A nova instauração de valores é metafísica da vontade de poder. GA6MAC V
Nós entendemos esse título “metafísica da vontade de poder” em um duplo sentido, na medida em que o genitivo possui a significação dupla de um genitivus obiectivus e de um genitivus subiectivus. GA6MAC V
Nesse sentido inequívoco, o título “metafísica da vontade de poder” é ambíguo. GA6MAC V
O pensamento valorativo é um componente necessário da metafísica da vontade de poder. GA6MAC V
No entanto, como se chega a essa interpretação do ente, se é que ela não surge como uma opinião arbitrária e violenta apenas na cabeça do excêntrico senhor Nietzsche? Como se chega ao projeto do mundo como vontade de poder, supondo que Nietzsche não faça outra coisa em uma tal interpretação do mundo senão dizer aquilo para o que impele uma longa história do Ocidente, sobretudo a história da modernidade, em seu curso mais velado? O que se essencializa e vigora na metafísica ocidental, para que ela se torne por fim uma metafísica da vontade de poder? Perguntando assim, saímos daquilo que não passa aparentemente de um mero relato e de uma mera elucidação e nos movemos para uma “con-frontação” com a metafísica nietzschiana. GA6MAC V
Pensada no sentido da metafísica da vontade de poder, a sentença “o ente na totalidade não possui valor algum” é a recusa mais incisiva da crença de que “valores” seriam algo em si, algo estabelecido acima do ente na totalidade e válido para ele. GA6MAC V
Por que a vontade de poder é em si instauradora de valores? Por que o pensamento valorativo se torna dominante juntamente com o pensamento da vontade de poder? Como e por que a metafísica se transforma na metafísica da vontade de poder? Para vislumbrar a amplitude dessas questões, precisamos levar em consideração o que significa o domínio do pensamento valorativo na metafísica. GA6MAC V
Ao mesmo tempo, sem qualquer discussão e fundamentação ulteriores, o domínio do pensamento valorativo pressupõe, então, como óbvio que, ainda que tacitamente, toda a metafísica até aqui, toda a metafísica que precede historicamente a metafísica da vontade de poder, também foi uma tal metafísica da vontade de poder. GA6MAC V
A metafísica da vontade de poder enquanto tomada de posição transvaloradora em relação à metafísica até aqui determina essa metafísica antecipadamente no sentido da valoração e do pensamento valorativo. GA6MAC V
A metafísica da vontade de poder não se esgota no fato de novos valores serem estabelecidos em contraposição aos valores até aqui. GA6MAC V
Pois mesmo a essência da história é determinada de maneira nova pela metafísica da vontade de poder, o que podemos reconhecer a partir da doutrina nietzschiana do eterno retorno do mesmo e de sua conexão maximamente interna com a vontade de poder. GA6MAC V
Com isso, para além do pensamento valorativo, deparamo-nos com um contexto que nos é quase imposto pela metafísica da vontade de poder; pois essa metafísica, à qual pertence a doutrina do além-do-homem, coloca o homem, tal como nenhuma metafísica antes dela, no papel da medida incondicionada e única para todas as coisas. GA6MAC V
Em sua metafísica da vontade de poder, Nietzsche empreende esse experimento. GA6MAC V
Esse mesmo é o solo, a partir do qual podemos compreender pela primeira vez de maneira suficiente a doutrina nietzschiana do homem como o legislador do mundo e reconhecer a origem da metafísica da vontade de poder e do pensamento valorativo aí incluído (cf quanto ao que se segue: Caminhos da floresta, p 94 e segs). GA6MAC V
A partir dessa relação determinam-se as pressuposições internas da metafísica da vontade de poder. GA6MAC V
A base para a necessidade desse desconhecimento reside na essência da metafísica da vontade de poder, que obstrui para si mesma – sem nem mesmo poder saber algo sobre isso – uma intelecção essencialmente correta da essência da metafísica. GA6MAC V
Também é válido para este título “metafísica da subjetividade” aquilo que foi dito sobre a expressão “metafísica da vontade de poder”. GA6MAC V
Nessa época, Nietzsche tinha um conhecimento claro do fato de que a metafísica da vontade de poder só é acompanhada pelo mundo romano e pelo Príncipe, de Maquiavel. GA6MAC V
Por conseguinte, a metafísica cartesiana já é uma metafísica da vontade de poder, só que sem o saber. GA6MAC V
A metafísica da vontade de poder – e apenas ela – é, com razão e necessariamente, um pensar valorativo. GA6MAC VI
A metafísica da vontade de poder interpreta todas as posições metafísicas fundamentais que lhe precederam à luz do pensamento valorativo. GA6MAC VI
Concebidas a partir da metafísica da vontade de poder, as ideias precisam ser pensadas como valores, e as unidades mais elevadas, como os valores supremos. GA6MAC VI
Na medida em que a metafísica até aqui não conhece expressamente a vontade de poder como o princípio da instauração de valores, a vontade de poder se torna na metafísica da vontade de poder o “princípio de uma nova instauração de valores”. GA6MAC VI
Uma vez que, a partir da metafísica da vontade de poder, toda metafísica é concebida moralmente como valoração, a metafísica da vontade de poder se transforma em uma instauração de valores. GA6MAC VI
Nietzsche não apresentou o seu conhecimento do niilismo, um conhecimento emergente da metafísica da vontade de poder e essencialmente pertencente a ela, no contexto fechado que pairava diante de sua visão histórica metafísica, cuja forma pura, entretanto, nós não conhecemos, nem tampouco jamais conseguiremos depreender dos fragmentos que foram conservados. GA6MAC VI
Essa normatividade é a historicidade da história ocidental, experimentada a partir da metafísica da vontade de poder. GA6MAC VI
Pensado em termos “clássicos”, o “niilismo” é, ao mesmo tempo, o título para a essência histórica da metafísica, na medida em que a verdade sobre o ente enquanto tal na totalidade se consuma na metafísica da vontade de poder e em que essa história se interpreta por meio dessa metafísica. GA6MAC VI
Por isso, é na metafísica da vontade de poder que a nova liberdade começa a alçar a sua essência plena à lei de uma nova legalidade. GA6MAC VI
Se a metafísica de Nietzsche é marcada de maneira distintiva como a metafísica da vontade de poder, então uma expressão fundamental não obtém de qualquer modo o primado? Por que justamente essa expressão? O primado dessa expressão fundamental funda-se no fato de a metafísica de Nietzsche ser experimentada aqui como a metafísica da subjetividade incondicionada e consumada? Se a metafísica em geral é a verdade do ente na totalidade, por que é que a expressão fundamental que marca distintivamente a metafísica nietzschiana não é a “justiça”, que denomina de qualquer modo o traço fundamental da verdade dessa metafísica? Nas duas anotações discutidas que ele mesmo nunca publicou, Nietzsche só desdobrou expressamente a essência da justiça GA6MAC VI
De acordo com isso, a metafísica de Nietzsche transforma-se na consumação do niilismo propriamente dito, porque ela é a metafísica da vontade de poder. GA6MAC VIII
No entanto, se as coisas se acham dessa forma, então a metafísica enquanto a metafísica da vontade de poder permanece, em verdade, o fundamento da consumação do niilismo propriamente dito. GA6MAC VIII
Com efeito, essa metafísica não é nenhuma metafísica da vontade de poder, mas ela experimenta, contudo, o ente enquanto tal na totalidade como vontade. GA6MAC VIII
Pois aquilo que é dito na caracterização da metafísica de Nietzsche como a consumação do niilismo sobre o niilismo propriamente dito já precisa ter despertado nos seres reflexivos uma outra suposição: nem a metafísica da vontade de poder, nem a metafísica da vontade são o fundamento do niilismo propriamente dito, mas unicamente a própria metafísica. GA6MAC VIII
A razão dessa incapacidade é o fato de essa metafísica ser a metafísica da vontade de poder ou será que a razão está antes no fato e apenas no fato de ela ser metafísica? A razão está no fato de a metafísica deixar impensado o próprio ser. GA6MAC VIII
Divinização do perigo e abuso da violência – uma não intensifica alternadamente o outro? A sentença nietzschiana que é frequentemente repetida de maneira mecânica sobre “viver perigosamente” pertence ao âmbito da metafísica da vontade de poder e requer o niilismo ativo, que precisa ser pensado agora como o domínio incondicionado da inessência do niilismo. GA6MAC VIII