Naturwissenschaft, science de la nature, ciência da natureza, natural science
A física é, em geral, o conhecimento da natureza, e, em particular, o conhecimento do que é materialmente corpóreo no seu movimento; pois este mostra-se imediatamente e sem excepção, se bem que de modos diferentes, em tudo o que é natural. Se agora a física se configura expressamente numa física matemática, isso quer dizer que através dela e para ela se constitui algo, à partida, marcadamente como o já-conhecido. Este constituir-se diz respeito a nada menos que ao projecto daquilo que, para o conhecimento procurado da natureza, deve ser futuramente natureza: o complexo do movimento, fechado em si, de pontos de massa relacionados espácio-temporalmente. Neste plano da natureza, estabelecido como constituído, estão inscritas, entre outras, as seguintes determinações: o movimento quer dizer mudança de lugar. Nenhum movimento e nenhuma direcção de movimento são destacados relativamente a outros. Cada lugar é igual a qualquer (100) outro. Nenhum ponto do tempo tem primazia relativamente a outro. Cada força determina-se segundo o que – isto é, é apenas o que – tem por consequência em movimento, isto é, como vimos, em grandeza de mudança de lugar, na unidade do tempo. É neste plano da natureza que cada processo tem de ser encaixado. Só no campo de visão deste plano é que um processo natural se torna visível como tal. Este projecto da natureza obtém a sua garantia através de a investigação física, para cada um dos seus passos questionantes, se ligar de antemão a ele. Esta ligação, o (73) rigor da investigação, tem o seu carácter próprio, em cada caso, de acordo com o projecto. O rigor da ciência da natureza matemática é a exactidão. Todos os processos, para poderem ser de todo representados como processos naturais, têm aqui de ser determinados de antemão como grandeza do movimento espácio-temporal. Tal determinação cumpre-se na medição, com a ajuda do número e do cálculo. Contudo, a investigação matemática da natureza não é exacta porque calcula com precisão, mas tem de calcular desse modo porque a ligação à sua área de objectos tem o carácter da exactidão. (GA5BD:100-101)
Permanece verdade: o homem da idade da técnica vê-se desafiado, de forma especialmente incisiva, a comprometer-se com o desencobrimento (Entbergen). Em primeiro lugar, ele lida com a natureza, enquanto o principal reservatório das reservas de energia. Em consequência, o comportamento dis-positivo do homem (bestellende Verhalten des Menschen) mostra-se, inicialmente, no aparecimento das ciências modernas da natureza. O seu modo de representação (Art des Vorstellens) encara a natureza, como um sistema operativo e calculável de forças (berechenbaren Kräftezu-sammenhang). A física moderna não é experimental por usar, nas investigações da natureza, aparelhos e ferramentas. Ao contrário: porque, já na condição de pura teoria, a física leva a natureza a ex-por-se, como um sistema de forças, que se pode operar previamente, é que se dis-põe do experimento para testar, se a natureza confirma tal condição e o modo em que o faz.
Por outro lado, não há dúvida de que as ciências matemáticas da natureza surgiram quase dois séculos antes da técnica moderna. Como, então, já poderiam estar a seu serviço? Os fatos depõem no sentido contrário do que se pretende. A técnica moderna só se pôs realmente em marcha quando conseguiu apoiar-se nas ciências exatas da natureza. Considerada na perspectiva dos cálculos da historiografia, esta constatação é correta. Considerada, porém, à luz do pensamento da História tal constatação não alcança a verdade.
A teoria da natureza, proposta pela física moderna, não preparou o caminho para a técnica, mas para a essência da técnica moderna. Pois a força de exploração, que reúne e concentra o desencobrimento da disposição, já está regendo a própria física, mesmo sem que apareça, como tal, em sua propriedade. A física moderna é a precursora, em sua proveniência ainda incógnita, da com-posição (Ge-stell). A essência da técnica moderna se encobre e esconde, durante muito tempo ainda, mesmo depois de já se terem inventado usinas de força, mesmo depois de já se ter aplicado a técnica elétrica aos transportes ou descoberto a técnica atômica. (GA7CFS:24-25)
VIDE: (Naturwissenschaft->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Naturwissenschaft)
science de la nature
natural science
NT: Natural science (Naturwissenschaft), 9-10, 63, 362, 398, 400 (Yorck). See also Crisis; Law; Thematization (BTJS)
A aplicação deste método (heideggeriano) ao exame das relações entre φύσις (physis) e natureza (Natur) conduz a uma segunda abordagem, não só diferente da primeira, mas que inverte radicalmente os termos. A ordem da relação deve ser lida, segundo Heidegger, da maneira seguinte: φύσις nomeia a captação, pelos Gregos, da manifestação inicial pelo qual todo o ente vem ao aparecer (Erscheinung). E é esta experiência do ente como tal e no seu todo — experiência que nem é científica nem pré-científica, mas fundamentalmente «poética e pensante» (GA40:11. Cf. também GA55:88) — que informa o olhar deles sobre o que os rodeia, e que lhes permite perceber e pensar a «natureza» no sentido restrito: percebê-la como obedecendo, do mesmo modo que os homens, os deuses, o templo ou o poema, à lei de tudo aquilo que é.
Por este fato, muito longe de que a φύσις seja concebida segundo o modelo da natureza, é, ao contrário, a natureza no sentido restrito que era compreendida por eles à luz dessa experiência fundamental hoje perdida. De maneira que o que se chama a φύσις grega não é de modo algum um alargamento da simples «natureza», mas é muito pelo contrário o que chamamos hoje natureza que «tira a sua determinação de uma φύσις que já não era compreendida» (GA55:88), quer dizer que se encontrou restringida ao «físico» (encolhimento efetuado, no entanto, no próprio seio do pensamento grego, pela ocultação da experiência original). (MZHPO:47)