Casanova
Na pergunta acerca da essência da ciência, o horizonte de determinação é desde o começo mais univoco: ciência é um tipo de conhecimento – mas e a visão de mundo? Com efeito, parecemos compreender o que significa “mundo” e o que quer dizer “visão”. No entanto, também se mostra imediatamente que com a expressão “visão de mundo” não temos em mente um ver, um contemplar tomado como uma observação. Também não temos em mente uma contemplação pré-científica ou uma contemplação científica ϑεωρία. Ver tampouco designa a contemplação estética, artística; e isso a tal ponto que chegamos mesmo a atribuir ao próprio artista sempre uma visão de mundo que fala em e a partir de suas obras. Visão também não constitui um ato de intuição qualquer, particularmente enigmático, uma faculdade particular de ver as coisas que estão veladas para outros. Visão de mundo não é nenhuma mera contemplação das coisas, tampouco uma soma do saber sobre elas; visão de mundo é sempre tomada de posição e, com efeito, uma tomada de posição tal que realizamos por convicção própria, seja ela uma convicção própria e expressamente formada, seja ela uma convicção que nós pura e simplesmente compartilhamos com outros ou reproduzimos de outros, uma convicção que acabamos assumindo.
Mais ainda: essa convicção não é algo que “temos” pura e simplesmente, algo de que ocasionalmente fazemos uso, que trazemos conosco assim como uma intelecção alcançada, ou ainda como uma proposição comprovada. Ao contrário, ela é a força fundamental que movimenta nosso agir e todo o nosso ser-aí, mesmo então e justamente então quando não a invocamos expressamente e [250] não tomamos uma decisão recorrendo expressamente e de modo consciente a ela.
“Visão” tem antes aqui o significado de “opinião”, como quando dizemos: “sou dessa ou daquela opinião”; sendo que aqui recorremos a algo de que estamos convencidos, mas que, contudo, não podemos demonstrar e impor aos outros em uma argumentação teórica, uma forma de ver que não remete a coisas individuais quaisquer, mas ao todo do ente.
Isso é expresso no termo “mundo”. Certamente, essa palavra também é plurissignificativa e designa ainda hoje de maneira preponderante o todo do ente no sentido do cosmos, da natureza. Certamente, também falamos de história do mundo e designamos com isso a história em seu todo, a história universal, mas apartando-nos do fluxo da natureza como tal. O fato de a visão de mundo aproximar-se muito fácil e frequentemente da significação mais restrita de imagem de mundo científico-natural é algo que fica patente na tendência que temos de dizer de modo complementar: visão de mundo e visão de vida. Com isso se mostra que a visão caracterizada também diz respeito, ou melhor, que ela está relacionada de maneira central à “vida”, isto é, ao ser-aí.
Dessa maneira, a visão de mundo diz respeito tanto ao ente não dotado do modo de ser do ser-aí (a natureza em um aspecto prático etc.) quanto ao ser-aí. No entanto, não apenas aos dois âmbitos justapostos e tomados em conjunto, mas em sua relação de reciprocidade. No centro, junto à visão do ente na totalidade, encontra-se a “visão de vida”, de tal modo que a visão de vida é em verdade ao mesmo tempo a força atuante e diretriz do próprio ser-aí.
A partir dessa caracterização prévia daquilo que temos em mente com a expressão “visão de mundo” concluímos que esse fenômeno não é simples e que estamos inicialmente muito distantes de uma delimitação conceituai precisa e clara de sua estrutura. No entanto, só conseguiremos alcançar essa estrutura quando tivermos fixado aquilo sobre o que já perguntamos, ou seja, o horizonte de determinabilidade de algo assim como uma visão de mundo. (p. 249-251)
Bei der Frage nach dem Wesen der Wissenschaft ist der Bestimmungshorizont von Anfang an eindeutiger: Wissenschaft ist eine Art von Erkenntnis — aber Weltanschauung? Zwar scheinen wir zu verstehen, weis »Welt« heißt und was »Anschauung« besagt. Aber es zeigt sich auch sofort, daß wir mit Weltanschauung nicht meinen ein Anschauen, Betrachten als Beobachten, weder ein vorwissenschaftliches noch ein wissenschaftliches Betrachten — θεωρία; Schauen meint auch nicht aesthetisches, künstlerisches Betrachten, dies so wenig, daß wir eben dem Künstler selbst je eine Weltanschauung zusprechen, die in und aus seinem Werk spricht. Anschauung ist auch nicht irgend ein besonders geheimnisvoller Akt von Intuition, ein besonderes Veriilögen, Dinge zu sehen, die anderen verborgen sind. Weltanschauung ist kein bloßes Betrachten der Dinge, ebensowenig eine Summe von Wissen über sie; Weltanschauung ist immer Stellungnahme, und zwar solche, in der wir uns aus eigener IJberzeugung halten, sei es aus eigener und eigens gebildeter, sei es aus solcher, die wir lediglich mit- und nachmachen, in die wir hineingeraten sind.
Mehr noch: Diese Überzeugung ist nicht etwas, was wir lediglich »haben«, wovon wir gelegentlich Gebrauch machen, die wir anbringen, so wie eine gewonnene Einsicht, einen bewiesenen Satz, sondern die Weltanschauung ist die bewegende Grundkraft unseres Handelns und ganzen Daseins, auch dann und gerade dann, wenn wir uns nicht ausdrücklich auf sie berufen und im ausdrücklichen bewußten Rückgang auf sie eine Entscheidung treffen.
»Anschauung« hat hier eher die Bedeutung von »Ansicht«, wenn wir sagen: Ich bin der und der Ansicht, wobei wir uns auf etwas berufen, wovon wir gewiß überzeugt sind, was wir dem [234] anderen aber nicht in einer theoretischen Argumentation einfach beweisen und aufdrängen können, eine Ansicht, die^nicht auf beliebige einzelne Dinge geht, sondern auf das Ganze des Seienden.
Das kommt im Ausdruck »Welt« zum Vorschein. Allerdings ist auch dieses Wort vieldeutig, und vorwiegend meint es auch heute noch das Ganze des Seienden im Sinne des Kosmos, der Natur. Allerdings sprechen wir auch von Weltgeschichte und meinen damit die Geschichte im Ganzen, Universalgeschichte, aber doch mit Ausscheidung des Naturablaufs als solchen. Daß Weltanschauung sehr leicht und oft die engere Bedeutung von naturwissenschaftlichem Weltbild nahelegt, bekundet sich darin, daß wir gern ergänzend sagen: Welt- und Lebensanschauung. Damit zeigt sich, daß die charakterisierte Anschauung auch, ja sogar zentral, das »Leben«, d.h. das Dasein betrifft.
Weltanschauung betrifft daher das nichtdaseinsmäßige Seiende (Natur in praktischer Hinsicht u.s.f.) und das Dasein, aber nicht nur beide Bezirke nebeneinander und zusammen genommen, sondern in ihrer wechselseitigen Beziehung. Bei der Anschauung des Seienden im Ganzen steht im Zentrum die »Lebensanschauung«, so zwar, daß die Lebensanschauung zugleich die wirkende und richtunggebende Kraft des Daseins selbst ist.
Aus dieser vorläufigen Kennzeichnung dessen, weis wir mit Weltanschauung meinen, ersehen wir, daß dieses Phänomen nicht einfach ist und daß wir zunächst noch weit entfernt sind von einer klaren und scharfen begrifflichen Umgrenzung seiner Struktur. Diese selbst werden wir aber auch nur erst dann gewinnen, wenn festgelegt ist, wonach wir bereits fragten, nach dem Horizont der Bestimmbarkeit von so etwas wie Weltanschauung. Wohin gehört dergleichen? Als »Anschauung« ist sie eine Verhaltung — oder besser — eine Haltung des Daseins, und zwar eine solche, die das Dasein von Grund aus trägt und bestimmt, in der Weise, daß das Dasein in dieser Haltung sich zum Ganzen des Seienden gestellt sieht und weiß. Die Aufhellung [235] und begriffliche Bestimmung der Wesensstruktur und Funktion von’so etwas wie Weltanschauung wird also nur dann hinreichend gelingen, wenn wir einen entsprechend ursprünglichen Einblick in die Wesensverfassung des Daseins haben. (p. 233-235)