GA29-30:397-398 – ente enquanto ente (Seiendem als Seiendem)

Casanova

Se passarmos da discussão da tese “o animal é pobre de mundo” para a discussão da tese “o homem é formador de mundo” e nos perguntarmos pelo que, do que vimos até agora, trazemos conosco para a caracterização da essência do mundo, então vem à tona formalmente o seguinte: ao mundo pertence a abertura do ente enquanto tal, do ente enquanto ente. Nisto reside: juntamente com o mundo vem à tona este enigmático “enquanto”, o ente enquanto ente. Falando de maneira formal: “algo enquanto algo” está associado com o mundo – o que, pelo modo de ser do animal, está vedado para ele. Somente onde o ente se revela em geral enquanto ente subsiste a possibilidade de experimentar este e aquele ente determinado enquanto este e aquele – experimentar no sentido amplo do que se estende para além da mera tomada de conhecimento: experimentar no sentido de fazer experiências com ele. Finalmente, onde se tem a abertura do ente enquanto ente, a ligação com este tem necessariamente o caráter do inserir-se-aí no sentido de deixar e não-deixar-ser o que vem ao encontro. Apenas onde se tem um tal deixar-ser tem-se, ao mesmo tempo, a possibilidade do não-deixar-ser. Em contraposição ao comportamento que tem lugar em meio à perturbação, nós denominamos assumir uma atitude, uma tal ligação totalmente dominada por este deixar-ser do ente enquanto ente. Mas toda e qualquer assunção de uma atitude só é possível na retenção e na contenção. E não há postura 1 (352) senão onde um ente possui o caráter de si próprio, ou, como também dizemos, de uma pessoa. Estes são já caracteres importantes do fenômeno do mundo: 1. a abertura do ente enquanto ente; 2. o “enquanto”; 3. a ligação com o ente enquanto o deixar e não-deixar-ser, o assumir uma atitude em relação a…, a postura e o caráter de si-próprio (ipseidade). Nada disto se encontra na animalidade e na vida em geral. Mas estes caracteres importantes do fenômeno do mundo só nos dizem inicialmente o seguinte: onde quer que nos deparemos com estes caracteres, aí está o fenômeno do mundo. A questão é que o que mundo é e como ele é, se e em que sentido temos o direito de falar efetivamente do ser do mundo, tudo isto é obscuro. Para lançarmos luz, e, com isto, avançarmos em direção à profundidade do problema do mundo, tentaremos mostrar o que significa a expressão formação de mundo.

Panis

McNeill

Original

  1. Heidegger joga aqui com três termos que se estabelecem a partir do mesmo radical do verbo verhalten (assumir uma atitude): Verhaltenheit (retenção), Verhaltung (contenção) e Haltung (postura). (N.T.)[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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