GA40:15-16 – latinização dos termos filosóficos

Carneiro Leão

No tempo do primeiro e decisivo desabrochar da filosofia ocidental entre os gregos, por quem a investigação do ente como tal na totalidade teve seu verdadeiro Princípio, chamava-se o ente de physis. Essa palavra fundamental, com que os gregos designavam o ente, costuma-se traduzir com “natureza”. Usa-se a tradução latina, “natura”, que propriamente significa “nascer”, “nascimento”. Todavia já com essa simples tradução latina se distorceu o conteúdo originário da palavra grega, physis; destruiu-se a força evocativa, propriamente, filosófica da palavra grega. Isso vale não apenas para a tradução latina dessa palavra, mas também de todas as outras traduções da linguagem filosófica da Grécia para a de Roma. O processo de tradução do grego para o “romano” não é algo trivial e inofensivo. Assinala ao invés a primeira etapa no processo, que deteve e alienou a Essencialização originária da filosofia grega. A tradução latina se tornou então normativa para o Cristianismo e a Idade Média Cristã. Daqui se transferiu para a filosofia moderna, que, movendo-se dentro do mundo de conceitos da Idade Média, criou as ideias e termos correntes, com que ainda hoje se entende o princípio da filosofia ocidental. Tal princípio vale como algo, que os homens de hoje pretendem já ter de há muito superado.

Aqui, porém, saltaremos por cima de todo esse processo de desfiguração e decadência, para tratar de reconquistar a força evocativa indestrutível da linguagem e das palavras. Pois as palavras e a linguagem não constituem cápsulas, em que as coisas se empacotam para o comércio de quem fala e escreve. É na palavra, é na linguagem, que as coisas chegam a ser e são. Por isso o abuso da linguagem no simples “bate-papo” 1, nos jargões e frases feitas nos faz perder a referência autêntica com as coisas. [GA40CL:43-44]

Pilári

Kahn

Fried & Polt

Original

  1. BATE-PAPO=GEREDE: A palavra alemã, “das Gerede” (= conversa, falatório) terra um matiz pejorativo de “conversa fiada”. Preferimos a gíria, “bate-papo” em razão do caráter plástico da expressão.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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