Casanova
Em meio à discussão da diferença entre filosofia científica e filosofia como visão de mundo, é conveniente começar pelo conceito que foi por último nomeado, e, em verdade, pelo termo “visão de mundo” (Weltanschauung). Esse termo em alemão não é nenhuma tradução oriunda do grego ou do latim, por exemplo. Não há uma expressão como κοσμοθεωρία. Ao contrário, Weltanschauung (visão de mundo) é uma cunhagem especificamente alemã. Além disso, ela foi criada de fato no interior da filosofia. É na Crítica da faculdade de julgar de Kant que ela vem à tona pela primeira vez em sua significação natural: a visão de mundo é aí pensada como uma contemplação do mundo dado sensivelmente, ou, como Kant diz, do mundus sensibilis: visão de mundo como concepção pura e simples da natureza em seu sentido mais amplo. É assim que, em seguida, utilizam a palavra Goethe e Alexander von Humboldt. Esse uso desaparece nos anos 30 do século XIX sob a influência de uma nova significação que foi dada à expressão “visão de mundo” por meio dos românticos, principalmente por Schelling. Schelling diz na Introdução ao projeto de um sistema da filosofia da natureza (1799): “A inteligência é produtiva de duas maneiras: ou bem cega e inconscientemente, ou bem livre e conscientemente; ela é inconscientemente produtiva na visão de mundo; conscientemente, na criação de um mundo ideal”1. Aqui, a visão de mundo não é mais simplesmente articulada com a contemplação sensível, mas com a inteligência, ainda que com a inteligência inconsciente. Além disso, enfatiza-se o momento da produtividade, isto é, da formação autônoma da visão. Com isso, a palavra aproxima-se da significação com a qual estamos hoje familiarizados, um modo autorrealizado, produtivo e, por isso, também consciente de apreender e interpretar o todo do ente. Schelling fala de um esquematismo da visão de mundo, isto é, de uma forma esquematizada para as diversas visões de mundo possíveis, que vêm à tona e são formadas faticamente. A visão do mundo assim compreendida não precisa ser realizada com uma intenção teórica e mediante uma ciência teórica. Em sua Fenomenologia do espírito, Hegel fala de uma “visão de mundo moral”2. Görres usa a expressão “visão de mundo poética”. Ranke fala de “uma visão de mundo religiosa e cristã”. Fala-se por vezes de uma visão de mundo democrática, por vezes de uma visão de mundo pessimista ou mesmo da visão de mundo medieval. Schleiermacher diz: “É somente a nossa visão de mundo que torna o nosso saber acerca de Deus completo”. Bismarck escreveu em certa ocasião para a sua noiva: “Há visões de mundo certamente assombrosas em pessoas muito inteligentes”. A partir das formas e possibilidades da visão de mundo que enumeramos fica claro que não se compreende por esse termo apenas a concepção da conexão entre as coisas naturais, mas, ao mesmo tempo, uma interpretação do sentido e da finalidade do ser-aí humano e, com isso, da história. A visão de mundo sempre encerra em si a visão da vida. A visão de mundo emerge de uma meditação conjunta sobre o mundo e o ser-aí humano; e isso, por sua vez, ocorre de maneiras diversas: expressa e conscientemente junto ao particular ou por meio da assunção de uma visão de mundo dominante. Crescemos em uma tal visão de mundo e nos acostumamos com ela. A visão de mundo é determinada pelo entorno: povo, raça, estado, nível de desenvolvimento da cultura. Cada visão de mundo assim expressamente formada surge a partir de uma visão de mundo natural, de uma esfera de concepções do mundo e de determinações do ser-aí humano que são dadas a cada vez de maneira mais ou menos expressa com cada ser-aí. Precisamos distinguir a visão de mundo expressamente formada ou a visão de mundo cultural da visão de mundo natural.
A visão de mundo não é questão de um saber teórico, nem no que diz respeito à sua origem nem em relação ao seu uso. Ela não é retida na memória como um bem cognitivo, mas é antes questão de uma convicção coerente que determina de modo mais ou menos expresso e direto as ações e as transformações da vida. Segundo o seu sentido, a visão de mundo está ligada ao respectivo ser-aí atual. Nessa ligação com o ser-aí, ela funciona como um guia e como uma força para ele em suas preocupações imediatas. Quer a visão de mundo seja determinada por superstições e preconceitos, quer ela se apoie puramente sobre o conhecimento e a experiência científicos, quer mesmo ela surja, tal como normalmente acontece, a partir de uma mistura entre superstição e saber, preconceito e meditação, tudo isso importa pouco, pois nada se altera em sua essência. (GA24MAC:12-14)
En la exposición de la diferencia entre la filosofía científica y la filosofía como concepción del mundo es conveniente comenzar con el último concepto mencionado y, en primer lugar, con la expresión «concepción del mundo» [Weltanschauung]. Esta palabra no tiene traducción, por ejemplo al griego o al latín. No existe una expresión como kosmotheoria; la palabra es una acuñación alemana específica, y, de hecho, fue acuñada dentro de la filosofía. Aparece por primera vez en la Crítica del juicio de Kant donde recibe su sentido natural: Concepción del mundo significa [6] contemplación del mundo que se da sensorialmente o, como Kant dice, del mundus sensibilis. Concepción del mundo como mera aprehensión de la naturaleza en su sentido más amplio. Así usaron posteriormente esta expresión Goethe y Alexander von Humboldt. Este uso murió en los años treinta del pasado siglo por el influjo del nuevo significado que recibió la expresión «Weltanschauung» de los románticos, sobre todo de Schelling. Dice Schelling en la Introducción a un proyecto de un sistema de filosofía natural de 1799: «La inteligencia es productiva en un doble sentido: o ciega e inconsciente o libre y con conciencia; productiva sin conciencia, en la concepción del mundo, con conciencia en la creación de un mundo ideal». Aquí «concepción del mundo» ya no se aplica a la contemplación sensible, sino a la de la inteligencia, si bien a la inconsciente. Además se hace hincapié en el elemento de la productividad, esto es, el de la construcción espontánea de la intuición [Anschauung]. De esta forma, la expresión se aproxima al significado que conocemos hoy, una manera de comprender e interpretar la totalidad del ente, que es productiva, que se efectúa por sí misma, y que es también consciente. Schelling habla de un esquematismo de la concepción del mundo, es decir, de una forma esquematizada para las diferentes concepciones del mundo posibles, tanto las que de hecho se dan como las que se puedan elaborar. La visión del mundo entendida de esta forma no precisa ser realizada con intención teorética y mediante las ciencias teoréticas. Hegel habló, en su Fenomenología del Espíritu, de una «concepción moral del mundo». Görres usó el giro «concepción poética del mundo». Ranke habló de la «concepción del mundo religiosa y cristiana». Aquí se habla de una concepción del mundo democrática, allí de concepción del mundo pesimista o de concepción del mundo medieval. Schleiermacher dice: «Es sólo nuestra concepción del mundo la que [7] hace completo nuestro saber sobre Dios». Bismarck escribió en cierta ocasión a su prometida: «Hay concepciones del mundo ciertamente asombrosas en personas muy inteligentes». A partir de las formas y posibilidades de las concepciones del mundo enumeradas se hace claro que bajo este término se entiende no sólo la comprensión del conjunto de las cosas de la naturaleza, sino asimismo la interpretación del sentido y del fin del Dasein humano y, con ello, de la historia. La concepción del mundo comprende siempre dentro de sí una visión de la vida [Lebensanschauung]. La concepción del mundo surge de una interpretación total del mundo y del Dasein humano y esto ocurre, a su vez, de diferentes maneras: explícita y conscientemente en algunos o mediante la aceptación de la concepción del mundo dominante. Crecemos en una concepción del mundo y nos acostumbramos a ella. La concepción del mundo está determinada por el ambiente: pueblo, raza, posición, grado de desarrollo de la cultura. Toda concepción del mundo construida, pues, individualmente, surge de una concepción natural del mundo, de un ámbito de formas de comprender el mundo y de determinar el Dasein humano, que se hallan en cada caso dadas, más o menos expresamente, en todo Dasein humano. Ha de distinguirse la concepción natural del mundo de la concepción del mundo expresamente construida o concepción cultural del mundo.
La concepción del mundo no es asunto de un saber teorético, ni por lo que respecta a su origen ni por lo tocante a su uso. No se la conserva en la memoria como un conocimiento [Wissensgut], sino que es el objeto de una convicción coherente que determina, más o menos expresamente, la acción y la elección. Por su sentido, la concepción del mundo se refiere al Dasein de cada época. Gracias a esta referencia al Dasein, es orientación y fuerza para este en sus preocupaciones inmediatas. Que la concepción del mundo esté determinada por supersticiones y prejuicios o que se apoye solamente en conocimientos y experiencias científicas o incluso, lo que es lo normal, que se mezclen en ella supersticiones y saberes, prejuicios y conocimientos, da igual y no cambia su esencia. (GA24JJGN:5-7)
Bei der Erörterung des Unterschieds von wissenschaftlicher Philosophie und Weltanschauungsphilosophie gehen wir passend vom letztgenannten Begriff aus, und zwar zunächst vom Wortbegriff »Weltanschauung«. Dieses Wort ist keine Übersetzung etwa aus dem Griechischen oder Lateinischen. Einen Ausdruck wie κοσμοθεωρία gibt es nicht, sondern das Wort ist eine spezifisch deutsche Prägung, und zwar wurde es innerhalb der Philosophie geprägt. Es taucht zuerst in Kants »Kritik der Urteilskraft« in seiner natürlichen Bedeutung auf: Weltanschauung im Sinne von Betrachtung der sinnlich [6] gegebenen Welt oder, wie Kant sagt, des mundus sensibilis, Weltanschauung als schlichte Auffassung der Natur im weitesten Sinne. So gebrauchen das Wort dann Goethe und Alexander von Humboldt. Dieser Gebrauch stirbt in den dreißiger Jahren des vorigen Jahrhunderts ab unter dem Einfluß einer neuen Bedeutung, die dem Ausdruck »Weltanschauung« durch die Romantiker, in erster Linie durch Schelling, gegeben wurde. Schelling sagt in der »Einleitung zu dem Entwurf eines Systems der Naturphilosophie« (1799): »Die Intelligenz ist auf doppelte Art, entweder blind und bewußtlos, oder frei und mit Bewußtsein produktiv; bewußtlos produktiv in der Weltanschauung, mit Bewußtsein in dem Erschaffen einer ideellen Welt«.3 Hier ist Weltanschauung nicht ohne weiteres dem sinnlichen Betrachten zugewiesen, sondern der Intelligenz, wenngleich der bewußtlosen. Ferner ist das Moment der Produktivität, d. h. des selbständigen Bildens der Anschauung betont. So nähert sich das Wort der Bedeutung, die wir heute kennen, einer selbstvollzogenen, produktiven und dann auch bewußten Weise, das All des Seienden aufzufassen und zu deuten. Schelling spricht von einem Schematismus der Weltanschauung, d. h. von einer schematisierten Form für die verschiedenen möglichen faktisch auftretenden und gebildeten Weltanschauungen. Die so verstandene Anschauung der Welt braucht dabei nicht in theoretischer Absicht und mit den Mitteln theoretischer Wissenschaft vollzogen zu werden. Hegel spricht in seiner »Phänomenologie des Geistes« von einer »moralischen Weltanschauung«.4 Görres gebraucht die Wendung »poetische Weltanschauung«. Ranke spricht von der »religiösen und christlichen Weltanschauung«. Bald ist die Rede von demokratischer, bald von pessimistischer Weltanschauung oder auch von der mittelalterlichen Weltanschauung. Schleiermacher sagt: »Unser Wissen um Gott ist erst vollendet [7] mit der Weltanschauung.« Bismarck schreibt einmal an seine Braut: »Es gibt doch wunderliche Weltanschauungen bei sehr klugen Leuten«. Aus den auf gezählten Formen und Möglichkeiten der Weltanschauung wird deutlich, daß darunter nicht nur die Auffassung des Zusammenhangs der Dinge der Natur, sondern zugleich die Deutung des Sinnes und Zweckes des menschlichen Daseins und damit der Geschichte verstanden wird. Weltanschauung begreift immer in sich Lebensanschauung. Die Weltanschauung erwächst einer Gesamtbesinnung auf Welt und menschliches Dasein, und das wiederum in verschiedener Weise, ausdrücklich und bewußt bei den einzelnen oder durch Übernahme einer herrschenden Weltanschauung. Man wächst in einer solchen auf und lebt sich in sie hinein. Die Weltanschauung ist bestimmt durch die Umgebung: Volk, Rasse, Stand, Entwicklungsstufe der Kultur. Jede so eigens gebildete Weltanschauung erwächst einer natürlichen Weltanschauung, einem Umkreis von Auffassungen der Welt und Bestimmungen des menschlichen Daseins, die jeweils mit jedem Dasein mehr oder minder ausdrücklich gegeben sind. Wir müssen von der natürlichen Weltanschauung die eigens gebildete oder die Bildungsweltanschauung unterscheiden.
Die Weltanschauung ist nicht Sache eines theoretischen Wissens, weder hinsichtlich ihres Ursprungs noch bezüglich ihres Gebrauchs. Sie wird nicht einfach wie ein Wissensgut im Gedächtnis behalten, sondern sie ist Sache einer zusammenhaltenden Überzeugung, die mehr oder minder ausdrücklich und direkt Handel und Wandel bestimmt. Die Weltanschauung ist ihrem Sinne nach auf das jeweilige heutige Dasein bezogen. Sie ist in dieser Bezogenheit auf das Dasein Wegweisung für dieses und Kraft für es in seiner unmittelbaren Bedrängnis. Ob die Weltanschauung durch Aberglauben und Vorurteile bestimmt ist oder ob sie sich rein auf wissenschaftliche Erkenntnis und Erfahrung stützt oder gar, was die Regel ist, ob sie aus Aberglauben und Wissen, aus Vorurteil und Besinnung sich mischt, das gilt gleichviel, ändert an ihrem Wesen nichts. (p. 5-7)