GA20: § 20. O conhecimento como modo derivado do ser-em do estar-aí

Desde cedo a relação do estar-aí com o mundo foi primariamente determinada a partir dos modos de ser do conhecimento, ou, como se diz, o que, entretanto, não se cobre com a primeira expressão usada, a “relação do sujeito com o objeto” foi primeiramente concebida primariamente como “relação cognoscitiva” e então foi incorporada posteriormente uma assim chamada “relação prática”. Mesmo que fosse viável conceber este modo de ser como o modo primário, no sentido do ser cognoscente no mundo, o que não é viável, então tudo depende de primeiro vê-lo (este modo de ser) autenticamente sob o ponto de vista fenomenal.

Para o modo de ver corrente, quando se reflete sobre esta relação de ser entre sujeito e objeto, é dado previamente, no sentido mais lato, um ente denominado natureza, que é conhecido, o qual o estar-aí, pelo fato mesmo de que este é ser-no-mundo, primeiramente também já sempre encontra, cultiva e arranja. Neste ente o conhecimento mesmo que é conhecido não pode ser encontrado. Assim, este conhecimento deve estar em alguma outra parte, caso realmente exista. Mas também na coisa que é e que conhece, na coisa-homem, não está presente o conhecimento e por isso ele não é tão perceptível, constatável como a cor e a extensão desta coisa-homem. Mas o conhecer parece, contudo, dever estar nesta coisa; e, se não do lado de “fora”, então “dentro”. Este conhecer está “dentro”, “em” esta coisa-sujeito, in mente.

“Com quanto mais clareza, no entanto, se persiste que o conhecer está impropriamente e primeiramente ‘dentro’, tanto mais sem fundamento se acredita poder proceder na questão da essência do conhecimento e na determinação da relação de ser, na qual o sujeito está para o objeto. Pois é, então, que surge a pergunta: Como é que o conhecer, que segundo seu ser está dentro, no sujeito, chega a sair da sua ‘esfera interior’ para uma ‘outra esfera exterior’, para o mundo?”


Em toda a extensão do ponto de partida desta questão, mesmo que ele seja apresentado envolto numa problemática de teoria do conhecimento, se é cego para o que com isto se afirma sobre o estar-aí, quando se lhe atribui conhecer como modo de ser. Com isto se afirma nada mais nada menos que; Conhecimento do mundo é um modo de ser do estar-aí e um modo de ser que está onticamente fundado em sua constituição fundamental, o ser-no-mundo.

Se reproduzirmos o conteúdo fenomenal da seguinte maneira: Conhecer é um modo de ser do ser-em, então se tende, orientado no horizonte tradicional da teoria do conhecimento, a responder: Com esta interpretação do conhecimento é justamente destruído o problema do conhecimento. Haverá, no entanto, uma instância que decida se e em que sentido deva existir um problema do conhecimento, fora a coisa mesma? Se nós perguntamos pelo modo de ser do próprio conhecimento, então desde o início convém atentarmos que: Qualquer conhecimento se realiza já sempre na base do modo de ser do estar-aí, modo de ser que denominamos “ser-em”, isto é, o já-sempre-estar-junto-de-um-mundo. Conhecimento não é um comportamento que começa num ente que ainda não “tem” mundo, que estivesse livre de qualquer relação com o seu mundo; conhecimento é sempre um modo de ser do estar-aí na base de seu já-estar-junto-do-mundo.

A falha fundamental da teoria do conhecimento reside precisamente no fato de ela não ver o que designa ‘conhecer’, no seu conteúdo originário fenomenal como modo de ser do estar-aí, como modo de ser do ser-em do estar-aí, para então a partir deste enfoque básico se ater ao questionamento que parte deste fundamento (Boden).