GA19:175-176 – o prazer do manter-se-junto-ao-que-é-sempre

Casanova

4. Esse θεωρεῖν (essa contemplação teórica) da σοφία (sabedoria) é aquela ἐνέργεια (presença em ato) que é ἡδίστη (prazerosa – a2). Aristóteles fundamenta essa posição da seguinte maneira: (…) (Além disso, a opinião comum nos diz que a felicidade precisa estar associada com o prazer – a22ss.). Nós achamos que uma disposição correspondente, a ἡδονή (o prazer), o alegrar-se, está misturada com o ser propriamente dito. Em geral, é constitutivo do ser de um vivente o ser-afinado-de-tal-e-tal-modo em relação àquilo com o que e para o que o vivente é. Essa constituição fundamental, que pertence à vida, não pode faltar no nível mais elevado de um vivente. Trata-se da questão de saber que tipo de ser confere a mais pura ἡδονή (o mais puro prazer), (…) (Ora, entre todas as atividades consonantes com a virtude, a atividade voltada para a sabedoria é assumidamente a mais rica em prazer e a mais venturosa – a23ss.). Há consonância em relação à concepção segundo a qual também corresponde ao estar presente junto ao ente κατά τήν σοφίαν, de acordo com a pura contemplação, a mais pura alegria. Esse puro manter-se-junto-a, o puro estar-presente-junto-a, é em si o mais puro estar afinado no sentido mais amplo do termo. A pureza e a firmeza desse ser-afinado característico da pura contemplação só se torna compreensível, por sua vez, a partir do tema, a partir daquilo que é sempre. O ser sempre não tem de modo algum a possibilidade de (199) trazer consigo uma perturbação, uma transformação, uma confusão para o comportar-se do homem como aquele que investiga, ou seja, não tem de modo algum a possibilidade de destruir a sua tonalidade afetiva desde a raiz. O homem permanece, na medida em que se mantém junto à coisa, na mesma tonalidade afetiva. Por isso, no manter-se-junto-ao-que-é-sempre, há a possibilidade da διαγωγή, da pura estada que não tem mais a inquietude da busca. Para os gregos, o buscar aponta para o desencobrimento do velado, do λανθάνον. O buscar é o ainda-não-se-encontrar-diante-do-ser-desvelado, enquanto a pura estada do ser sapiente, do ver, do ter-em-vista, implica o manter-se junto ao ente em seu desvelamento. Por isso, Aristóteles pode dizer dos antigos, na medida em que eles eram filósofos autênticos, o seguinte: (…) (Metafísica l, 3; 983b2ss.), “eles filosofavam sobre a verdade”, ou seja, não: eles filosofavam sobre o conceito de verdade e coisas do gênero, mas: eles eram amigos, eles se decidiram pelo puro desencobrimento do ser em seu caráter desvelado. [GA19MAC:198-199]

Rojcewicz & Schuwer

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Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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