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episteme

segunda-feira 3 de julho de 2023

episteme, epistéme, επιστήμη, ἐπιστήμη

Antecipemos de início a questão acerca do ἐπιστητόν (do que é sabido), […]. “Nós dizemos: o que sabemos não pode ser de outro modo” (Ética a Nicômaco VI, 3, 1139b20ss.); ele precisa ser sempre desse modo. Aristóteles   começa, portanto, com o modo como o ente é compreendido no sentido mais próprio possível do saber. No sentido do saber, temos o seguinte: ὅ ἐπιστάμεθα, “aquilo que nós sabemos”, do qual dizemos: ele é sempre assim. A ἐπιστήμη (ciência) remonta, com isso, a um tal ente que é sempre. Somente aquilo que é sempre pode ser sabido. Pois se aquilo que pode ser de outro modo, […], “chega a se estabelecer fora do saber” (b21ss.), quando eu não estou agora atualmente junto a ele, ele pode entrementes se alterar. Eu mantenho, porém, a minha posição. Se ele se alterou agora, então minha visão se tornou falsa. Em contraposição a isso, o saber é distinto pelo fato de eu continuar sabendo sempre o ente que eu sei, mesmo ἔξω τοῦ θεωρεῖν, mesmo fora do visar direto respectivamente atual. Pois o ente que é objeto do saber é sempre. E isso significa ao mesmo tempo: saber é, portanto, um ter desencoberto; ele é conservação do ser desencoberto do sabido. Ele é um ser posto em relação com o ente do mundo, que dispõe do aspecto do ente. A ἐπιστήμη (ciência) é um ἔξις do ἀληθεύειν (um estado do desvelamento) (b31). Nessa ἔξις (postura), o aspecto do ente é resguardado. Esse ente que é assim sabido nunca pode ser velado; no velamento, ele nunca pode, por fim, se tornar outro, de modo que o saber, então, não seria mais saber algum. Por isso, esse ente pode: γενέσθαι ἔξω τοῦ θεωρεῖν, sair do visar direto respectivamente atual; e ele é de qualquer modo sabido. O saber, portanto, não precisa ser realizado constantemente; eu não preciso visar constantemente de maneira direta ao ente sabido. Ao contrário, o saber é um estar-junto-ao-ente, um dispor-dele-com-vistas-ao-seu-ter-sido-desencoberto, ainda que eu não me encontre diante dele. Como o ente é sempre, meu conhecimento é seguro para mim. Não preciso retornar sempre a ele. Do ente, portanto, que pode ser de outra forma, eu não tenho saber algum — razão pela qual também se diz que o elemento histórico não pode ser propriamente sabido. Esse modo do ἀληθεύειν (desvelamento) da ἐπιστήμη (ciência) é um modo totalmente determinado, para os gregos naturalmente aquele modo que funda a possibilidade da ciência. E por esse conceito de saber que se acha orientado todo o desenvolvimento ulterior e hoje ainda a teoria da ciência. [GA19MAC  :32-33]


Ἐπιστήμη has its foundation in the ἀρχαί; it uses the ἀρχαί as its axioms, the self-evident principles, from which it draws conclusions. Έπιστήμη implicitly co-intends the ἀρχή [1] and τέλος, as well as the εἶδος and ὕλη, of beings. But ἐπιστήμη does not make the ἀρχαί thematic; on the contrary, it only wants to pursue its deliberations following the guiding line of the εἶδος. [GA19RS  :40]
VIDE: episteme

ἐπιστήμη: «ciencia», «conocimiento científico». [GA19  , pp. 28, 31-40 (la ἐπιστήμη como πρᾱξις [praxis] independiente del ἀληθεύειν [aletheuein]), 55, 91-109, 346, 388-389, 408, 523.] [LHDF]


Heidegger discute várias palavras gregas relacionadas a conhecimento. Techne, "habilidade, talento, arte", não é, ele insiste," um ‘fazer’ e produzir, mas o Wissen que sustenta e guia todo brotar humano em meio aos entes" (GA6T1  :97 Cf. GA5  :47s). O correlato (e parente) grego de wissen é eidenai, originalmente "ter visto", portanto " saber", e a fonte de eidos, " forma", e ide a, que Heidegger considera em geral como o que é visto, um "aspecto" (GA21  :56. Cf. SZ  :171). Mas, assim como wissen, eidenai é frequentemente utilizado para saber que, o que etc. Conhecer uma pessoa é às vezes eidenai, às vezes gignoskein, que, com seu substantivo gnosis, tem muitas vezes uma qualidade de conhecimento por familiaridade. Episthastai, "saber etc.", é, para Heidegger, " ser perito [vorstehen, lit. ‘estar diante de’] em algo, entender de algo" — ele o associa (controvertidamente) a histanai, histasthai, " localizar, pôr", "ficar". O substantivo derivado episteme, "conhecimento", significa "aproximar-se de algo, entender daquilo, dominá-lo, penetrar seu conteúdo substancial" (GA29-30  :49). Aristóteles   lhe deu o significado de "ciência", mas em um sentido distinto da "pesquisa [Forschung]" científica moderna e do "experimento" (Cf. GA19  :31ss, 91ss).

Nenhum grande filósofo foi, na visão de Heidegger, um epistemólogo. O cartesianismo é uma ontologia, não uma epistemologia: "Esta história de Descartes  , que veio e duvidou e assim tornou-se um subjetivista e assim fundou a epistemologia, nos dá o retrato mais usual; mas este retrato é no máximo um romance ruim" (GA41  :77); "Descartes   não duvida porque é um cético; ele tem de duvidar porque coloca a matemática como fundamento absoluto e procura uma fundação correspondente para todo Wissen" (GA41  :80). [DH  ]

Observações

[1Editor’s note: in the sense of the ἀρχή τῆς κινήσεως. (Cf. Aristotle’s so-called theory of the four causes, inter alia Met. I, 3, 983a24ff