No entanto, Nietzsche diz dessa vontade (XIV, 369): “A vontade de aparência, de ilusão, de engano, de devir e de mudança é mais profunda, ‘mais metafísica do que a vontade de verdade, de realidade, de ser.” GA6MAC I
Meu primeiro livro foi dedicado a ela; O nascimento da tragédia acredita na arte sob o pano de fundo de uma outra crença: a de que não é possível viver com a verdade: a de que a própria ‘vontade de verdade’ já é um sintoma de degradação…” sentença soa monstruosa! Todavia, ainda que não perca o seu peso, ela perde a sua estranheza logo que é lida da forma correta. GA6MAC I
[…] vontade de verdade significa aqui e sempre em Nietzsche o seguinte: a vontade do “mundo verdadeiro” no sentido de Platão e do cristianismo, a vontade do suprassensível, do que é em si. GA6MAC IA “vontade de verdade”, isto é, a vontade de uma aparição firmemente estabelecida “já é um sintoma de degeneração” (XIV, 368). GA6MAC I
Todavia, porquanto a aparência ainda retém, para Nietzsche, como aparência perspectivística o caráter do irreal, da ilusão, do engano, ele precisa dizer: “A vontade de aparência, de ilusão, de engano, de devir e mudança é mais profunda, mais ‘metafísica’ (isto é, ela corresponde mais à essência do ser) do que a vontade de verdade, de realidade, de ser” (XIV, 369). GA6MAC I
Se uma vontade de verdade é, contudo, vital para a nossa “vida”, e se, porém, vida significa elevação da vida, uma “realização” cada vez mais elevada da vida e, com isso, uma vitalização do real, então a verdade se transforma, se ela é apenas “ilusão”, “imaginação”, ou seja, algo irreal, em desrealização, em obstáculo, em suma, em aniquilação da vida. GA6MAC III
Por conseguinte, caso a vontade de verdade deva pertencer à vida, a verdade certamente não pode, uma vez que a sua essência permanece uma ilusão: ser o valor supremo. GA6MAC III
Por meio da “análise” já se desperta a suspeita de que a “vontade de verdade” enquanto a requisição por algo válido e normativo é uma requisição de poder e de que ela só se justifica como tal por meio da vontade de poder e como uma figura da vontade de poder. GA6MAC V
Nietzsche diz que a busca de Descartes é uma “vontade de verdade”: “‘vontade de verdade’ enquanto um eu não quero ser enganado’ ou um eu não quero enganar’ ou um eu quero me convencer e me firmar’, enquanto formas da vontade de poder (XIV, segunda parte, n 160).” GA6MAC V
Todavia, ele a contabiliza e distorce psicologicamente, isto é, ele funda na vontade de poder a certeza enquanto “vontade de verdade”. GA6MAC V
Ainda mais decididamente encontra-se formulado no número 512 (1885): “A lógica não provém da vontade de verdade.” GA6MAC V
Segundo o conceito nietzschiano mais próprio, a verdade é aquilo que é fixo e que é fixado; mas a lógica não deve emergir dessa vontade de fixar e de tornar permanente? Segundo o conceito mais próprio de Nietzsche, ela só pode provir da vontade de verdade. GA6MAC V
Não obstante, se Nietzsche diz: “A lógica não provém da vontade de verdade”, então ele tem em vista aqui inopinadamente a verdade em um outro sentido: não em seu sentido, um sentido segundo o qual ela é uma espécie de erro, mas no sentido tradicional, segundo o qual a verdade significa: concordância do conhecimento com as coisas e com o real. GA6MAC V
Será que, em Nietzsche, então, a “vontade de poder” se abate sobre a metafísica como uma interpretação arbitrária do ente na totalidade, sem uma proveniência histórica? Nós nos lembramos, contudo, que o próprio Nietzsche esclarece a sentença de Descartes a partir da vontade de verdade e declara essa vontade como um tipo de vontade de poder. GA6MAC V