GA21:220-222 – o fenômeno Sorge (cura – cuidado)

nossa tradução

Enquanto ser-no-mundo – isto é, como sendo familiarizado com o mundo – a existência (Dasein) está fora em seu mais próprio sendo como o que está concernida sobre. O tipo básico de ser (Sein) de um ente que é de tal maneira que, por ser, se importa com esse mesmo ser (Sein) – esse tipo de ser (Sein) chamamos de cuidado (Sorge). O cuidado é o modo básico do ser de existência (Sein des Daseins) e, como tal, determina todo tipo de ser (Seinsart) que deriva da estrutura ontológica da existência.

O fenômeno que caracterizamos pelo termo “cuidado” é uma estrutura muito especial da existência, e tudo depende de uma correta interpretação filosófica dele. O ponto crucial não consiste em estabelecer que a existência se preocupa com seu ser. A questão, antes, é interpretar esse fenômeno na direção de uma compreensão primordial do ser.

Claramente, Kant tinha esse estado de coisas em mente quando disse, usando categorias ontológicas tradicionais: humanos pertencem àquelas “coisas cuja existência é um fim em si mesma”. Ou, como ele disse uma vez: “A existência é um fim em si mesma”. Ou ainda, (seres humanos são aqueles) “cuja existência tem um valor absoluto em si mesma”. Kant fornece essas determinações no §2 do Groundwork of the Metaphysics of Morals, 15 e para ele elas são a base e a adequada condição de possibilidade metafísica (isto é, ontológica) do fato de que pode haver um imperativo categórico, isto é, um que pode ser expresso categoricamente em vez de hipoteticamente, assim como os imperativos usuais em uma proposição “se. . . então”. Um imperativo categórico não é precedido por uma condição anterior em relação a algo mais, mas é um imperativo em que a condição abraça categoricamente o condicionado e tem valor absoluto. E esse ente (Seiende) que existe como fim em si mesmo é ser humano (Mensch), ou seja, todo ser racional (vernünftige Wesen).

Com esta citação, mostrarei três coisas: que Kant tinha esta estrutura em mente; que ele também (como é óbvio) expressou esta estrutura em categorias ontológicas tradicionais como “fins”; e que, ao estabelecer e determinar o ser humano como um fim em si mesmo, também entendeu o ser humano como tendo valor absoluto em si mesmo. É bastante claro que o que ele está tentando fazer aqui é determinar mais exatamente a afirmação ontológica de que a existência é um fim em si mesma, introduzindo a noção de valor. Essa é a prova mais clara (não expressa, obviamente) de que, para começar, a determinação “fim em si” é insuficiente para esclarecer o que se entende aqui. Por outro lado, a estrutura que entendemos sob a rubrica de “cuidado” é orientada desde o início, não apenas para caracterizar esse tipo de ser (Seinsart), mas também para entendê-lo em seu ser (Sein) – algo que não era até um problema para Kant.

A questão agora é como entender mais originalmente este fenômeno do cuidado, no qual todos os comportamentos da existência (Verhaltungen des Daseins) se originam, principalmente para o mundo como preocupação (Besorgen), juntamente com todos os seus modos. Quando digo que os modos de comportamento para o mundo (Modi des Verhaltens zur Welt) (incluindo os modos de preocupação) surgem do cuidado, você deve se lembrar de que o cuidado, como o tipo de ser da existência (Seinsart des Daseins), é co-original com a existência como estando em um mundo. No entanto, ainda podemos dizer que em um certo sentido um deles se origina do outro. De qualquer forma, devemos rejeitar o mal-entendido de que a existência é, antes de tudo, algo que se preocupa com seu próprio ser e, de alguma forma, como cuidado isolado, ocasionalmente chega a um mundo em que se preocupa. O caso, antes, é que toda a estrutura da existência pertence ao fenômeno do cuidado, porque o cuidado é o que caracteriza a existência. Então, cuidar é uma determinação da existência; a existência é estar no mundo (Dasein ist als In-der-Welt-sein); e o cuidado é ao mesmo tempo uma preocupação (Besorgen) a priori. Portanto, a possibilidade de esclarecer os fenômenos de a priori deixar algo nos encontrar ou de ser a priori familiar com alguma coisa – e, em geral, o fenômeno de se preocupar – depende de até que ponto conseguirmos tornar o cuidado acessível.

Círia

Sheehan

Original

  1. Siendo estas lecciones sobre lógica previas a la publicación de Ser y tiempo, traducimos Sorge del modo más sencillo, como «preocupación». (N del T.)[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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