Birault (1978:472-475) – a essência da verdade é a liberdade

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A afirmação de Heidegger de que a liberdade é a essência da verdade não tem o sentido moderno e, se quisermos, existencialista que lhe queremos dar. Longe de (474) pensar a verdade a partir da liberdade, Heidegger não tardará a relacionar essa mesma liberdade com uma verdade mais originária que a da proposição: a verdade ou a iluminação do ser, o deixar-ser do ser do ente. Podemos já adivinhar que a liberdade como deixar-ser é mais respeitadora do ser das coisas do que o poder plástico de uma compreensão constitutiva ou de uma vontade legisladora. A teoria heideggeriana da liberdade não é menos estranha a qualquer ideia de criação do que a qualquer ideia de constituição. Mas, por outro lado, é evidente que não se trata de regressar às formas passadas do realismo dogmático ou daquela ingenuidade que Nietzsche qualificou de hiperbólica. A liberdade, tal como Heidegger a entende, escapa às definições tradicionais de liberdade. Não é definida em termos de contingência, necessidade ou espontaneidade. Ela deixa ser: este deixar ser é de fato um deixar, mas é também um deixar ser. A liberdade”, escreve Heidegger, “não é apenas aquilo que o senso comum gosta de fazer passar por este nome: o capricho que por vezes surge em nós para inclinar a nossa escolha para este ou aquele lado. A liberdade não é uma simples ausência de constrangimento nas nossas possibilidades de ação ou inação. Mas a liberdade não é, antes de mais, uma questão de estar disponível para uma exigência ou uma necessidade (e, portanto, para um ente qualquer). Antes de tudo isso (antes da liberdade “negativa” ou “positiva”), a liberdade é a entrega à revelação do ser enquanto tal.

original

  1. Ibid., § 3, p. 81 : « Das Wesen der Wahrheit ist die Freiheit. »[↩]
  2. Heidegger, Wegmarken. Vom Wesen der Wahrheit, § 4, p. 84 : « Freiheit ist nicht nur das, was der gemeine Verstand gern unter diesem Namen umlaufen lässt: das zuweilen auftauchende Belieben, in der Wahl nach dieser oder jener Seite auszuschlagen. Freiheit ist nicht die Ungebundenheit des Tun- und Nichttunkönnens. Freiheit ist aber auch nicht erst die Bereitschaft für ein Gefordertes und Notwendiges (und so irgendwie Seiendes). Die Freiheit ist alldem (der “ negativen ” und “ positiven ” Freiheit) zuvor die Eingelasscnheit in die Entbergung des Seienden als eines solchen. »[↩]
Excertos de ,

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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