GA6 – vontade e assenhoreamento

Alguém que não sabe o que quer não quer absolutamente, e não pode querer de maneira alguma; não há um querer em geral: “pois a vontade é, como afeto do comando, o sinal decisivo do autoassenhoramento e da força” (A gaia ciência, Livro V, 1886; V, 282). GA6MAC I

Porquanto a vontade é decisão por si mesma como um assenhoramento que se estende para além de si; porquanto a vontade é querer para além de si, a vontade é potencialidade que se potencializa para o poder. GA6MAC I

Esse ser alçado para além de si mesmo, o acometimento de toda a essência de modo que não somos senhores de nós mesmos em meio à ira, esse “não” não significa de maneira alguma que na ira não somos lançados para fora de nós mesmos; justamente o não ser-senhor no afeto, na ira, distingue muito mais o afeto do assenhoramento no sentido da vontade, pois no afeto o ser-senhor-sobre-si é transformado em um modo do ser-para-fora-de-nós-mesmos no qual perdemos algo. GA6MAC I

De acordo com isso, a vontade é, então, apenas um “epifenômeno” do efluxo de força, um sentimento de prazer que acompanha? Como isso se coaduna com o que foi dito no todo sobre a essência da vontade, e, em particular, a partir da comparação com o afeto e com a paixão? Lá a vontade veio à tona como o que suporta e domina propriamente, como equivalente ao próprio assenhorear-se; agora ela precisa ser rebaixada ao nível de um sentimento de prazer que simplesmente acompanha algo diverso? Em tais passagens podemos ver com clareza o quão despreocupado Nietzsche ainda se acha em relação a uma apresentação uniformemente GA6MAC I

De acordo com isso, a vontade é, então, apenas um “epifenômeno” do efluxo de força, um sentimento de prazer que acompanha? Como isso se coaduna com o que foi dito no todo sobre a essência da vontade, e, em particular, a partir da comparação com o afeto e com a paixão? Lá a vontade veio à tona como o que suporta e domina propriamente, como equivalente ao próprio assenhorear-se; agora ela precisa ser rebaixada ao nível de um sentimento de prazer que simplesmente acompanha algo diverso? Em tais passagens podemos ver com clareza o quão despreocupado Nietzsche ainda se acha em relação a uma apresentação uniformemente fundamentada de sua doutrina. GA6MAC I

Podemos agora – parece mesmo que precisamos – reunir a série de determinações da essência da vontade trazidas paulatinamente à tona e agrupá-las em uma única definição: vontade como o assenhoreamento sobre… que se estende para além de si, vontade como afeto (o acometimento excitante), vontade como paixão (o arrebatamento expansivo em direção à amplitude do ente), vontade como sentimento (disposição para ater-se-a-si-mesmo) e vontade como comando. GA6MAC I

 

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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