GA45:§§23-24 – Essência, hypothesis e hypokeimenon

Casanova

Assim, para os gregos, a essência e o posicionamento da essência se encontram em um espaço peculiar de lusco-fusco: a essência não é fabricada, mas também não é encontrada como uma coisa presente à vista. Ao contrário, ela é vista intencionalmente, trazida à tona. De onde – para onde? Do não visto para o visível, do não pensado para o que precisa ser a partir de então pensado. O ver intencional da ideia, da essência, é, por conseguinte, um modo originariamente próprio da apreensão, e é preciso que corresponda a ele também um modo próprio de “fundamentação”.

§ 24. O ver intencional da essência como fundação do fundamento. ὑπόθεσις como θέσις do ὑποχείμενον

Como as coisas se encontram, portanto, em relação àquilo pelo que propriamente perguntamos, em relação à fundamentação da apreensão da essência? Se essa apreensão é um ver intencional, um trazer-à-tona, então ela não pode se orientar (se retificar) anteriormente por algo presente à vista, para deduzir daí algo. Porque é só por meio da visão intencional que a essência e, com isso, aquilo pelo que o orientar-se em geral poderia se orientar são trazidos à luz. Na visão intencional ainda não é possível um orientar-se (retificar-se) por algo previamente dado, porque a própria visão intencional leva a termo pela primeira vez a doação prévia.

Como não é nem possível nem necessário aqui a adequação a algo previamente dado, também não pode haver nenhuma fundamentação no sentido antes definido. A visão intencional da essência não é fundamentada, mas fundada, isto é, ela é levada a termo de tal modo que traz a si mesma para o fundamento que estabelece. A visão intencional da essência é ela mesma fundação do fundamento – instauração daquilo que deve ser fundamento, ὑποκείμενον. Por isso, a visão intencional como o trazer à tona fundante da essência como ideia é ὑποθεσις – estabelecer o próprio ser-o-que como o fundamento.

ὑποθεσις designa aqui a θέσις do ὑποκείμενον e não significa, por exemplo, tal como o conceito posterior de “hipótese”, uma suposição que é feita a fim de colocar à prova, a partir de seu fio condutor e segundo determinado aspecto, o experienciável. Ao contrário, todas as hipóteses no sentido moderno – hipóteses de trabalho relativas à pesquisa sobre a natureza, por exemplo – já sempre pressupõem o estabelecimento de uma essência determinada do ente visado, com cuja base as hipóteses de trabalho conquistam pela primeira vez um sentido. Toda “hipótese” já pressupõe uma ὑποθσις, um posicionamento da essência. A visão intencional da essência é estabelecimento do fundamento e ela se funda naquilo que ela intencionalmente vê. Ao mesmo tempo, ela vê intencionalmente aquilo em que ela se funda.

Xolocotzi Yáñez

Rojcewicz

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress