O ente que possui nosso modo de ser (Seinsart), mas que nós mesmos não somos, o ente que é a cada vez o outro (Andere), o outro ser-aí, o ser-aí dos outros (Dasein Anderer), não está simplesmente ao nosso lado como um ente por si subsistente (vorhanden) e, entrementes, talvez ainda ao lado de outras coisas. Ao contrário, um outro ser-aí está conosco aí: ele é um CO-SER-AÍ (Mitdasein). Nós mesmos somos determinados por um ser com os outros. Ser-aí e CO-SER-AÍ são um-com-o-outro (Miteinander).
Mas será que o quadro-negro e o giz não são ao mesmo tempo tão reais quanto nós? Tomados isoladamente, eles também não são afinal conosco, conosco ao mesmo tempo aí? E eles não são todos juntos uns com os outros conosco aí e nós com as coisas? Tomado estritamente, não se pode dizer que esses entes são uns com os outros, apesar de precisarmos admitir que o apagador e o giz também subsistem por si ao mesmo tempo com o nosso ser-aí. Um ente que possui o modo de ser do ente por si subsistente nunca pode, contudo, ser-aí conosco porque não lhe advém o modo de ser do ser-aí. Somente o que por si mesmo é ser-aí pode ser um CO-SER-AÍ. Co-ser-aí não significa apenas: ser também ao mesmo tempo, apenas justamente qua ser-aí. É muito mais o modo de ser do ser-aí que traz pela primeira vez para o interior da preposição “com” o sentido propriamente dito. “Com” deve ser tomada como participação, ao passo que estranheza ou estrangeiridade devem ser tomadas como ausência de participação, constituindo apenas uma modulação da participação. O “com” tem, assim, um sentido totalmente determinado e não significa simplesmente “junto a”, tampouco ser junto a um ente que possui o mesmo modo de ser. “Com” é um modo próprio de ser.
Realidade simultânea (Gleichzeitige Wirklichkeit), isto é, ser-real (Wirklichsein) simultaneamente a outros entes, não significa necessariamente ser-um-com-o-outro (Miteinandersein). O giz e o apagador ou mesmo o homem e o giz podem ser ao mesmo tempo reais. No entanto, não podemos dizer desses dois pares que eles são um com o outro. Só o homem e o homem podem ser um com o outro. Portanto, diferenciamos de maneira totalmente genérica o ser real do ente, o que ainda não diz absolutamente nada sobre o modo como eles são juntos e, ao mesmo tempo, o ser real do ente que possui o mesmo modo de ser. Se ele tem o modo de ser do ente por si subsistente, então falamos de um subsistir-por-si-conjuntamente (Zusammen-vor-handensein). Se o ser ao mesmo tempo real tem o modo de ser do ser-aí, falamos de um “um-com-o-outro”. (GA27PT:88-89)