GA29-30:413-415 – formação de mundo

Casanova

Gostaríamos de definir agora antecipadamente o lugar do problema através da explicitação genérica do que temos em vista por formação de mundo. Segundo a tese, mundo faz parte da formação de mundo. A abertura do ente enquanto tal na totalidade, o mundo, forma-se; e mundo só é o que é em uma tal formação. Quem forma o mundo? Segundo a tese, o homem. Mas o que é o homem? Ele forma o mundo mais ou menos do mesmo modo como forma um coro ou forma o mundo porque é essencialmente homem? “O homem” – assim como o conhecemos ou como aquele que na maioria das vezes não conhecemos? O homem, tendo em vista que ele mesmo é possibilitado em seu ser-homem por algo? Em parte, a possibilitação consistiria justamente no que estabelecemos como a formação de mundo? Pois as coisas não se dão de tal modo que os homens existem e lhes ocorre entre outras coisas formar um mundo. Ao contrário, a formação de mundo acontece, e, somente por sobre o fundamento deste acontecimento, um homem pode existir. O homem qua homem é formador de mundo; e isto não significa: o homem tal como ele perambula pela rua, mas o ser-aí no homem é formador de mundo. Utilizamos intencionalmente a expressão “formação de mundo” em uma plurivocidade de sentidos. O ser-aí no homem forma o mundo: 1. ele o instala; 2. ele fornece uma imagem, um aspecto do mundo, ele o apresenta; 3. ele o perfaz, ele é o que enquadra e envolve.

Teremos de justificar esta significação tripla do verbo formar através de uma interpretação mais exata do fenômeno do mundo. O fato de falarmos deste sentido triplo de mundo é um jogo de linguagem? Certamente! De maneira mais exata, ele implica uma disposição para entrar em seu jogo. Este jogo de linguagem não é lúdico, mas emerge de uma legalidade que antecede a toda “lógica” e requer um engajamento mais profundo do que a simples obediência a regras de formação de definições. Sem dúvida – junto a este entrar no jogo da linguagem que é intrínseco ao filosofar reside muito próximo o perigo de cairmos em joguetes e de nos emaranharmos com suas teias. Não obstante, precisamos nos arriscar neste jogo, para como ainda veremos mais tarde – escaparmos do fascínio do discurso cotidiano e de seus conceitos. No entanto, mesmo se quiséssemos admitir que o termo mundo designa a forma subjetiva da apreensão do ente em si, de modo que não há absolutamente nenhum ente em si e tudo transcorre apenas no interior do sujeito, teríamos de perguntar entre muitas (367) outras coisas: como é que o homem pode chegar mesmo efetivamente a uma apreensão subjetiva do ente, se o ente não se encontra de mais a mais aberto anteriormente para ele? Como as coisas estão em relação a esta abertura do ente enquanto tal? Se o “na totalidade” já pertence a esta abertura, então ele não é de qualquer modo retirado da subjetividade do homem, isto é. de seu respectivo arbítrio momentâneo?

Daniel Panis

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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