GA29-30:39-40 – verdade [aletheia]

De início, entretanto, poder-se-ia tomar como óbvio que o exprimir-se quanto ao ente deve ser verdadeiro e que o concentrar-se dos sentidos deve se manter na verdade. Mas isso não quer dizer, de modo nenhum, que o exprimir-se e a proposição sobre a φύσις devem ser verdadeiros e não falsos. Ao contrário, vale conceber o que diz aqui o termo “verdade” e como a verdade da φύσις é entendida primevamente pelos gregos. Só entenderemos isso se nos aproximamos da palavra grega ἀλήθεια; o que não podemos fazer de forma alguma através da mera correspondência entre esta palavra e nossa expressão vernacular. Nosso vocábulo “verdade” tem o mesmo caráter que as palavras “beleza”, “plenitude” e outras do gênero. A palavra grega ἀ-λήθεια, no entanto, corresponde aos termos “i-nocente” (Unschuld), “in-finito” (Un-endlich): o que não é “culpado”, o que não é finito. Analogamente, άληθέα designa o que não está velado. Os gregos compreendem, portanto, ao mesmo tempo algo negativo em meio à essência mais interna da verdade, o que corresponde ao prefixo “in” (un). O a- é denominado, na linguagem científica, a-privativo. Ele expressa o fato de que falta algo à palavra na qual ele se inscreve. Na verdade, o ente é arrancado ao velamento. A verdade é entendida pelos gregos como uma presa, que precisa ser arrancada ao velamento [40] em uma discussão, na qual a φύσις tem justamente a tendência a esconder-se. A verdade é a discussão mais intrínseca à essência humana com a totalidade do ente mesmo. Esta discussão não tem nada a ver com a ocupação em demonstrar sentenças, com esta atividade que se empreende em uma escrivaninha.

Para a σοφία, a φύσις está em correlação com ο λόγος, e a ἀλήθεια, com a verdade no sentido de desencobrimento. Esta significação originária da expressão grega não é tão inofensiva quanto foi considerada até agora e quanto se crê que se tem o direito de prosseguir considerando. A verdade mesma é uma presa, ela não está simplesmente aí. Ao contrário, como um desencobrir, ela requer por fim a inserção do ser humano como um todo. A verdade está conjuntamente enraizada no destino do ser-aí. Ela mesma é algo velado, e, como tal, o mais elevado.