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Historie

sexta-feira 7 de julho de 2023

Historie, enquête historique, historiografia, conhecimento-histórico, história fatual, historiography, historiologia, saber histórico; historisch, historique, histórico

Historie de origem grega através do latim, é a ciência da Geschichte. (Carneiro Leão  )


L’historia, « enquête », par opp. à la Geschichte. Cf. Être et Temps §76.
Como a permanência de fora do ser [Ausbleiben des Seins] é a história do ser [Geschichte des Seins] e, assim, a história [Geschichte] que propriamente é, o ente enquanto tal cai, sobretudo na época do domínio da inessência, no anistórico [Ungeschichtliche]. O indício de tal fato é a emergência da historiologia [Aufkommen der Historie], que levanta a requisição de ser a representação normativa da história [maßgebende Vorstellung von der Geschichte]. Ela toma a história como o passado [Vergangene] e a declara em seu surgimento [Entstehen] como uma conexão de efeitos [Wirkungszusammenhang] demonstrável de maneira causal. O passado assim objetivado por meio de narrativa e explicação aparece no campo de visão daquele presente que realiza respectivamente a objetivação e que, quando vem à tona, declara a si mesmo como o produto do acontecimento passado. Acredita-se saber o que são os fatos e a factualidade, e o que seria efetivamente nesse tipo de passado o ente; e isso porque a objetivação sempre sabe apresentar algum material de fatos e colocá-lo em uma inteligibilidade compreensível para todos e, antes de tudo, “próxima do presente”.

Por toda parte, a situação historiológica [historische Situation] é analisada; pois ela é o ponto de partida e a meta do assenhoreamento do ente no sentido de um asseguramento da posição e das relações do homem em meio ao ente. A historiologia encontra-se consciente ou inconscientemente a serviço da vontade própria às humanidades de se instalar no ente segundo uma ordem abarcável com o olhar. Tanto a vontade do niilismo habitualmente pensado e de sua ação quanto a vontade da superação do niilismo se movimentam no mero computo historiológico do espírito historiologicamente analisado e das situações histórico-mundiais.

Aquilo que a história seria também é questionado por vezes no interior da historiologia, mas sempre apenas de maneira adicional, e, por isso, ora ulteriormente, ora incidentalmente; de qualquer forma, constantemente como se as representações historiológicas da história pudessem fornecer, em meio a uma generalização levada a termo de maneira suficientemente ampla, a determinação da essência da história. Onde a filosofia assume a questão, contudo, e procura apresentar uma ontologia do acontecimento da história, a questão permanece junto à interpretação metafísica do ente enquanto tal.

A história enquanto ser, vinda até mesmo da essência do próprio ser, permanece impensada. Por isso, toda meditação historiológica do homem com vistas à sua situação é uma meditação metafísica, pertencendo, com isso, ela mesma à omissão essencial da permanência de fora do ser. Levar em conta o caráter metafísico da historiologia é necessário, se tivermos de medir a amplitude da meditação historiológica, que se considera por vezes como conclamada, se não a salvar, de qualquer modo a esclarecer o homem que é colocado em jogo na era da inessência autorrealizadora do niilismo. [GA6T2  :385-386; GA6MAC:734]


Ao experimento da investigação da natureza [Experiment der Naturforschung] corresponde, nas ciências do espírito historiográficas [historischen Geisteswissenschaften], a crítica das fontes [Quellenkritik]. Este nome assinala aqui a totalidade da pesquisa de fontes, do inventário, da garantia, da avaliação, da conservação e da interpretação. É certo que a explicação historiográfica [historische Erklärung], fundada na crítica das fontes, não reconduz os factos [Tatsachen] a leis [Gesetze] e regras [Regeln]. Mas também não se limita a um simples relatar dos factos. Nas ciências historiográficas [historischen Wissenschaften], assim como nas ciências da natureza [Naturwissenschaften], o procedimento tende a representar o permanente e a tornar a história [Geschichte] objecto [Gegenstand]. A história só pode tornar-se objectiva [Gegenständlich] quando se tornou passado. O que é consistente no passado, aquilo com base no qual a explicação historiográfica calcula o que é único e o que é múltiplo na história, é o sempre-já-sido-alguma-vez [Immer-schon-einmal-Dagewesene], o comparável [Vergleichbare]. No permanente comparar [Vergleichen] de tudo com tudo, o compreensível é calculado, verificado e fixado como o plano da história [Grundriß der Geschichte]. A explicação historiográfica só alcança até onde se estende a área da investigação historiográfica. [GA5BD  :104-105]
VIDE: HISTORIE E DERIVADOS

História [STMSCC]
enquête historique [ETEM  ]
historiography [BTJS  ]

NT: Historie : enquête historique. — L’histôria, « enquête », par opp. à la Geschichte. Cf. § 76. [ETEM  ]


NT: Historiography (Historie), 10, 20f, 38f, 152-153, 235, 332, 361 (biography), 375-378, 386, 392-397 (§ 76), 398, 400-402, 415, 418 (chronology); of things at hand, 361, 380-381, 388-389; science of, 375, 378, 395, 404; kinds of, 396-397. See also World history [BTJS  ]
NT: ‘In den historischen Geisteswissenschaften . . .’ Heidegger makes much of the distinction between ‘Historie’ and ‘Geschichte’ and the corresponding adjectives ‘historisch’ and ‘geschichtlich’. ‘Historie’ stands for what Heidegger calls a ‘science of history’. (See H. 375 , 378 .) ‘Geschichte’ usually stands for the kind of ‘history’ that actually happens. We shall as a rule translate these respectively as ‘historiology’ and ‘history’, following similar conventions in handling the two adjectives. See especially Sections 6 and 76 below. [BTMR  ]
1. In this section we have relaxed some of our usual conventions in view of the special stylistic character of the quotations from Count Yorck and Heidegger’s own minor inconsistencies in punctuation. In particular, we shall now translate ‘Historie’ as ‘History’ with a capital ‘H’, rather than as ‘historiology.’ [BTMR  :449]
NT: Em geral a língua alemã tem duas palavras que se usam promiscuamente, "Geschichte" e "Historie". "Geschichte" provém do verbo, "geschehen" (= acontecer, dar-se, processar-se), e significa o conjunto dos acontecimentos humanos no curso do tempo. "Historie", de origem grega através do latim, é a ciência da "Geschichte". Em sua filosofia Heidegger distingue rigorosamente as duas palavras, e entende a partir de sua interpretação da História do Ser, "Geschichte" dialeticamente como a iluminação da diferença ontológica. Daí poder falar em "Geschichte" do ente e em "Geschichte" do Ser. Traduzimos "Historie" por historiografia e "Geschichte" do ente por história com minúscula « "Geschichte" do Ser por História com maiúscula. [GA40  ]
Historie, assim como toda ciência, é "primariamente constituída pela tematização" (SZ  , 393). Uma ciência projeta "entes que, já de algum modo, vêm ao encontro": chamamos de tematização a totalidade desse projeto ao qual pertencem a articulação da compreensão ontológica, a delimitação dela derivada do setor de objetos e o prelineamento da conceitualização adequada "ao ente." (SZ  , 363). Dasein é histórico, isto é, "aberto em seu vigor-de-ter-sido [Gewesenheit] na base da temporalidade ecstática", e isto abre caminho para a Historie "tematizar" o passado, Vergangenheit. Heidegger deriva ou "projeta" "a ideia [Idee]" de Historie da historicidade de Dasein, em vez de compilá-la a partir da obra de historiadores atuais. Já que apenas o Dasein é histórico, a Historie estuda Dasein passado, o "Dasein que já se fez presença [dagewesenem Dasein]", em um mundo que esteve presente. (SZ  , 393). Ela o faz com a ajuda de remanescentes e documentos que sobreviveram no mundo atual, mas estes não são os únicos responsáveis pela Historie. Eles " pressupõem o ser histórico em direção ao Dasein que já se fez presença, isto é, a historicidade da existência do historiador". A Historie é autêntica se o historiador aborda o tema de acordo com "a historicidade autêntica e a correspondente descoberta do que esteve aí, repetição". A repetição "compreende o Dasein que vigora por ter sido presente" (SZ  , 394). A "história que vigora por ter sido presente" é então descoberta de tal modo que ‘a força’ do possível impõe-se na existência factual" do historiador. Ela relaciona-se, assim, primordialmente com o futuro do historiador, não com o presente: "a descoberta do historiador temporaliza-se [zeitigt sich] a partir do futuro" (SZ  , 395). A própria história da filosofia de Heidegger exemplifica esta "ideia" de Historie. Ele indaga acerca do "ser". A questão não é primariamente histórica e nem ele já a respondeu: ele espera respondê-la no futuro. Para respondê-la, o historiador precisa ver como filósofos do passado perguntaram e responderam a esta questão, ou talvez a distorceram e suprimiram. Ele precisa considerar o que eles disseram, não como um puro fato, mas como uma possibilidade, em diversos sentidos: uma possibilidade que não está disponível no discurso filosófico do presente; a possibilidade selecionada de um leque de possibilidades alternativas que lhes são abertas; uma possibilidade em direção à qual eles se empenharam, mas não tiveram sucesso em alcançar ou expressar com suas palavras; ou ainda uma possibilidade que podemos endossar no presente. A "ideia" de Heidegger é passível de aplicação, embora menos prontamente, na Historie de outros tipos. Editar textos confiáveis e examinar a "história da tradição [Überlieferungsgeschichte]" pela qual o "vigor de ter sido presente" nos foi transmitido, mas também sobrecarregado por interpretações contestáveis, tem um lugar mais seguro no repertório do historiador autêntico do que "afundar diretamente na ‘visão de mundo’ de uma era" (SZ  , 395s). A historicidade autêntica, porém, não necessariamente dá início à Historie: " Os gregos eram não-historiológicos [unhistorisch], historein visava ao presente e ao ser-simplesmente-dado [Gegenwärtige-Vorhandene], não ao passado [Vergangene] enquanto tal. Mas os gregos eram tão originalmente históricos [geschichtlich] que a própria história lhes permaneceu velada, i.e., não tornou-se o solo essencial da formação de seu ‘Dasein’ (GA65  , 508).

Depois de SZ  , o pensamento de Heidegger tornou-se mais histórico: "O pensar tornou-se mais e mais histórico [geschichtlicher], i.e., a distinção entre a reflexão historiográfica [historischer] e a reflexão sistemática tornou-se ainda mais indefensável e inapropriada" (GA65  , 451). Heidegger era, porém, hostil à Historie tal como praticada pelos outros: "Assim como se toma o ‘subjetivismo’ como algo evidente percorrendo-se a história dos gregos até a atualidade em busca das suas formas, também se persegue historiograficamente [historisch] a história da liberdade, do poder e da verdade. A comparação historiográfica, bloqueia, pois, o caminho para a história" (GA6I, 144/N4, 98). A Historie possui "a mesma essência que a tecnologia" (GA6I, 27/N3, 180). A Historie explica causalmente o passado e o " objetifica", em função do presente, não do futuro. Ela serve à vontade do homem de estabelecer-se em uma "ordem reconhecível" e degenera em jornalismo (N2, 385s/N4, 240s Cf. GA65  , 153, 493). A história do ser e a preparação do outro começo escapam à Historie: "A história só surge quando saltamos diretamente por sobre o historiográfico" (GA65  , 10. Cf. 479). A Historie pensa causalmente, tornando a vida e a experiência acessíveis ao cálculo causal e sendo incapaz de reconhecer que entes históricos têm um modo diferente de ser. Ela subordina seus objetos à exploração e à "reprodução [Züchtung]" (GA65  , 147s). A Historie envolve comparação, e seu "progresso" consiste na substituição de um aspecto de comparação por outro; o aspecto adotado reflete o presente no qual se encontra o historiador. A "descoberta do chamado novo ‘material’ é sempre a consequência, não a razão, do mais recentemente selecionado aspecto da explicação" e comparação (GA65  , 15ls). Nas mãos da Historie, a história torna-se a-histórica: "Sangue e raça tornam-se os portadores da história" (GA65  , 493). [DH  ]


Historie (die), Historizität (die), historisch: «historiografía», «historiograficidad», «historiográfico». Heidegger introduce el concepto de Historie en el tratado de 1924 recientemente editado, El concepto de tiempo. En el marco de su interpretación de la correspondencia entre Wilhelm Dilthey   y el conde Yorck de Wartenburg, Heidegger establece la diferencia entre Historie y Geschichtlichkeit, que luego aparece nuevamente en las Conferencias de Kassel (1925). Historie («historiografía») designa el conocimiento histórico, la ordenación de hechos históricos. Como se señala en el mencionado tratado, «el Dasein puede ser historiográfico (historisch) porque es histórico (geschichtlich») (GA64  , p. 95), es decir, el Dasein sólo puede ordenar y estudiar el pasado porque en su ser es histórico. En la sección IV del tratado, se habla también del carácter historiográfico del Dasein, de su «historiograficidad» (Historizität). Véanse las entradas Geschichte (die) y Geschichtlichkeit (die), geschichtlich. [GA64  , pp. 13, 91-95, 102; KV, p. 174; GA2  , pp. 20, 234,-235, 332, 375-376, 392 (destrucción de la historia de la filosofía), 392-397.] [LHDF]