Didier Franck (2005) – explicitação [Auslegung]

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Qual é a estrutura desta explicitação (Auslegung) da compreensão (Verständnis)? Esta estrutura pode ser analisada em três momentos. Muitas vezes, Heidegger analisa os fenômenos fazendo emergir neles uma estrutura tripla. Existe frequentemente um caráter formal de triplicidade. Isto porque, no fim de contas, tudo o que tem a ver com o Dasein deriva o seu significado da temporalidade, e a temporalidade articula três ekstases. (…) Só se pode compreender o martelo como martelo se já se tiver todo o sistema de referências. A explicitação (Auslegung) baseia-se na aquisição prévia de uma forma (aspecto) posto, e Heidegger chama a esta posição prévia Vorhabe. (…) A explicitação também se baseia sempre numa visão prévia: Vorsicht. Por fim, e aqui mudamos de dimensão, se se trata de explicar, de explicitar o sentido, é sempre necessário dispor de uma conceptualidade, seja ela explicitamente elaborada ou já existente. E, consequentemente, qualquer explicitação pressupõe uma concepção prévia. É aqui que discordo da tradução. Em alemão: Vorgriff, literalmente uma apreensão prévia. Mas ele usa-o em paralelo com Begriff. E a conceptualidade é mencionada na mesma frase. Anticipation (tr. Martineau) soa demasiado a visão prévia. É preciso traduzir literalmente como apreensão prévia, lembrando que se trata de conceptualidade. Em outras palavras, quando se pega no martelo para transformar isto naquilo, só se pode compreender o seu significado se esse significado estiver articulado, e está articulado numa e por uma conceptualidade, que é uma conceptualidade implícita. Estamos sempre dentro de uma conceptualidade. Dito de outra maneira, mesmo que seja demasiado porque ainda não falamos da afirmação, mas Nietzsche diz: “Toda a palavra é um prejulgado.”

original

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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