do ente enquanto tal, para a essentia do ente. “ GA6MAC VI

Justiça” é a essência da verdade do ente enquanto vontade de poder. GA6MAC VI

Isso quer dizer: a vontade de poder é o caráter fundamental do ente enquanto tal. GA6MAC VI

A verdade desse projeto do ente com vistas ao ser no sentido da vontade de poder possui um caráter metafísico. GA6MAC VI

Ela não tolera nenhuma fundamentação que se reporte ao modo e à constituição do ente a cada vez particular porque esse ente conclamado enquanto tal só é demonstrável se o ente já é projetado de antemão com vistas ao caráter fundamental da vontade de poder enquanto ser. GA6MAC VI

Na linguagem de Nietzsche, devir visa à mobilidade vigente a partir de si mesma da vontade de poder enquanto o caráter fundamental do ente. GA6MAC VI

Como o ser do ente enquanto vontade de poder é em si esse entrelaçamento, as condições da vontade de poder, isto é, os valores, permanecem ligadas a “conformações complexas”. GA6MAC VI

Como o caráter de devir do ente se determina a partir da vontade de poder, “todo acontecimento, todo devir se mostra como uma fixação de relações de grau e de força” (A vontade de poder, n 552). GA6MAC VI

Dessa forma, na medida em que se essencializa como vontade de poder, todo ente é “perspectivístico”. GA6MAC VI

É “o perspectivismo” (isto é, a constituição do ente enquanto instaurador de pontos de vista, enquanto um ver calculador) “que possibilita a todo centro de força – e não apenas ao homem – construir a partir de si todo o resto do mundo, isto é, medi-lo, tateá-lo, configurá-lo a partir de sua força…” (A vontade de poder, he. GA6MAC VI

Desse modo, logo que é expressamente reconhecido na vontade de poder o caráter fundamental do ente enquanto tal e que a vontade de poder ousa declarar a si mesma, torna-se incontornável para um pensamento segundo valores pensar transversalmente o ente enquanto tal em sua verdade, isto é, a verdade enquanto pensamento da vontade de poder. GA6MAC VI

Logo que o ente enquanto tal é experimentado no sentido dessa subjetividade, ou seja, enquanto vontade de poder, toda metafísica enquanto a verdade sobre o ente enquanto tal precisa ser inteiramente considerada como um pensamento valorativo, como instauração de valores. GA6MAC VI

As ideias de Platão não são valores; pois o ser do ente ainda não é projetado como vontade de poder. GA6MAC VI

Onde a vontade de poder ousa se declarar como o caráter fundamental do ente, tudo precisa ser avaliado em função de se intensifica a vontade de poder ou a degrada e obstrui. GA6MAC VI

Como caráter fundamental, a vontade de poder condiciona todo ente em seu ser. GA6MAC VI

Porquanto todo ente em si subsistente é renegado e a vontade de poder é afirmada como origem e medida da criação, o “niilismo poderia ser um modo de pensar divino” (A vontade de poder, n 15). GA6MAC VI

Isso encerra em si o seguinte: o caráter fundamental do ente enquanto tal é a vontade de poder. GA6MAC VI

Pensado em termos “clássicos”, o “niilismo” é, ao mesmo tempo, o título para a essência histórica da metafísica, na medida em que a verdade sobre o ente enquanto tal na totalidade se consuma na metafísica da vontade de poder e em que essa história se interpreta por meio dessa metafísica. GA6MAC VI

No entanto, se o ente enquanto tal é vontade de poder, como se determina, então, para Nietzsche a integralidade do ente na totalidade? No sentido da metafísica instauradora de valores e transvaloradora própria ao niilismo clássico, essa pergunta significa: que valor possui o todo do ente? Esse princípio da metafísica de Nietzsche não significa que a capacidade humana estaria fora de condições de encontrar o valor conjunto que não permaneceria menos velado. GA6MAC VI

Já a busca de um valor conjunto do ente é em si impossível porque o conceito permanece um disparate conceitual; pois valor é essencialmente a condição de conservação e elevação da vontade de poder, uma condição estabelecida e, assim, condicionada por essa vontade. GA6MAC VI

Portanto, vale dizer: “O devir” (isto é, o ente na totalidade) “não possui absolutamente nenhum valor” (A vontade de poder, n 708). GA6MAC VI

Aqui é válido dizer: o ente, que possui enquanto tal o caráter fundamental da vontade de poder, não pode ser na totalidade senão eterno retorno do mesmo. GA6MAC VI

E, inversamente: o ente, que é na totalidade eterno retorno do mesmo, precisa possuir enquanto ente o caráter fundamental da vontade de poder. GA6MAC VI

Por isso, para o ente enquanto vontade de poder, não há nenhuma meta para além de si mesmo, para a qual ele poderia se encaminhar e se dirigir. GA6MAC VI

Enquanto superpotencialização de si mesma, a vontade de poder retorna essencialmente a si mesma e, assim, dá ao ente na totalidade, isto é, ao “devir”, o caráter único da mobilidade. GA6MAC VI

Portanto, o todo do ente, cujo caráter fundamental é vontade de poder, precisa possuir uma grandeza fixa. GA6MAC VI

Quem é visado com o “nós”? Aqueles que pensam o ente como vontade de poder. GA6MAC VI

Quem é que se proíbe aqui pensar a vontade de poder como infinita? Quem é que cai sob a petição de poder de que a vontade de poder e o ente determinado por ela na totalidade sejam finitos? Aqueles que experimentam a sua própria essência como vontade de poder – “e toda e qualquer outra representação permanece indeterminada e, consequentemente, inútil (A vontade de poder, n 1066). GA6MAC VI

Se o ente na totalidade é vontade de poder e, com isso, devir eterno, mas a vontade de poder exige a ausência de metas e exclui o progresso infinito em direção a uma meta em si; se o eterno devir da vontade de poder em suas figuras e em suas configurações de domínio possíveis é ao mesmo tempo limitado porque não pode ser infinitamente de maneira nova, então o ente enquanto vontade de poder na totalidade precisa deixar o mesmo retornar, e o retorno do mesmo precisa ser um retorno eterno. GA6MAC VI

Esse “curso circular” contém a “lei originária” do ente na totalidade, se o ente enquanto tal é vontade de poder. GA6MAC VI

O retornar, chegar e partir do ente que é determinado como eterno retorno, tem por toda parte o caráter da vontade de poder. GA6MAC VI

A “vontade de poder” designa aquilo que o ente enquanto tal é, ou seja, o que ele é em sua constituição. “ GA6MAC VI

Porquanto o eterno retorno do mesmo distingue o ente na totalidade, ele é um caráter fundamental do ser que se mostra como copertinente com a vontade de poder; e isso apesar de o “eterno retorno” denominar um “devir”. GA6MAC VI

Somente se o ente na totalidade é caos, permanece resguardada para ele enquanto vontade de poder a incessante possibilidade de se configurar “organicamente” em conformações de domínio a cada vez delimitadas de duração relativa. “ GA6MAC VI

É a própria vontade de poder, o caráter fundamental do ente enquanto tal, e não um “senhor Nietzsche”, que estabelece esse pensamento do eterno retorno do mesmo. GA6MAC VI

Sob a pressão desse peso mais pesado (desse fiel da balança), lá onde a ligação com o ente enquanto tal na totalidade determina essencialmente um ente, faz-se a experiência de que o ser do ente precisaria ser a vontade de poder. GA6MAC VI

Aquele homem, porém, que, em meio ao ente, assume um comportamento em relação ao ente que enquanto tal é vontade de poder e que se mostra na totalidade como eterno retorno do mesmo se chama o além-do-homem. GA6MAC VI

A sua realização inclui o fato de o ente sob o caráter de devir da vontade de poder aparecer a partir da mais luminosa claridade do pensamento do eterno retorno do mesmo. “ GA6MAC VI

Porquanto a vontade de poder constitui o caráter fundamental de todo ente, é somente a animalidade que determina o homem como um ente que verdadeiramente é. GA6MAC VI

Apesar de a razão ser vontade, é a razão enquanto representação (ideia) que decide aqui quanto à entidade do ente. GA6MAC VI

Se o corpo se torna fio condutor da interpretação do mundo, porém, então isso não significa que o “biológico” e o “vital” seriam transpostos para o interior da totalidade do ente e que essa totalidade mesma seria pensada em termos “vitais”, mas antes que o âmbito particular do “vital” é concebido metafisicamente como vontade de poder. “ GA6MAC VI

Vontade de poder” não é nada “vital” e nada “espiritual”, mas o “vital” e o “espiritual” são determinados enquanto entes pelo ser no sentido da vontade de poder. GA6MAC VI

A vontade racional útil até aqui para o representar transforma a sua essência na vontade que comanda a si mesma como o ser do ente. GA6MAC VI

Com a inversão da subjetividade do representar incondicionado na subjetividade da vontade de poder cai o primado da razão como via diretriz e tribunal para o projeto do ente. GA6MAC VI

Como só o homem se acha agora enquanto vontade representadora e instauradora de valores em meio ao ente enquanto tal na totalidade, ele precisa oferecer à subjetividade consumada os sítios de sua essência pura. GA6MAC VI

Caso queira a si mesma e caso queira uma meta em sintonia com o seu modo de ser, a nova humanidade em meio ao ente, que é na totalidade desprovido de metas e, enquanto tal, vontade de poder, precisa querer necessariamente o além-do-homem: “Não a ‘humanidade’, mas o além-do-homem é a meta!” (A vontade de poder, n 1001). GA6MAC VI

O além-do-homem vive, na medida em que a nova humanidade quer o ser do ente como a vontade de poder. GA6MAC VI

No tempo da mais luminosa claridade, uma vez que o ente na totalidade se mostra como eterno retorno do mesmo, a vontade precisa querer o além-do-homem; pois só sob a perspectiva do além-do-homem é possível suportar o pensamento do eterno retorno do mesmo. GA6MAC VI

O “nós”, que queremos aí, aponta para aqueles que experimentaram o caráter fundamental do ente como vontade de poder e sabem que essa vontade, no seu ponto mais elevado, quer a sua própria essência e, assim, há a ressonância com o ente na totalidade. GA6MAC VI

Como o princípio da nova instauração de valores, porém, essa vontade se coloca em favor do fato de o ente não ser o além suprassensível, mas a Terra de cá, e, em verdade, enquanto o objeto da luta pelo domínio da Terra, para que o além-do-homem se torne o sentido e a meta desse ente. GA6MAC VI

Essa vontade diz e posiciona aquilo que o ente é na totalidade. GA6MAC VI

Com isso, porém, o ente na totalidade não é interpretado segundo a imagem do homem e “subjetivado”? Essa antropomorfização do ente enquanto tal na totalidade não conduz ao apequenamento do mundo? Todavia, a contrapergunta se anuncia: quem é o homem, por meio do qual e com vistas ao qual o ente é antropomorfizado? Em que subjetividade se funda a “subjetivação” do mundo? O que aconteceria se o homem até aqui precisasse se transformar por meio da inversão niilista única no além-do-homem que, enquanto a mais elevada vontade de poder, quer deixar o ente ser enquanto ente? “… não a vontade de conservação, mas a vontade de poder: não mais a expressão humilde ‘tudo é apenas subjetivo’, mas antes ‘tudo é também nossa obra! – Sejamos orgulhosos disso!’” (A vontade de poder, n 1059). GA6MAC VI

o ente na totalidade não é interpretado segundo a imagem do homem e “subjetivado”? Essa antropomorfização do ente enquanto tal na totalidade não conduz ao apequenamento do mundo? Todavia, a contrapergunta se anuncia: quem é o homem, por meio do qual e com vistas ao qual o ente é antropomorfizado? Em que subjetividade se funda a “subjetivação” do mundo? O que aconteceria se o homem até aqui precisasse se transformar por meio da inversão niilista única no além-do-homem que, enquanto a mais elevada vontade de poder, quer deixar o ente ser enquanto ente? “… não a vontade de conservação, mas a vontade de poder: não mais a expressão humilde ‘tudo é apenas subjetivo’, mas antes ‘tudo é também nossa obra! – Sejamos orgulhosos disso!’” (A vontade de poder, n 1059). GA6MAC VI

conduz ao apequenamento do mundo? Todavia, a contrapergunta se anuncia: quem é o homem, por meio do qual e com vistas ao qual o ente é antropomorfizado? Em que subjetividade se funda a “subjetivação” do mundo? O que aconteceria se o homem até aqui precisasse se transformar por meio da inversão niilista única no além-do-homem que, enquanto a mais elevada vontade de poder, quer deixar o ente ser enquanto ente? “… não a vontade de conservação, mas a vontade de poder: não mais a expressão humilde ‘tudo é apenas subjetivo’, mas antes ‘tudo é também nossa obra! – Sejamos orgulhosos disso!’” (A vontade de poder, n 1059). GA6MAC VI

Em verdade, tudo é “subjetivo”, mas no sentido da subjetividade consumada da vontade de poder, que confere o poder ao ente para ser enquanto tal. “‘ GA6MAC VI

Por meio dessa desumanização, o ente se mostra “de maneira nua e crua” como a dinâmica de poder e a luta entre as conformações de domínio da vontade de poder, isto é, do “caos”. GA6MAC VI

É somente onde o ente é enquanto tal vontade de poder e, na totalidade, eterno retorno do mesmo, que pode se realizar a inversão niilista do homem até aqui no além-do-homem e que o além-do-homem precisa ser, como o sujeito supremo da subjetividade incondicionada da vontade de poder, um sujeito erigido para si por essa subjetividade mesma. GA6MAC VI

Como a sondagem funcional e direcionável de todo ente, elas o fixam e condicionam por meio de sua fixação o asseguramento da consistência própria à vontade de poder. GA6MAC VI

Somente onde a subjetividade incondicionada da vontade de poder se transforma na verdade do ente na totalidade, o princípio da organização de uma seleção de raças, isto é, não meramente a formação de uma raça que cresce a partir de si mesma, mas o pensamento de uma raça que conhece a si mesma é possível, isto é, metafisicamente necessário. GA6MAC VI

A essência metafísica, correspondente à vontade de poder, de toda organização maquinai das coisas e a seleção racial do homem residem, por conseguinte, na simplificação de todo ente a partir da simplicidade originária da essência do poder. GA6MAC VI

O gigantesco do grande estilo é aquela “qualidade” do ser de todo ente, que permanece consonante com a subjetividade consumada da vontade de poder. GA6MAC VI

O grande estilo é o modo como a vontade de poder coloca sob o seu poder a organização de todas as coisas e a seleção da humanidade como um domínio do ente na totalidade essencialmente desprovido de metas e como ela se abate a partir desse poder, em uma constante elevação, sobre cada passo, apoderando-se deles e prelineando-os. GA6MAC VI

Se o ente na totalidade é eterno retorno do mesmo, então só resta à humanidade que precisa conceber a si mesma em meio a essa totalidade como vontade de poder a decisão sobre se ela não quer antes o nada experimentado niilisticamente do que o não querer em geral, e, com isso, do que o abandono de sua possibilidade essencial. GA6MAC VI

Se o ente enquanto tal é vontade de poder, o ente na totalidade enquanto eterno retorno do mesmo precisa se abater sobre e se apoderar de cada ligação com o ente. GA6MAC VI

Se o ente na totalidade é eterno retorno do mesmo, então o caráter fundamental do ente se torna manifesto como vontade de poder. GA6MAC VI

Se o ente vigora enquanto vontade de poder na totalidade do eterno retorno do mesmo, a subjetividade incondicionada e consumada da vontade de poder precisa se colocar humanamente no sujeito do além-do-homem. GA6MAC VI

A verdade do ente enquanto tal na totalidade é determinada pela vontade de poder e pelo eterno retorno do mesmo. GA6MAC VI

Como o ente enquanto tal (enquanto vontade de poder) é, em sua essência, arte, o ente na totalidade no sentido da metafísica da vontade de poder precisa ser concebido como “obra de arte”: “O mundo como uma obra de arte que gera a si mesma – (A vontade de poder, n 796). GA6MAC VI

Em contrapartida, logo que o ser do ente enquanto vontade de poder se coloca na verdade que lhe é própria, a nova liberdade pode realizar a justificação de sua essência a partir do ser assim determinado do ente na totalidade. GA6MAC VI

A vontade de poder, o entrelaçamento essencial entre a elevação de poder e a conservação de poder, traz a sua própria essência ao poder, isto é, à aparição no ente, por meio da dotação de poder a si mesma para a superpotencialização. GA6MAC VI

Não obstante, o “algo” que quer ser conservado na justiça é a dotação de constância à essência incondicionada da vontade de poder enquanto o caráter fundamental do ente. GA6MAC VI

Essa mais elevada vontade de poder, que é a dotação de constância ao ente na totalidade, desvela a sua essência como a justiça. GA6MAC VI

A vontade de poder enquanto o caráter fundamental do ente justifica o eterno retorno do mesmo como a “aparência”, em cujo brilho reluz o mais elevado triunfo da vontade de poder. GA6MAC VI

Pelo fato de um ente se expor na esfera do poder como uma figura da vontade de poder já faz com que ele esteja de posse do direito, isto é, da vontade que comanda a si mesma em vista de sua superpotencialização. GA6MAC VI

É apenas dessa forma que pode ser dito dessa vontade que ela é um ente no sentido da verdade do ente enquanto tal na totalidade. GA6MAC VI

Se a metafísica de Nietzsche é marcada de maneira distintiva como a metafísica da vontade de poder, então uma expressão fundamental não obtém de qualquer modo o primado? Por que justamente essa expressão? O primado dessa expressão fundamental funda-se no fato de a metafísica de Nietzsche ser experimentada aqui como a metafísica da subjetividade incondicionada e consumada? Se a metafísica em geral é a verdade do ente na totalidade, por que é que a expressão fundamental que marca distintivamente a metafísica nietzschiana não é a “justiça”, que denomina de qualquer modo o traço fundamental da verdade dessa metafísica? Nas duas anotações discutidas que ele mesmo nunca publicou, Nietzsche só desdobrou expressamente a essência da justiça GA6MAC VI

uma expressão fundamental não obtém de qualquer modo o primado? Por que justamente essa expressão? O primado dessa expressão fundamental funda-se no fato de a metafísica de Nietzsche ser experimentada aqui como a metafísica da subjetividade incondicionada e consumada? Se a metafísica em geral é a verdade do ente na totalidade, por que é que a expressão fundamental que marca distintivamente a metafísica nietzschiana não é a “justiça”, que denomina de qualquer modo o traço fundamental da verdade dessa metafísica? Nas duas anotações discutidas que ele mesmo nunca publicou, Nietzsche só desdobrou expressamente a essência da justiça com base na vontade de poder. GA6MAC VI

De acordo com esse fato, a verdade do ente enquanto tal na totalidade é uma verdade sobre o ente; e isso certamente de um tal modo que, a partir do caráter fundamental do ente, a sua própria essência é decidida pela vontade de poder enquanto a sua figura mais elevada. GA6MAC VI

verdade do ente enquanto tal na totalidade guardada na palavra a partir de sua posição fundamental, é, em consequência de sua essência histórica, o traço fundamental da história da época que, somente a partir de sua consumação emergente, começa a se encontrar consigo mesma como o tempo da modernidade: “um período no qual a antiga mascarada e o lustro moral dos afetos inspiram repulsa: a natureza nua; um período no qual as quantidades de poder são simplesmente admitidas como decisivas (como determinantes da posição hierárquica); no qual o grande estilo aparece uma vez mais, como consequência da grande paixão” (A vontade de poder, n 1024). GA6MAC VI

Não é nem o reconhecimento do ente como o fato mais elementar (como vontade de poder) que conduz Nietzsche ao pensamento do ser enquanto tal, nem o próprio Nietzsche que alcança esse pensamento sobre o caminho da interpretação do ser como um “valor necessário”, nem o pensamento do eterno retorno do mesmo que se transforma em impulso para refletir sobre a eternidade como instante a partir da subtaneidade do presentar-se iluminado, sobre o retorno como modo da presentação e sobre os dois segundo a sua proveniência essencial a partir do “tempo” inicial. GA6MAC VIII

Quando Nietzsche insiste naquele reconhecimento da vontade de poder no sentido do “fato derradeiro” como a sua intelecção filosófica fundamental, ele coloca essa intelecção em conformidade com a caracterização do ser como o ente insigne que possui o modo de ser dos fatos. GA6MAC VIII

A experiência fundamental de Nietzsche diz: o ente é o ente enquanto vontade de poder sob o modo do eterno retorno do mesmo. GA6MAC VIII

O ser é determinado como valor e declarado, com isso, como uma condição estabelecida pela vontade de poder, pelo “ente” enquanto tal, a partir do ente. GA6MAC VIII

A “recapitulação” já citada começa, porém, da seguinte forma: “Cunhar sobre o devir o caráter do ser – esta é a mais elevada vontade de poder” Algo desse gênero, a saber, o pensamento do devir como o pensamento do ser da totalidade do ente, ou seja, o pensamento da “vontade de poder” a partir do “eterno retorno do mesmo”, é realizado pela metafísica de Nietzsche como o ideal de sua mais elevada potência. GA6MAC VIII

Por meio do pensamento valorativo oriundo da vontade de poder, ela se mantém, em verdade, junto ao reconhecimento do ente enquanto tal, mas se amarra com a corda da interpretação do ser como valor na impossibilidade de mesmo apenas visualizar de maneira questionadora o ser enquanto ser. GA6MAC VIII

Com efeito, essa metafísica não é nenhuma metafísica da vontade de poder, mas ela experimenta, contudo, o ente enquanto tal na totalidade como vontade. GA6MAC VIII

Isso não significa certamente que a vivência subjetiva da vontade humana seria transportada para o ente na totalidade. GA6MAC VIII

Isso apenas indica que o que acontece é muito mais o inverso: a partir de uma experiência ainda não esclarecida do ente enquanto tal no sentido da vontade que precisa ser primeiramente pensada, o homem aprende pela primeira vez a se conhecer como um sujeito volitivo em um sentido essencial. GA6MAC VIII

A ontologia do ente enquanto tal pensa a essentia como vontade de poder. GA6MAC VIII

O próprio nada do ser é confirmado na interpretação do ser como valor, e é constitutivo dessa confirmação o fato de ela mesma se compreender como o novo sim ao ente enquanto tal no sentido da vontade de poder, isto é, como a superação do niilismo. GA6MAC VIII

de um tal ponto de vista, será que a essência do niilismo é algo abstrato? Ou será que esse elemento essencializante da própria história do ser é o acontecimento, a partir do qual toda história agora acontece? Será que o fato de a historiologia, até mesmo aquela historiologia do nível e da amplitude da historiologia de Jacob Burckhardt, não saber e não querer saber nada sobre tudo isso é uma prova suficiente de que não “há” essa essência do niilismo? Se a metafísica de Nietzsche não interpreta apenas o ser como um valor a partir do ente no sentido da vontade de poder, se a metafísica de Nietzsche pensa até mesmo a vontade de poder como o princípio de uma nova instauração de valores e compreende e busca essa nova instauração de valores como a superação do niilismo, então ganha voz nessa vontade de superação o mais extremo enredamento da metafísica no elemento impróprio do niilismo, de tal modo que esse enredamento se fecha contra a sua própria essência e, assim, sob a forma de uma superação, transpõe o niilismo pela primeira vez para o interior do elemento eficaz de sua inessência destacada. GA6MAC VIII

é algo abstrato? Ou será que esse elemento essencializante da própria história do ser é o acontecimento, a partir do qual toda história agora acontece? Será que o fato de a historiologia, até mesmo aquela historiologia do nível e da amplitude da historiologia de Jacob Burckhardt, não saber e não querer saber nada sobre tudo isso é uma prova suficiente de que não “há” essa essência do niilismo? Se a metafísica de Nietzsche não interpreta apenas o ser como um valor a partir do ente no sentido da vontade de poder, se a metafísica de Nietzsche pensa até mesmo a vontade de poder como o princípio de uma nova instauração de valores e compreende e busca essa nova instauração de valores como a superação do niilismo, então ganha voz nessa vontade de superação o mais extremo enredamento da metafísica no elemento impróprio do niilismo, de tal modo que esse enredamento se fecha contra a sua própria essência e, assim, sob a forma de uma superação, transpõe o niilismo pela primeira vez para o interior do elemento eficaz de sua inessência destacada. GA6MAC VIII

a historiologia, até mesmo aquela historiologia do nível e da amplitude da historiologia de Jacob Burckhardt, não saber e não querer saber nada sobre tudo isso é uma prova suficiente de que não “há” essa essência do niilismo? Se a metafísica de Nietzsche não interpreta apenas o ser como um valor a partir do ente no sentido da vontade de poder, se a metafísica de Nietzsche pensa até mesmo a vontade de poder como o princípio de uma nova instauração de valores e compreende e busca essa nova instauração de valores como a superação do niilismo, então ganha voz nessa vontade de superação o mais extremo enredamento da metafísica no elemento impróprio do niilismo, de tal modo que esse enredamento se fecha contra a sua própria essência e, assim, sob a forma de uma superação, transpõe o niilismo pela primeira vez para o interior do elemento eficaz de sua inessência destacada. GA6MAC VIII

A suposta superação do niilismo erige pela primeiríssima vez o domínio da omissão incondicional da permanência incondicionada do próprio ser em favor do ente do tipo da vontade de poder instauradora de valores. GA6MAC VIII

Por meio de sua retração que permanece, no entanto, uma ligação com o ente, uma ligação com a qual “o ser” aparece, o ser mesmo se entrega à vontade de poder. GA6MAC VIII

E é como vontade de poder que o ente parece vigorar diante e acima de todo ser. GA6MAC VIII

Supondo que a aparição incondicionada da vontade de poder na totalidade do ente não é um nada, será que a essência do niilismo histórico-ontológico vigente e velada nessa aparição é afinal algo apenas pensado ou mesmo imaginado? Será que a fantasia, se é que já devemos falar dela aqui, não reside antes no fato de sermos escravos do hábito de considerar como a única coisa real as manifestações tomadas por si e interpretadas negativamente das consequências do niilismo que não é experimentado em sua essência, lançando ao vento o elemento essencializante desse real como um nada nulo? O que aconteceria, porém, se essa opinião certamente fantástica fosse GA6MAC VIII

A objetivação de todo ente enquanto tal a partir do levante do homem em direção ao querer-se exclusivo de sua vontade é a essência histórico-ontológica do processo, por meio do qual o homem erige a sua essência na subjetividade. GA6MAC VIII

Na vigência ora clara, ora obscura do jogo do mundo metafisicamente pensado, o ente enquanto tal ora desvela-se como a vontade de poder, ora se encobre uma vez mais. GA6MAC VIII

O ente enquanto a subiectidade omite a verdade do próprio ser de uma maneira decidida, na medida em que a subiectidade estabelece a verdade do ente como certeza a partir da vontade de asseguramento que lhe é própria. GA6MAC VIII

O ente enquanto tal aparece como a vontade de poder, na qual o ser consuma a sua subiectidade como vontade. GA6MAC VIII

A historiologia encontra-se consciente ou inconscientemente a serviço da vontade própria às humanidades de se instalar no ente segundo uma ordem abarcável com o olhar. GA6MAC VIII

Assim como o desvelamento do ente transformou-se em um valor enquanto a verdade desse ente, na sequência essencial dessa interpretação da essência da verdade aquele tipo de desvelamento que se chama esfera pública se transforma em um valor necessário para o asseguramento da consistência da vontade de poder. GA6MAC VIII

Talvez a cegueira contra a penúria extrema do ser assuma a figura da ausência de penúria dominante em meio a todo acossamento do ente, uma figura que, vista em função da duração da história do ser, é ainda mais perigosa do que as aventuras grosseiras da vontade violenta em sua mera brutalidade. GA6MAC VIII

A época do velamento do ser no desvelamento do ente do tipo da vontade de poder é a época da pobreza consumada do ente enquanto tal. GA6MAC VIII

 

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress