- Casanova
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Casanova
Ao dizermos agora que o termo “mundo” designa o jogo que a transcendência joga, precisamos tomar a palavra “jogo” nesse sentido originário e amplo; por fim, é preciso que tomemos essa palavra em um sentido metafísico. O ser-no-mundo é esse jogar originário do jogo. Todo ser-aí fático precisa se colocar em jogo em vista desse jogar para que possa se inserir na dinâmica do jogar de um tal modo que ele sempre tome faticamente parte no jogo, de uma forma ou de outra, durante a sua existência.
Portanto, é essencial que o entendimento comum não note nada disso, nada desse jogo originário da transcendência, e que ele se horrorize imediatamente ao lhe sugerirem que ele está colocado em um jogo — como é que isso seria possível se tudo tem suas regras e normas fixas, se ele experimenta em tudo uma segurança cômoda? Entregar a existência humana a um jogo? Colocar o homem no jogo da existência? De fato!
Todavia, não podemos esquecer: o termo “jogo” é tomado em um sentido totalmente amplo. Assim, esse jogo é tudo, menos uma “brincadeira”, tudo, menos um mero jogo em oposição à realidade – na transcendência não há absolutamente essa diferença entre jogo e realidade. Antes de tudo, porém, não se caracteriza por jogo o comportamento a cada vez fático, mas sim o que possibilita esse comportamento. Com isso está dito que, de início, esse jogo está justamente velado. Em segundo lugar, o jogo é tomado como algo que se excede e vai mais além, como algo de antemão descerrado.
Um jogo não é a inserção em uma dinâmica de jogo por parte de um sujeito; o que acontece em um jogo é justamente o inverso. Nesse jogo da transcendência, todo e qualquer ente em relação ao qual nos comportamos já se vê envolto por um jogo, assim como todo comportamento já se acha colocado nesse jogo. [GA27MAC:333]