GA40:87-88 – caso “ser” nada significasse…

Carneiro Leão

Sem embargo, antes de procurarmos apreender, em sua verdade, o que ocorre com esse fato (a unidade ser e não-ser), tentemos ainda, e pela última vez, tomá-lo, como algo conhecido e banal. Suponhamos, que esse fato simplesmente não exista. Admitamos, que não haja essa significação indeterminada, e que não entendamos sempre, o que “ser” significa. O que ocorreria nesse caso? Apenas um nome e um verbo de menos em nossa linguagem? De forma alguma. Já não haveria simplesmente linguagem alguma. O ente já não se nos manifestaria, como tal, em palavras. Já não haveria nem quem nem o que se pudesse falar e dizer. Pois dizer e evocar o ente, como tal, inclui em si compreender de antemão o ente, como ente, i.é o seu ser. Suposto que simplesmente não compreendêssemos o Ser, suposto que a palavra, “ser”, não tivesse nem mesmo aquela significação flutuante, então já não haveria nenhuma palavra. Nós mesmos nunca poderíamos ser aqueles que falam. Já não poderíamos ser aquilo que somos. Pois ser homem significa ser um ente que fala. O homem só pode ser aquele, que fala “sim” e “não”, por ser no fundo de sua Essencialização, um falante, o falante. É essa a sua grandeza e, ao mesmo tempo, a sua miséria. É o que o distingue da pedra, do vegetal, do animal mas também dos deuses. Ainda que tivéssemos mil olhos e mil ouvidos, mil mãos e mil outros sentidos e órgãos, se, porém, a nossa Essencialização não con-sistisse no poder da linguagem, permanecer-nos-ia fechado e vendado todo ente: o ente, que nós mesmos somos, não menos do que o ente, que nós mesmos não somos.

Kahn

Fried & Polt

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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