GA54:220-222 – O Aberto

O começo (Anfang) exige de nós, para quem a história se desenvolveu a partir do começo, o início (Beginn) de uma meditação (Besinnung) que pensa acerca da essência do “aberto”. Nomeando “o aberto” (Offene) e usando a palavra “abertura” (Offenheit), parecemos representar algo conhecido e compreensível. Mas, ao contrário, tudo se confunde no indeterminado. A não ser que tomemos agora a sério a palavra “aberto” e a pensemos dentro do nexo essencial único que a meditação, realizada até agora, acerca da essência da αλήθεια trouxe para mais próximo de nós. Assim, usaremos a expressão “o aberto” somente na sua unidade indissolúvel com a αλήθεια e com a essência da αλήθεια como foi experimentada primordialmente.

Nesse contexto, o aberto é a luz do que se auto-ilumina. Chamamo-lo como “o livre” (Freie) e sua essência como “a” liberdade (Freiheit). Liberdade tem aqui um sentido primordial, estranho ao pensar metafísico. Podemos ser tentados a explicar a essência da liberdade, pensada aqui, como a essência do aberto, a base da (212) delimitação tradicional dos vários conceitos de liberdade. Pois a tentativa seria de trazer para mais perto a essência do que chamamos “o aberto”, aproximando-o, gradualmente, por meio de nossas representações usuais.

Um caminho que é aberto, nós o chamamos livre. A entrada e a passagem são dadas. Estas se mostram como o espacial. O que pode ser atravessado nos é conhecido como a espacialidade dos espaços, como sua essência dimensional, uma essência que atribuímos também ao “tempo”, na expressão “espaço de tempo”. Com isso representamos o que provavelmente, por primeiro, encontramos quando nomeamos o “aberto”: uma extensão não-fechada e não-ocupada preparada para a recepção e distribuição de objetos.

O aberto, porém, no sentido da essência da αλήθεια não significa nem espaço nem tempo entendidos usualmente, nem sua unidade, o espaço de tempo, porque tudo isso já empresta sua abertura daquele aberto, que vige na essência do descobrimento. Similarmente, em toda parte onde algo é “livre” de… no sentido de “desligado” “de”, ou é “livre” “para…” no sentido de ser e estar pronto para…, já vem à presença uma liberdade que libera, primeira e justamente, o espaço de tempo como um “aberto” a ser atravessado na extensão e expansão. O “livre de” e o “livre para” já reivindicam uma iluminação, na qual uma separação e uma doação constituem uma liberdade mais original que não pode ser fundada na liberdade do comportamento humano.

Jamais alcançaremos, portanto, o aberto como a essência da αλήθεια simplesmente ampliando o aberto no sentido do “extenso” ou no sentido do “livre”, como usualmente entendido, de modo permanente e progressivo, a modo de um reservatório imenso, que tudo “contém”. Falando de modo rigoroso, a essência do aberto se revela, ela mesma, somente para o pensar que tenta pensar o próprio ser, no modo como nos é pré-anunciado para o nosso destino na história ocidental, como algo a ser pensado no nome e na essência da αλήθεια.

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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