- Borges-Duarte
- Young & Haynes
Borges-Duarte
Quando hoje usamos a palavra ciência, ela quer dizer algo que se diferencia essencialmente da doctrina e da scientia da Idade Média, mas também da επιστήμη grega. A ciência grega nunca foi exacta, e isso porque, segundo a sua essência, não podia ser exacta e não precisava de ser exacta. Daí que não tenha qualquer sentido opinar que a ciência (98) moderna é mais exacta que a da antiguidade. Assim, também não se pode dizer que a doutrina de Galileu da queda livre dos corpos é verdadeira, e que a de Aristóteles, que ensina que os corpos leves tendem para cima, é falsa; pois a [GA5:71] concepção grega da essência do corpo, do sítio e da relação de ambos assenta numa outra interpretação do ente e condiciona, por isso, um modo correlativamente diferente de ver e de questionar os processos naturais. Ninguém afirmaria que a poesia de Shakespeare é mais evoluída que a de Esquilo. Mas ainda mais impossível é dizer que a apreensão moderna do ente é mais correcta que a grega. Daí que se quisermos conceber a essência da ciência moderna temos de nos libertar, à partida, do hábito de distinguir a ciência mais recente da ciência mais antiga de um modo apenas gradual, segundo o ponto de vista do progresso. (p. 98-99)