GA24:103-104 – ontologia pelo logos

Casanova

(…) Na tentativa de esclarecer o ser, os gregos seguem na mesma direção que Kant, quando eles remontam ao λόγος. Ο λόγος possui o elemento peculiar de tornar manifesto, de descobrir ou descerrar algo; uma distinção que não foi feita nem pelos gregos nem tampouco pela filosofia moderna. Como comportamento fundamental da ψυχὴ, ο λόγος é um ἀληθεύειν, o tornar manifesto, que é (112) peculiar à ψυχὴ no sentido mais amplo possível ou ao νοῦς, termos que são mal compreendidos, se os traduzimos sem pensar como alma e espírito e os orientamos pelos conceitos correspondentes. A ψυχὴ fala consigo mesma sobre o ser, diz Platão, ela debate inteiramente consigo mesma o ser, o ser-outro, a mesmidade, movimento, quietude e coisas do gênero, ou seja, ela já compreende junto a si mesma coisas tais como ser, realidade efetiva, existência etc. Ο λόγος ψυχῆς é o horizonte, no qual todo procedimento que procure esclarecer algo do gênero do ser e da realidade efetiva tem de entrar. Toda filosofia, como quer que ela conceba o “sujeito” e o coloque no centro da investigação filosófica, recorre em meio ao esclarecimento dos fenômenos fundamentais ontológicos à alma, ao espírito, à consciência, ao sujeito, ao eu. A ontologia antiga tanto quanto a ontologia medieval não são, tal como a ignorância habitual acredita, uma ontologia puramente objetiva com o alijamento da consciência, mas o seu elemento peculiar é o fato de a consciência e o eu serem tomados como sendo no mesmo sentido que o elemento objetivo. Isso manifesta-se no fato de a filosofia antiga ter orientado sua ontologia pelo λόγος. Ao mesmo tempo, poder-se-ia dizer com uma certa razão que a ontologia antiga seria uma lógica do ser. Isso é correto, na medida em que o λόγος é o fenômeno que deve esclarecer o que significa ser. A “lógica” do ser, contudo, não significa que os problemas ontológicos seriam reconduzidos aos problemas lógicos no sentido da lógica escolástica. O recurso ao eu, à alma, à consciência, ao espírito e ao ser-aí é necessário por razões materiais determinadas.

Hofstadter

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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