GA6 – teoria

Theorie

Ele denomina a vontade – com isso, a vontade de poder – um “afeto”; ele diz até mesmo (A vontade de poder, n 688): “Minha teoria seria a seguinte: – a vontade de poder é a forma primitiva do afeto, todos os outros afetos não passam de configurações suas.” GA6MAC I

Exatamente por isso, e, com efeito, em um sentido de rejeição, Nietzsche disse certa vez com relação à pintura de seu tempo: “Ninguém se contenta em ser simplesmente pintor; todos são arqueólogos, psicólogos, pessoas que colocam em cena uma lembrança qualquer ou uma teoria. GA6MAC I

No entanto, ele não poderia ser esse ser, ou seja, o ente não poderia se mostrar para ele como ente, se ele já não tivesse sempre em vista, de antemão, o ser por meio da “teoria”. GA6MAC I

O “mundo verdadeiro” não é objeto de uma teoria, mas o poder da existência, a presença iluminadora, o puro aparecer sem encobrimento. GA6MAC I

Não obstante, se a doutrina do eterno retorno é extraída e isolada por si, se ela é colocada de lado como uma “teoria” por meio da compilação de proposições, então tal construto é como uma raiz arrancada de seu solo e cindida do tronco, ou seja, deixa de ser uma raiz que enraiza – deixa de ser uma doutrina como doutrina fundamental –, não permanecendo senão como algo anômalo. GA6MAC II

Aqui não tem mais sentido algum a diferenciação habitualmente corrente entre a “mera teoria” e a “práxis” útil. GA6MAC II

Não obstante, não seria senão uma incompreensão de Zaratustra se se quisesse deduzir dele por si como “teoria” a doutrina do eterno retorno, mesmo que essa teoria fosse construída sob a forma alegórica; pois a tarefa mais intrínseca dessa obra permanece a configuração do mestre, e, por meio daí, a configuração da doutrina. GA6MAC II

Ele não é apresentado como uma “teoria”, mas só se preserva no diálogo porque aqui aqueles mesmos que falam precisam se arrojar na direção do que é por eles falado, porque somente no diálogo vem à luz até que ponto eles conseguem fazer algo assim e até que ponto não, e em que medida o diálogo não passa de falatório. GA6MAC II

A comunicação não é nenhuma “doutrina” nem nenhuma “apresentação doutrinária” no sentido da apresentação de uma teoria científica específica, ela não é uma “doutrina” como o enunciado de um erudito. GA6MAC II

Precisamos levar em conta tudo isso se quisermos compreender e atravessar filosoficamente de maneira pensante a “obra póstuma” de Nietzsche, ao invés de apenas compormos uma “teoria” a partir de observações colhidas aqui e acolá. GA6MAC II

Essa divisão do conjunto das anotações foi realizada segundo certos pontos de vista que não provêm do próprio Nietzsche; por meio desse procedimento que conduz à provisão do grupo de fragmentos com títulos, um procedimento que aparentemente evita toda e qualquer intromissão, a doutrina do retorno se transforma, de antemão, em uma “teoria” que deve ter ainda “efeitos práticos”. GA6MAC II

Tal divisão do conjunto das anotações faz com que o essencial da doutrina do retorno, o fato de ela não ser nem “teoria” nem sabedoria prática da vida, não se mostre nem mesmo como questão. GA6MAC II

A transformação do pensamento do eterno retorno em “teoria” com efeitos práticos subsequentes levada a termo por meio de uma interpretação falsa pôde encontrar tanto mais facilmente uma porta de entrada, uma vez que as anotações nietzschianas que devem fornecer uma “apresentação e fundamentação” usam uma linguagem “científico-natural”. GA6MAC II

Ela indica que a “doutrina” não é nenhuma “teoria”, que não deve ser utilizada como uma hipótese qualquer sobre a origem do mundo para explicações científicas, mas que o pensar desse pensamento transforma muito mais a vida desde o seu fundamento e, com isso, erige novos critérios de educação. GA6MAC II

Isso significa o seguinte: no comportamento representacional com o ente, o homem também já se relaciona – com ou sem uma “teoria” própria, com ou sem uma autoconsideração – incessantemente consigo mesmo. GA6MAC III

histórica vinda de fora que só olha retrospectivamente, se não mesmo a mera contabilização historiológica sempre fatídica e sutilmente perversa? E isso tudo ainda sobre a base de um conceito de metafísica que preenche e confirma, em verdade, o pensamento de Nietzsche, mas não o fundamenta, nem o projeta em parte alguma! Essas questões não impelem senão para a questão única: em que a unidade essencial da metafísica possui efetivamente o seu fundamento? Onde é que a essência da metafísica possui a sua origem? O domínio dessas questões precisa decidir se uma tal reflexão apenas cria e traz consigo uma teoria adicional sobre a metafísica, permanecendo, então, indiferente, ou se essa reflexão é uma meditação e, neste caso, também uma decisão. GA6MAC VI

Quase parece que, no começo da metafísica moderna, a essência tradicional da realidade efetiva, a actualitas, seria mantida inalterada, e só o modo da apreensão daquilo que é efetivamente real seria submetido a uma consideração particular (“teoria”). GA6MAC VIII

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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