GA6 – doutrina da vontade de poder

Se não desenvolvermos agora de maneira pensante um modo de colocação do problema que esteja em condições de conceber a doutrina do eterno retorno do mesmo, a doutrina da vontade de poder e essas duas doutrinas em sua conexão interna homogeneamente como transvaloração de todos os valores, e se não alcançarmos o ponto a partir do qual é possível tomar esse modo fundamental de colocação do problema como um modo ao mesmo tempo necessário no curso da metafísica ocidental, então não apreenderemos jamais a filosofia de Nietzsche. GA6MAC I

A doutrina do eterno retorno do mesmo e a doutrina da vontade de poder se compertencem da maneira mais intrínseca possível. GA6MAC I

Quem não consegue pensar o pensamento do eterno retorno como o que há de mais propriamente filosófico a ser pensado juntamente com a vontade de poder também não consegue conceber de maneira suficiente o conteúdo metafísico da doutrina da vontade de poder em toda a sua amplitude. GA6MAC I

Baeumler descreve o que Nietzsche denomina o pensamento mais pesado e o ápice da consideração como uma convicção “religiosa” totalmente pessoal de Nietzsche, e diz: “Só uma dessas duas coisas pode ser válida: ou bem a doutrina do eterno retorno ou bem a doutrina da vontade de poder” (p. GA6MAC I

Portanto, somente uma dessas duas doutrinas pode determinar a filosofia de Nietzsche: ou bem a doutrina do eterno retorno, ou bem a doutrina da vontade de poder. GA6MAC I

No entanto, mesmo assumindo que subsiste uma contradição entre essas duas doutrinas – a doutrina da vontade de poder e a doutrina do eterno retorno desde Hegel sabemos que uma contradição não é necessariamente uma demonstração contra a verdade de uma sentença metafísica, mas pode ser uma demonstração a favor dessa verdade. GA6MAC I

No entanto, apesar do discurso sobre o ser, Jaspers não insere esse pensamento no interior do âmbito da pergunta fundamental da filosofia ocidental e, com isso, também não a introduz na conexão real com a doutrina da vontade de poder. GA6MAC I

Para tanto, tomamos um fio condutor duplo: por um lado, a visualização do todo da doutrina da vontade de poder, e, por outro, a lembrança das principais doutrinas da estética tradicional. GA6MAC I

Se as pessoas tentaram nos fazer acreditar recentemente que a doutrina nietzschiana do retorno foi abandonada e posta de lado por meio de sua doutrina da vontade de poder, então é preciso dizer e demonstrar em contrapartida que a doutrina da vontade de poder só emerge da doutrina do retorno e traz consigo constantemente essa origem, assim como a corrente traz consigo a sua própria fonte. GA6MAC II

Somente por isso é que é possível para Nietzsche se ver impelido diretamente de uma tal aspiração para o interior do seu oposto aparentemente incongruente, na medida em que ele requisita, na doutrina da vontade de poder, a suprema humanização do ente. GA6MAC II

Na medida em que no homem, isto é, na figura do além-do-homem, a vontade de poder desdobra de maneira irrestrita a sua pura essência de poder, a “psicologia”, no sentido de Nietzsche, como a doutrina da vontade de poder, sempre é também ao mesmo tempo e de antemão o reino das questões metafísicas fundamentais. GA6MAC V

Já o escrito Para além do hem e do mal (1886), no qual Nietzsche se exprime pela primeira vez de maneira coerente sobre a sua doutrina da vontade de poder, mostra o papel de critério de medida da autoexperiência humana e o primado da autodação do homem junto a toda interpretação de mundo: “Suposto que nada é ‘dado’ como real além de nosso mundo dos desejos e paixões, que não podemos descer ou ascender a nenhuma outra ‘realidade senão justamente a realidade de nossos impulsos – pois pensar é apenas um comportamento desses impulsos uns em relação aos outros será que não é permitido fazer a experiência e colocar a questão sobre se esse ‘dado’ não é suficiente para compreender a partir de seu similar o assim chamado mundo GA6MAC V

A interpretação cartesiana do ser é assumida por Nietzsche com base em sua doutrina da vontade de poder. GA6MAC V

 

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress