GA19: aletheia e linguagem

Casanova

Ο ἀληθεύειν (desvelamento) mostra-se, portanto, de início no λέγειν (falar). Ο λέγειν, falar, é a constituição fundamental do ser-aí humano. Na fala, ele se exprime, de tal modo que fala sobre algo, sobre o mundo. Esse λέγειν (falar) era para os gregos algo tão presente e cotidiano, que eles conquistaram a definição do homem com vistas a esse fenômeno e a partir dele, determinando-o como ζῷον λόγον ἔχον (ser vivo que possui linguagem). Juntamente com essa definição, temos a definição do homem como aquele ente que calcula, ἀριθμειν. Calcular não significa aqui simplesmente contar, mas contar com algo, ser calculador; foi apenas a partir desse sentido originário de contar que se formou, então, o número.

Aristóteles determina ο λόγος (discurso) – que foi designado mais tarde como enuntiatio e juízo – em sua função fundamental como ἀπόφανσις (mostração), como ἀποφαίνεσθαι (como ser mostrado), como δηλοῦν (tornar claro). Seus modos de realização são a κατάφασις (afirmação) e a ἀπόφασις (negação), a atribuição e a denegação, que foram designados mais tarde como juízo positivo e juízo negativo. Também a ἀπόφασις, a denegação de uma determinação, se mostra como um desencobrir que deixa ver. Em todos esses modos de fala, o falar, φάναι, é um modo de ser da vida. Como elocução, o falar não é nenhum mero som, ψόφος, mas um ψόφος σημαντικός, um som que indica algo, ele é φωνή (som) e ἑρμηνεία (linguagem compreensível): ἡ δε φωνή ψόφος τις εστιν ἐμψυχου (De anima ß, 8; 420b5ss.), “a φωνή é um som que só cabe essencialmente a um ser vivo”. Somente os animais podem emitir sons. A ψυχή (alma) é a οὐσία ζωῆς, ela constitui o ser propriamente dito de um vivente. Aristóteles determina a essência da alma ontologicamente nesse livro: ἡ ψυχή εστιν ἐντελέχεια ἡ πρώτη σῶματος φυσικου δυνάμει ζωήν ἔχοντος (ß, 1; 412a27ss.); “a alma é aquilo que constitui no vivente a sua presença propriamente dita, em um tal ente que é vivente segundo a possibilidade”. Nessa definição, a vida é ao mesmo tempo definida como movimento. Costumamos computar como fazendo parte do fenômeno da vida o movimento. Movimento, porém, não é compreendido aqui apenas como um mover-se do lugar, como movimento locativo, mas como todo e qualquer tipo de movimento, isto é, como μεταβολή, como o estar presente da conversão. Assim, toda πρᾶξις (ação), todo νοεῖν (pensar) é movimento.

O falar, portanto, é φωνή, uma elocução, que possui uma ἑρμηνεία em si, que diz algo sobre o mundo e cujo dito pode ser compreendido. E, como tal elocução, o falar é um modo de ser do vivente, um modo da ψυχή (alma). Esse modo de ser é resumido por Aristóteles como ἀληθεύειν (desvelamento). Assim, em seu ser, ψυχή (alma), a vida humana é interpretativa, ou seja, ela leva a termo ο ἀληθεύειν (desvelamento). Aristóteles não apenas fundamentou ontologicamente esse estado de fato no De anima, mas viu e interpretou pela primeira vez sobre esse solo sobretudo a multiplicidade dos fenômenos, as possibilidades diversas do ἀληθεύειν (desvelar). A interpretação é realizada no livro 6 da Ética a Nicômaco, capítulos 2-6, 1138b35ss. [GA19MAC:17-19]

Rojcewicz & Schuwer

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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