Entwurf

Entwurf, projet, projeto, project, proyecto, proyección

SZ

«… proyecto…»: en alemán, Entwurf (destacado en el texto original). Esta palabra debe ser entendida en su sentido literal: proyecto significa lo que está lanzado hacia adelante. Y este «delante» debe ser entendido como un futuro. Comprender es esencialmente proyecto o «proyección», como traduce Gaos, porque en él (en el comprender) el Dasein se lanza hacia su futuro y abre ese futuro como posibilidad. (Rivera; STRivera:Notas)


Por que o entender (Verstehen) sempre penetra até as possibilidades (Möglichkeiten), segundo todas as dimensões essenciais do que nele pode se abrir (Erschliessbaren)? Por que o entender tem em si mesmo a estrutura existenciária (existenziale Struktur) do que denominamos projeto (Entwurf). Ele projeta com a mesma originariedade o ser do Dasein sobre o em-vista-de-quê (Worumwillen), assim como o projeta sobre a significatividade (Bedeutsamkeit) como mundidade (Weltlichkeit) do que é cada vez seu mundo. O caráter-de-projeto (Entwurfcharakter) do entender constitui o ser-no-mundo quanto à abertura (Erschlossenheit) do seu “aí” como o “aí” de um poder-ser (Seinkönnen). O projeto é a existenciária constituição-de-ser do espaço-de-jogo do poder-ser factual. (Der Entwurf ist die existenziale Seinsverfassung des Spielraums des faktischen Seinkönnens.) E como dejectado (geworfenes), o Dasein o é no modo-de-ser (Seinsart) do projetar. O projetar (Entwerfen) nada tem a ver com um comportar-se (Sichverhalten) em relação a um plano ideado de acordo com o qual o Dasein organizaria o seu ser, mas como Dasein ele sempre já se projetou e se projeta enquanto é. O Dasein, enquanto é, já se entendeu e continua se entendendo a partir de possibilidades. O caráter-de-projeto do entender significa, além disso, que as possibilidades, aquilo em-relação-a-que (woraufhin) se projeta, não é ele mesmo tematicamente apreendido. Tal apreender retira do projetado precisamente o seu caráter-de-possibilidade (Möglichkeitscharakter), reduzindo-o a um dado como conteúdo pensado, ao passo que o projeto, considerado no projetar ele mesmo, lança diante de si a possibilidade como possibilidade e fazendo-a ser como tal. O entender, como projetar, é o modo-de-ser do Dasein em que este é suas possibilidades como possibilidades.

Sobre o fundamento do modo-de-ser que é constituído pelo existenciário do projeto, o Dasein é constantemente “mais” do que ele de fato é, se se quisesse e se pudesse tomar seu conteúdo-de-ser como o conteúdo de um subsistente. Mas ele nunca é mais do que é factualmente, porque o poder-ser pertence essencialmente à sua factualidade (Faktizität). (SZ:145; STCastilho:413)


No projetar-se de seu ser no em-vista-de-quê (Worumwillen), unido com o ser-projetado na significatividade (Bedeusamkeit) (mundo), reside a abertura do ser em geral1). No projetar em possibilidades, o entendimento-do-ser (Seinsverständnis) já foi antecipado. O ser é entendido2 no projeto, não porém ontologicamente concebido. Ente do modo-de-ser do projeto essencial do ser-no-mundo tem o entendimento-do-ser como constitutivum do seu ser. (SZ:147; STCastilho:419)


Encontrar-se (Befindlichkeit) e entender (Verstehen) como existenciários caracterizam a abertura (Erschlossenheit) originária do ser-no-mundo. No modo do ser do estado-de-ânimo (Gestimmtheit), o Dasein “vê” possibilidades a partir das quais ele é. No abrir que projeta (419) tais possibilidades, ele já está cada vez em um estado-de-ânimo. O projeto do poder-ser mais-próprio é entregue ao factum da dejecção no “aí”. O ser do Dasein não se torna mais enigmático com a explicação da constituição existenciária do ser do “aí”, no sentido do projeto dejectado? De fato. Primeiramente, devemos pôr em relevo o total caráter enigmático desse ser, mesmo que seja para só poder malograr autenticamente em sua “solução” e então poder restabelecer a pergunta pelo ser do ser-no-mundo dejectado-que-projeta (geworfen-entwerfenden In-der-Weltseins). (SZ:148; STCastilho:419,421)

GA65

O tempo dos “sistemas” passou. O tempo da construção da figura essencial do ente a partir da verdade do seer ainda não chegou. Entrementes, a filosofia precisa ter empreendido algo essencial em meio à transição para o outro início: o PROJETO, isto é, a abertura fundante do campo de jogo tempo-espacial da verdade do seer. Como podemos realizar essa tarefa única? Permanecemos aqui sem precursores e sem uma base de sustentação. Meras variações do que se teve até aqui, por mais que aconteçam com a ajuda das maiores misturas possíveis de modos de pensar historicamente conhecidos, não nos fazem sair do lugar. E todo e qualquer tipo de escolástica de visões de mundo se encontra completamente fora da filosofia porque só podem persistir sobre a base da negação da dignidade de questão do seer. A filosofia tem a sua própria dignidade não dedutível e incalculável na dignificação do que é digno de questão. Todas as decisões sobre seu agir são tomadas a partir da preservação dessa dignidade e enquanto preservações dessa dignidade. No entanto, no reino do que há de mais digno de questão, o agir só pode ser um questionar único. Se em algum de seus tempos encobertos a filosofia tem de se decidir, com a clareza de seu saber, por sua essência, então isso tem de se dar na transição para o outro início. (tr. Casanova; GA65: 1)

O outro início do pensamento é assim denominado não porque possua uma forma diversa da que possuia qualquer outra filosofia até aqui, mas porque precisa ser o unicamente outro a partir da ligação com o início unicamente uno e primeiro. A partir dessa articulação mútua de um início com o outro já está também determinado o modo da meditação pensante característico da transição. O pensamento inserido na transição empreende o PROJETO fundante da verdade do seer como uma meditação histórica. A história não é aí o objeto e a circunscrição de uma consideração, mas aquilo que o questionar pensante primeiramente desperta e obtém como o sítio de suas decisões. O pensamento no interior da transição coloca o primeiro movimento de essenciação do seer da verdade e o porvir mais extremo da verdade do seer em discussão e dá voz, em meio a essa discussão, à essência até aqui inquestionada do seer. No saber do pensamento inserido na transição, o primeiro início permanece decisivo como primeiro e é, entretanto, superado como início. Para esse pensamento, a reverência mais clara em relação ao primeiro início, que abre, além disso, pela primeira vez, o seu caráter único, precisa caminhar lado a lado com a ausência de um olhar para trás – uma ausência inerente à virada de outro questionar e dizer. (tr. Casanova; GA65: 1)

A pergunta sobre o “sentido”, ou seja, segundo a explicitação presente em Ser e tempo, a pergunta sobre a fundação do âmbito do PROJETO, em suma, a pergunta sobre a verdade do seer é e continua sendo minha pergunta e é minha única pergunta, pois ela concerne ao maximamente único. Na era da completa falta de questionamento em relação a todas as coisas é suficiente questionar ao menos uma vez a pergunta de todas as perguntas. (tr. Casanova; GA65: 4)

Para os poucos que de tempos em tempos perguntam uma vez mais, isto é, que colocam em decisão de maneira renovada a essência da verdade. Para os raros, que trazem consigo a mais elevada coragem para a solidão, a fim de pensar a nobreza do seer e falar de sua unicidade. O pensar no outro início é originariamente histórico de uma maneira única: o dispor autoconjuntivo sobre a essenciação do seer. Um PROJETO da essenciação do seer como o acontecimento apropriador precisa ser ousado porque não conhecemos a missão de nossa história. Que possamos experimentar de um modo fundamental a essenciação desse desconhecido em seu ocultar-se. Precisamos querer, porém, desdobrar esse saber, segundo o qual o desconhecido que nos é dado como tarefa deixa a vontade na solidão e, assim, obriga a existência do ser-aí à mais elevada retenção em relação ao que se oculta. (tr. Casanova; GA65: 5)

Tonalidade afetiva é aqui visada no sentido insistente: a unidade da exportação resolutora de todo fascínio, assim como do PROJETO e do registro de todo êxtase e de toda insistência e realização da verdade do ser. Toda e qualquer representação diversa e “psicológica” da “tonalidade afetiva” precisa ser posta de lado aqui. Por isto, a tonalidade afetiva nunca pode ser simplesmente o como, que acompanha, ilumina e sombreia todo fazer e deixar de fazer do homem, fazer e deixar de fazer esses que já estariam fixados. Ao contrário, é só por meio da tonalidade afetiva que a extensão do êxtase do ser-aí é mensurada e a simplicidade do fascínio atribuída, na medida em que se trata da retenção como tonalidade afetiva fundamental. Ela é a tonalidade afetiva fundamental, porque ela afina a sondagem do fundamento do ser-aí, do acontecimento apropriador, e, com isto, a fundação do ser-aí. (tr. Casanova; GA65: 13)

O jogador jogado leva a termo o primeiro lance, isto é, o lance fundador como PROJETO do ente com vistas ao seer. No primeiro início, como o homem consegue se colocar pela primeira vez efetivamente diante do ente, o próprio PROJETO, seu modo de ser e sua necessidade e indigência ainda são obscuros, velados, e, apesar disto, poderosos: physis – aletheia – hen – pan – logos – noûs – polemos – me ón – dike – adikia. (tr. Casanova; GA65: 17)

O repensar da verdade do seer é essencialmente pro-jeto. À essência de tal PROJETO pertence o fato de, em performance e no desdobramento de si mesmo, ele precisar se recolocar no que é aberto por meio de si. Assim, é possível que desponte a aparência de que: onde impera o PROJETO, aí haja arbítrio e um divergir em direção ao infundado. Mas o PROJETO traz a si mesmo precisamente para o fundamento e muda, assim, pela primeira vez a si mesmo para o interior da necessidade, com a qual ele está ligado de modo fundamental, ainda que ainda se encontre velado diante de sua execução. (tr. Casanova; GA65: 21)

O PROJETO da essência do seer é apenas resposta à conclamação. Desdobrado, o PROJETO perde toda aparência do que tem o seu poder em si e nunca se torna o perder-se e a entrega. Seu aberto é apenas o disponível na fundação formadora de história. O que é projetado no PROJETO se apodera superpotencializadoramente dele mesmo e o coloca em seu direito. (tr. Casanova; GA65: 21)

O PROJETO desdobra o projetista e o aprisiona ao mesmo tempo no que é aberto por ele. Esse aprisionamento que pertence ao PROJETO essencial é o início da fundação da verdade conquistada no PROJETO. (tr. Casanova; GA65: 21)

O que e quem “é” o projetista é algo que só se torna tangível a partir da verdade do PROJETO; mas, ao mesmo tempo, também se torna velado a partir dai. Pois isto é o que há de mais essencial, o fato de que a abertura enquanto clareira faz com que o velar-se aconteça e só então o abrigo da verdade recebe o seu fundamento e seu aguilhão. (tr. Casanova; GA65: 21)

A questão da essência contém em si o decisivo, que domina agora fundamentalmente a questão do ser. PROJETO é estabelecimento de um nível hierárquico e decisão. O princípio do pensar inicial é, por isto, duplicado: toda essência é essenciação. Toda essenciação determina-se a partir do essencial no sentido do originariamente único. (tr. Casanova; GA65: 29)

A meditação do pensar inicial é muito mais tão originária que ela pergunta primeiramente como é que o si mesmo precisaria ser fundamentado, o si mesmo em cujo âmbito “nós”, eu e tu, chegamos sempre a cada vez a nós mesmos. Assim, é questionável se encontramos por meio da reflexão sobre “nós” a nós mesmos, se encontramos o nosso si mesmo, e se, por conseguinte, o PROJETO do ser-aí em geral tem algo em comum com a clarificação da “auto”-consciência. Pois bem, não está de modo algum definido que o “si mesmo” seria determinável algum dia pela via que passa pela representação do eu. Ao contrário, é preciso reconhecer que a ipseidade só emerge da fundação do ser-aí, mas que essa fundação se realiza como acontecimento da apropriação do que pertence à conclamação. Com isto, emerge a abertura e a fundação do si mesmo a partir da e como a verdade do seer. Não a decomposição diversamente dirigida da essência do homem, não a indicação de outros modos de ser do homem – tudo considerado por si como antropologia aprimorada – é o que produz aqui a auto-meditação, mas é a questão acerca da verdade do ser que prepara o âmbito da ipseidade, na qual, atuando historicamente e agindo, o homem – nós –, assumindo a figura do povo, chega ao seu si mesmo. (tr. Casanova; GA65: 30)

Se essa retenção ganha voz, o dito é sempre o acontecimento apropriador. Compreender esse dizer significa, contudo, levar a termo o PROJETO e o salto para o interior do acontecimento apropriador. O dizer funda enquanto silenciar. Sua palavra não é, por exemplo, apenas um sinal de algo completamente diverso. O que ele denomina é visado. Mas o “visar” só é próprio enquanto ser-aí, o que significa dizer que ele só é próprio de maneira pensante no questionar. (tr. Casanova; GA65: 38)

O PROJETO tem por intuito aquilo que só pode ser querido na tentativa do pensar inicial, que sabe algo ínfimo sobre si mesmo: ser uma junção livre e fugidia desse pensar. Isto quer dizer: 1) No rigor da estrutura armada na construção, nada é deixado para trás, como se o importante fosse – e isto é sempre válido na filosofia – o impossível: conceber a verdade do seer na profusão plenamente desdobrada de sua essência fundamentada. 2) Aqui só é possível a disposição sobre um caminho, que um singular pode abrir para si, prescindindo de vislumbrar a possibilidade de outros caminhos, talvez mesmo mais essenciais. 3) A tentativa precisa ter clareza quanto ao fato de que as duas, estrutura armada conjunta e disposição, permanecem uma junção livre e fugidia do próprio seer, do aceno e da retração de sua verdade, algo não passível de ser imposto. (tr. Casanova; GA65: 39)

Por meio do que é tomada a decisão? Por meio do presente ou da permanência de fora daqueles insignemente delineados, que nós denominamos “os que estão por vir”, em diferença em relação aos muitos que arbitrariamente virão depois e aos imparáveis, que não têm mais nada diante de si e mais nada atrás de si. Desses elementos delineados faz parte: 1) Aqueles poucos particulares, que fundam de antemão os sítios e os instantes para os âmbitos do ente naquelas vias essenciais do ser-aí fundante (poesia – pensamento – ação – sacrifício). Eles criam, assim, a possibilidade essenciante para os diversos abrigos da verdade, abrigos esses nos quais o ser-aí se torna histórico. 2) Aqueles inúmeros elos de ligação, para os quais está dado pressentir a partir da concepção do querer sapiente e das fundações do particular as leis da recriação do ente, da preservação da terra e do PROJETO do mundo em sua contenda e torná-las visíveis em meio à execução. 3) Aquelas muitas referências de um para o outro, de acordo com a sua proveniência histórica (terrena e mundana), por meio da qual e para a qual a recriação do ente e, com isso, a fundação da verdade do acontecimento apropriador conquista consistência. 4) Os particulares, os poucos, os muitos (não considerados como número, mas com vistas ao seu caráter assinalado) se encontram ainda em parte nas antigas ordens correntes e planejadas. Essas ordens só se mostram ainda como uma proteção de sua consistência ameaçada ao modo de um invólucro ou ainda como forças diretrizes de seu querer. A consonância desses particulares, desses poucos e muitos é velada, não produzida, crescendo repentinamente e por si. Impera sobre ela o reinado a cada vez diverso do acontecimento apropriador, no qual se prepara uma reunião originária, na qual e como a qual se toma histórico aquilo que pode ser denominado um povo. 5) Esse povo é em sua origem e em sua determinação unicamente de acordo com a unicidade do próprio seer, cuja verdade ele tem de fundar uma única vez junto a um único sítio em um único instante. Como é que essa decisão pode ser preparada? Será que o saber e a vontade têm aqui um espaço para dispor ou só se trata aqui de uma intervenção cega em necessidades veladas? Mas necessidades só reluzem em uma indigência. E a preparação de uma prontidão para a decisão encontra-se naturalmente sob o domínio da necessidade de apenas ainda acelerar por fim a falta de história turbilhonante e calcificar suas condições, onde ela quer de qualquer modo o diverso. (tr. Casanova; GA65: 45)

O re-presentar como um re-presentar sistemático transforma essa dis-tância e sua superação e asseguramento na lei fundamental da determinação do objeto. O PROJETO do re-presentar no sentido da apreensão anteci-pativa, planejadora e instituidora de tudo, antes de ele ser tomado no particular e no singular, esse re-presentar não encontra no dado nenhum limite e não quer encontrar nele nenhum limite, mas é o ilimitado que é decisivo. De qualquer modo, porém, não como o que flui e o mero assim-por-diante, mas como o que não está ligado a nenhum limite do dado, a nada dado e passível de ser dado como limite. Não há fundamentalmente o “im-possível”; “odeia-se” essa palavra, isto é, tudo é humanamente possível, contanto que tudo seja uma vez mais calculado de antemão e que as condições sejam produzidas. (tr. Casanova; GA65: 70)

A pura tolice de dizer que a investigação experimental seria nórdico-germânica e que a investigação racional, em contrapartida, é estrangeirai Nós precisamos então nos decidir já a contar Newton e Leibniz entre os “judeus”. Precisamente o PROJETO da natureza no sentido matemático é o pressuposto para a necessidade e a possibilidade do “experimento” como mensurador. Agora experimento não apenas contra o mero discurso e a mera dialética (sermones et scripta, argumentum ex verbo), mas contra explorações quaisquer, que apenas seguem a curiosidade, de um âmbito indeterminadamente representado (experiri). Agora, o experimento é um componente da ciência exata, fundada no PROJETO quantitativo da natureza que constrói esse PROJETO mesmo. Agora, o experimento não mais apenas contra um mero argumentum ex verbo e contra a “especulação”, mas contra todo mero experiri. Por isto, um erro fundamental e a confusão entre as representações essenciais, ao se falar que a ciência moderna começa já na Idade Média porque, por exemplo, Roger Bacon trata de experiri e de experimentum e, nesse caso, fala de quantidades. Se já, então de volta para a fonte dessa “Modernidade” medieval: Aristóteles, empeiria. Agora o experimento contra o experiri. (tr. Casanova; GA65: 78)

Que papel em meio ao estabelecimento da natureza como nexo da “existência” das coisas segundo leis? A harmonia mundi e as ordo-representações, o kosmos, são codeterminantes, mas cada vez mais retraidamente. Condições fundamentais da possibilidade do experimento moderno: 1) o PROJETO matemático da natureza, objetividade, re-presentidade; 2) a transformação da essência da realidade efetiva da essencialidade para a particularidade. É só sob esse preconceito que um resultado particular pode requisitar uma força de demonstração e uma ratificação. (tr. Casanova; GA65: 78)

O quão precário não precisa ser o estado de nossas posses em termos de uma autêntica faculdade de pensar, para que nós não possamos mais medir de maneira alguma a unicidade desse PROJETO, mas precisemos fazê-lo passar pelo que há de mais natural, uma vez que, de qualquer modo, o pensar tem diante de si de início a “natureza”. Sem falarmos no fato de que não se trata aqui em parte alguma da “natureza” (nem como objeto da ciência natural, nem como paisagem, nem como sensibilidade), como é que concebemos corretamente o elemento estranho e único desse PROJETO? Por que é que, no aberto da physis, o logos tanto quanto o noûs já precisaram ser bem cedo os sítios de fundação do “ser” e, de acordo com isso, todo saber precisou ser erigido? A mais antiga palavra legada sobre o ente: a sentença de Anaximandro. (tr. Casanova; GA65: 96)

O fato de a entidade ter sido concebida desde a Antiguidade como presentidade constante já vale para muitos, se é que eles em geral perguntam sobre uma fundamentação, como fundamentação. Mas o caráter do inicial e do primevo nessa interpretação do ente não é imediatamente uma fundamentação, mas torna inversamente essa interpretação pela primeira vez propriamente questionável. Para o questionamento correspondente se mostra: não se pergunta de maneira alguma sobre a verdade da entidade. Para o pensar do primeiro início, a interpretação é infundada e infundável, e isso com razão, se compreendermos por interpretação a explicação explicativa, que reconduz a um outro ente (!). Não obstante, essa interpretação do ón como physis (e mais tarde idea) não é sem fundamento, mas com certeza ela permanece velada com vistas ao fundamento (isto é, à verdade). Poder-se-ia achar que a experiência da fugacidade, do surgimento e do perecimento, sugeriria e exigiria como contraparte o estabelecimento da constância e da presentidade. Mas por que é que o que surge e o que perece são considerados como o não ente? De qualquer modo, isso só acontece se a entidade já se encontra fixada como constância e presentidade. Por isto, entidade não é deduzida a partir do ente ou do não-ente, mas o ente é projetado para essa entidade, a fim de se mostrar pela primeira vez no aberto desse PROJETO como o ente ou não-ente. Mas a partir de onde e por que a abertura da entidade é sempre PROJETO? Mas a partir de onde e por que o PROJETO é de tal tempo não concebido por si mesmo? As duas coisas estão em conexão? (Tempo extaticamente e PROJETO fundado como ser-aí). (tr. Casanova; GA65: 100)

O salto é o mais extremo PROJETO da essência do ser, de tal modo que nós nos colocamos a nós (mesmos) no assim aberto, nos tornamos insistentes e só por meio do acontecimento da apropriação chegamos a nós mesmos. Ora, mas um ente não precisa permanecer de qualquer modo diretriz para a determinação da essência do seer? Mas o que significa aqui “diretriz”? Que nós destacamos junto a um ente previamente dado o ser como o seu elemento mais universal, isso seria apenas um adendo na apreensão. A questão continuaria sendo por que e em que sentido o ente é “essente” para nós. Há sempre antes um PROJETO, e a questão continua sendo apenas se o que projeta salta ou não, como o próprio lançador, para o interior da via do que joga, avia que abre; se o PROJETO mesmo é experimentado e ratificado como acontecimento a partir do acontecimento apropriador ou se o que brilha no PROJETO só é recolocado em si como o que emerge (physis – idea) na presentificação que se desprende. De onde, porém, o fundamento da decisão sobre a direção e a amplitude do PROJETO? Será que a determinação da essência do seer está submetida ao arbítrio ou a uma necessidade suprema e, com isso, a uma indigência? A indigência, porém, é sempre a cada vez diversa segundo a idade do ser e de sua história; o velamento da história do ser. (tr. Casanova; GA65: 118)

Elevar à palavra conceptiva a essenciação do seer, à palavra: que ousadia não reside em tal PROJETO? Esse saber, tal audácia inaparente, só pode ser suportada na tonalidade afetiva fundamental da retenção. Nesse caso, porém, ele também sabe que toda tentativa de fundamentar e explicar a ousadia de fora e, com isso, não a partir daquilo que ela ousa, fica aquém do que é ousado e o mina. Mas o que é ousado não permaneceria, então, de qualquer modo preso a um arbítrio? Com certeza. Só que ainda resta a questão de saber se esse arbítrio não seria a necessidade mais elevada de uma indigência compelidora, aquela indigência, que impõe à palavra o dizer pensante do ser. (tr. Casanova; GA65: 124)

Em Ser e tempo, essa ligação é concebida pela primeira vez como “compreensão de ser”, sendo que compreender precisa ser concebido como PROJETO e a projeção como jogada, o que quer dizer pertencente ao acontecimento da apropriação por parte do próprio seer. (tr. Casanova; GA65: 134)

O que aconteceria, porém, se a “subjetividade”, tal como em Kant, fosse concebida como transcendental e, com ela, a ligação com a objetualidade do objeto; e se, além disso, o objeto, a “natureza”, fosse considerada como o único ente experimentável, e se, com isso, a objetualidade fosse equivalente à entidade? Não se oferece aí uma oportunidade, sim, uma posição fundamental historicamente única, junto à qual, apesar de todas as diferenças essenciais, aquela ligação do ser-aí e do seer pode ser aproximada pela primeira vez dos homens de hoje a partir do que se teve até aqui? Com certeza. E foi isso que tentamos empreender no “livro sobre Kant”. No entanto, isso só foi possível pelo fato de que nós violentamos Kant na direção de uma concepção mais originária justamente do PROJETO transcendental em sua unidade, na exposição da imaginação transcendental. Essa interpretação de Kant é certamente incorreta em termos “historiológicos”; certamente também, contudo, ela é historicamente essencial, ou seja, na ligação com a preparação do pensamento por vir e somente aí, ela é uma indicação histórica para algo completamente diverso. (tr. Casanova; GA65: 134)

No outro início, porém, o ente nunca é o efetivo no sentido desse ente “atual”. Mesmo lá onde ele vem ao encontro constantemente, para o PROJETO originário da verdade do seer, esse ente é o que há de mais fugidio. (tr. Casanova; GA65: 136)

Em contraposição a isso, é preciso remeter para a determinação fundamental do compreender como PROJETO. Nisso reside: trata-se de uma abertura e de um lançar-se e colocar-se para fora no aberto, no qual pela primeira vez o que compreende chega a si como um si mesmo. (tr. Casanova; GA65: 138)

O aí é o sítio acontecencial, apropriado em meio ao acontecimento e insistente do instante da virada para a clareira do ente no acontecimento da apropriação. A diferenciação não tem mais nada do que é visado e necessitado sem qualquer solo de maneira apenas lógico-categorial-transcendental. A mera representação de ser e ente como o diferente se torna agora insípida e induz em erro, na medida em que ela re-tém na mera representação. O que é aberto nela de maneira pensante só pode ser pensado de forma modelar em geral em toda a junção fugidia do PROJETO do ser-aí. (tr. Casanova; GA65: 151)

Não resta, porém, apesar disso um caminho para criar ao menos provisoriamente, ao modo das “ontologias” dos diversos “campos” (natureza, história), um campo de visão do PROJETO consonante com o ser, e, assim, para tornar os âmbitos novamente experimentáveis? Como transição, algo desse gênero pode se tornar necessário; isso permanece, todavia, fatídico, uma vez que a partir daí é natural o deslize em uma sistemática de um estilo mais antigo. Mas se a “ordem” é uma junção fugidia, que se encontra submetida à formação da história e à exportação resolutora de seu mistério, então essa junção fugidia pode, sim, ela precisa ter por si mesma um âmbito e um caminho; e não é um caminho arbitrário qualquer do abrigo (por exemplo, a técnica) que pode ser submetido à meditação. É preciso lembrar aqui que o abrigo é sempre a contestação da contenda entre mundo e terra, que mundo e terra solapam um ao outro em se sobrelevando, que é em sua oposição que transcorre de antemão e antes de tudo o abrigo da verdade. (tr. Casanova; GA65: 152)

A morte não chega aqui ao âmbito da meditação que estabelece as bases, para que se possa ensinar “em termos de visões de mundo” uma “filosofia da morte”, mas para que se possa trazer pela primeira vez a questão do ser para o seu fundamento e abrir o ser-aí como o fundamento a-bissal, voltando-o para o PROJETO, isto é, para o com-preender no sentido de Ser e tempo (não, por exemplo, para tornar “compreensível” a morte para os jornalistas e os burgueses). (tr. Casanova; GA65: 163)

A partir da compreensão de ser manter-se nela, o que significa, porém, uma vez que compreender é o mesmo que PROJETO do aberto, encontrar-se na abertura. (tr. Casanova; GA65: 180)

O PROJETO com vistas ao seer é único; e isso de tal modo que o jogador do PROJETO se lança de maneira essencialmente desprendida no aberto da reabertura projetiva, a fim de se tornar pela primeira vez ele mesmo nesse aberto como fundamento e abismo. (tr. Casanova; GA65: 183)

Aqui, a essência do seer não pode ser nem deduzida por meio da leitura de um ente determinado, nem de todos os entes conhecidos juntos. Sim, uma dedução é absolutamente impossível. O que vigora é um PROJETO originário e um salto, que só pode haurir a sua necessidade da mais profunda história do homem, na medida em que o homem experimentará e alcançará a sua essência como aquele ente que está exposto ao ente (e, antes de tudo, à verdade do seer), exposição essa (aquele que preserva, que guarda e que busca) que constitui o fundamento de sua essência. Mesmo o estabelecimento da idea não é nenhuma dedução! Saber isso significa superá-la. (tr. Casanova; GA65: 184)

O PROJETO do ser-aí só é possível como inserção extasiante no ser-aí. O PROJETO que insere de maneira extasiante, porém, emerge apenas da docilidade em relação à junção fugidia mais velada de nossa história em meio à tonalidade afetiva fundamental da retenção. O instante essencial, imensurável em sua amplitude e profundidade, irrompe, sobretudo quando a indigência do abandono do ser experimenta seu crepúsculo e a decisão é buscada. Com certeza: esse “fato” fundamental de nossa história não é apresentável por meio de nenhuma “decomposição analítica” da “situação” “espiritual” ou “política” do tempo, uma vez que tanto a perspectiva voltada para o “espiritual” quanto a perspectiva voltada para o “político” já se movimentam no primeiro plano e no que foi corrente até aqui, de tal modo que elas renunciam de antemão à possibilidade de experimentar a história propriamente dita – a luta do acontecimento da apropriação do homem pelo seer – e de questioná-la e pensá-la nas vias da disponibilização dessa história, isto é, elas renunciam à possibilidade de se tornar histórico a partir do fundamento da história. (tr. Casanova; GA65: 189)

Apesar disso, precisa ser possível uma indicação denominadora primeira do ser-aí e, com isso, para ele. Nunca, naturalmente, uma “descrição” imediata, como se ele estivesse em algum lugar previamente dado e presente à vista; também não por meio de uma “dialética”, o que é o mesmo em um nível superior, mas com certeza no interior do PROJETO corretamente compreendido, que traz o homem ainda que apenas para o interior de seu abandono do ser, preparando a ressonância, de tal modo que o homem se mostra como aquele ente, que é irrompido no aberto, mas que desconhece de saída e por longo tempo essa irrupção, mensurando-a, por fim, completamente pela primeira vez a partir apenas do abandono do ser. (tr. Casanova; GA65: 190)

(O PROJETO e o ser-aí) Ele é primeiro o entre, em cuja abertura o ente e a entidade são diferenciáveis; e isso de tal modo, com efeito, que só o ente mesmo (isto é, justamente velado, ele enquanto tal e, com isso, de acordo com a sua entidade) é de saída experimentável. A mera transição para a essência como idea desconhece o PROJETO do mesmo modo que o recurso à necessária dação prévia do “ente”. Como é, porém, que o PROJETO e sua essenciação enquanto ser-aí permanecem encobertos pelo predomínio da re-presentação? Como a representação se transforma na relação sujeito-objeto e na “consciência” de que eu-represento? E como, em contrapartida, então, a vida é acentuada? Essa re-ação, por fim, em Nietzsche é a prova da não originariedade de seu questionamento. (tr. Casanova; GA65: 203)

O PROJETO não de “explicar”, mas sim de transfigurar em seu fundamento e abismo, tresloucando o ser do homem nessa direção, ou seja, no ser-aí e mostrando para ele o outro início de sua história. (tr. Casanova; GA65: 203)

Fundação da essência é PROJETO. Mas o que vigora aqui é o lance do âmbito projetivo mesmo e, com isso, a assunção originária do caráter de jogado: o lance por um lado por meio da necessidade, que emerge concomitantemente à indigência do PROJETO, do pertencimento ao ente mesmo e a assunção, por outro, sob o modo do caráter de jogado no em-meio-a. (tr. Casanova; GA65: 204)

Se a verdade significa aqui a clareira do seer como abertura do em meio ao ente, então não se pode de modo algum perguntar sobre a verdade dessa verdade, a não ser que se tenha em vista a correção do PROJETO, o que, porém, perde de vista em múltiplos aspectos o essencial. Pois não se pode perguntar por um lado sobre a “correção” de um PROJETO em geral, nem tampouco sobre a correção do PROJETO, por meio do qual a clareira em geral é fundada enquanto tal. Por outro lado, porém, a “correção” é um “modo” da verdade, que permanece aquém da essência originária enquanto sua consequência e, por isso, já não se mostra como suficiente para conceber a verdade originária. (tr. Casanova; GA65: 204)

Seria, então, o PROJETO um puro arbítrio? Não, necessidade suprema. Naturalmente, não no sentido de uma consequência lógica, que poderia se tornar inteligível a partir de sentenças. (tr. Casanova; GA65: 204)

No campo de visão usual da “lógica” e do pensamento dominante, o PROJETO da fundação da verdade permanece um puro arbítrio, e é só aqui também que o caminho está livre para as perguntas feitas de volta infinitas e aparentemente fundamentais acerca da verdade da verdade da verdade etc. Toma-se aqui a verdade como um objeto do cálculo e do computo e se estabelece a pretensão à compreensibilidade derradeira de um entendimento cotidiano maquinacional como critério de medida. E é aqui, então, que o arbítrio vem de fato à tona. Pois essa pretensão não tem nenhuma necessidade porque lhe falta a indigência, uma vez que deduz o seu aparente direito da ausência de indigência do autoevidente; e isso se é que ela consegue em geral se inserir nas questões de legitimidade com vistas a si mesmo, uma vez que, de fato, tais questões se encontram o mais distante possível de tudo o que é autoevidente. E o que seria mais autoevidente do que a “lógica”! O PROJETO essencial do aí, contudo, é a exportação resolutora desprotegida do caráter de jogado de si mesmo que emerge pela primeira vez no lance. (tr. Casanova; GA65: 204)

A aletheia tem em vista o desvelamento e o desvelado mesmo. Já nesse ponto é indicado que o próprio encobrimento só é experimentado como o que precisa ser afastado, o que precisa ser levado embora (a-). E, por isto, o questionamento também não se remete ao próprio encobrimento e ao seu fundamento; e, por isso, inversamente, o desencoberto também só se torna essencial enquanto tal; uma vez mais não o desencobrimento, e esse mesmo como clareira, na qual, então, em geral, o encobrimento mesmo ganha o aberto. Por meio daí, contudo, o encobrimento não é suspenso, mas se torna antes apreensível em sua essência. Por isto, a verdade como a clareira para o encobrimento é um PROJETO essencialmente diverso da aletheia, apesar de esse PROJETO pertencer precisamente à lembrança da aletheia e de ela se mostrar em relação com ele. (tr. Casanova; GA65: 226)

A clareira para o encobrimento como essência originária-unificadora é o abismo do fundamento, como o qual o aí se essencia. A concepção fatídica: “a verdade é a não verdade” permanece por demais mal interpretável, para que ela pudesse mostrar com segurança a via correta. Todavia, ela deve indicar o elemento estranho que reside no novo PROJETO da essência – a clareira para o encobrimento e isso como essenciação no acontecimento apropriador. Que retenção jurisdicional do ser-aí é requisitada com isso hierarquicamente, se essa essência da verdade deve chegar a ser sabida como o originariamente verdadeiro? Agora também fica mais clara pela primeira vez a origem da errância e o poder e a possibilidade do abandono do ser, o encobrimento e a di-ssimulação; o domínio do não fundamento. O mero aceno para a aletheia com vistas à explicação da essência da verdade, essência essa colocada aqui como fundamento, não nos ajuda a seguir adiante porque, na aletheia, precisamente o acontecimento do desencobrimento e do encobrimento não são experimentados e concebidos como fundamento, uma vez que, sim, o questionar continua sendo determinado a partir da physis, o ente enquanto ente. (tr. Casanova; GA65: 226)

As coisas são diversas, porém, no que concerne à clareira para o encobrimento. Aqui nos encontramos na essenciação da verdade, e essa é verdade do seer. A clareira para o encobrimento é já a oscilação da contraoscilação da viragem do acontecimento apropriador. Mas as tentativas até aqui em Ser e tempo e nos escritos seguintes de impor essa essência da verdade contra a correção do re-presentar e do enunciar como fundamento do próprio ser-aí precisavam permanecer insuficientes, porque elas foram sempre realizadas a partir da repulsae, com isso, porém, tinham sempre o re-pelido como ponto de mira, tornando impossível saber a essência da verdade desde o seu fundamento, desde o fundamento como o qual ela mesma se essencia. Para que se tenha sucesso nesse empreendimento é necessário não reter mais o dizer sobre a essência do seer, seguindo uma vez mais a partir da opinião de que se poderia, apesar da intelecção da necessidade do PROJETO que salta para frente, abrir por fim de qualquer modo, a partir do que se deu até aqui, gradualmente um caminho para a verdade do seer. Isso, porém, precisa sempre fracassar. E o novo perigo se torna tão forte, que o acontecimento apropriador se transforma agora ao mesmo tempo apenas em um nome e em um conceito manuseável, a partir do qual algo diverso poderia ser “deduzido”, mas que precisa, porém, ser dito dele; uma vez mais, contudo, não destacado em uma discussão “especulativa”, mas na meditação exigida, mantida pela indigência do abandono do ser. (tr. Casanova; GA65: 226)

Em minhas tentativas até aqui para o PROJETO dessa essência da verdade, o esforço para me tornar compreensível se encaminhara sempre em primeiro lugar para deixar claro os modos da clareira e as modulações do encobrimento e sua copertinência essencial (cf, por exemplo, a conferência sobre a verdade de 1930). (tr. Casanova; GA65: 226)

O que significa, porém, dizer que, então, o PROJETO da essência da verdade como encobrimento clareador precisa ser ousado e que o tresloucamento do homem no interior do ser-aí precisa ser preparado? (tr. Casanova; GA65: 227)

A clareira para o encobrir-se clareia-se no PROJETO. A jogada do PROJETO acontece como ser-aí, e o jogador dessa jogada é respectivamente aquele ser-si-mesmo, no qual o homem tem sua jurisdição. (tr. Casanova; GA65: 229)

Todo PROJETO toma aquilo que se volta para a sua clareira e que é assim liberado para a rearticulação com o projetista e vice-versa: o projetista só se torna ele mesmo, na medida em que ele assume aquela vinculação. (tr. Casanova; GA65: 229)

O que está voltado para o PROJETO nunca se mostra como um em si puro e simples, nem o que projeta consegue algum dia se colocar puramente por si, mas essa contenda em jogo no fato de que cada um dos dois se vira contra o outro, vinculando-se a ele e se referindo de volta a ele, é a consequência da intimidade, que se essencia na essência da verdade como clareira do encobrir-se. Com uma mera dialética extrínseca da relação sujeito-objeto não se concebe nada aqui, mas essa relação mesma, fundada na correção como uma estaca da verdade, tem sua origem a partir da essência da verdade. Com certeza, essa origem da contenda e essa contenda mesma precisam ser agora indicadas. Para tanto, não é suficiente refletir apenas sobre a clareira e sobre a sua instituição por meio do PROJETO, mas é necessário em primeiro lugar que a clareira mantenha no aberto o que se encobre e que o arrebatamento fascinante que provém daí como determinante deixe afinar inteiramente o ser-si-mesmo daquele que projeta. Somente assim acontecerá algum dia a sobreapropriação junto ao ser e, nela, a atribuição apropriadora ao próprio jogador, razão pela qual ele chegará, por sua parte, a se encontrar pela primeira vez na clareira (do que se encobre), se tornando insistente no aí. (tr. Casanova; GA65: 229)

1) Por que essa interpretação é historicamente essencial? Porque ainda se torna visível aqui em uma meditação levada a termo como é que ao mesmo tempo a aletheia suporta e conduz essencialmente a questão grega acerca do ón e como é que precisamente por meio desse questionamento, do estabelecimento da idea, ela experimenta a sua derrocada. 2) Ao mesmo tempo, se mostra muito lá atrás: a derrocada não é a derrocada de algo instituído e mesmo de algo expressamente fundado. Nem uma coisa nem outra chegaram a ser realizadas no pensamento grego inicial; e isso apesar da sentença de Heráclito sobre o polemos e do poema de Parmênides. E, contudo, a aletheia é essencial por toda parte no pensar e no poetar (tragédia e Píndaro). 3) Somente se isso for experimentado e exposto é que se tornará possível mostrar de que maneira, então, um resíduo e uma aparência da aletheia precisaram em certo sentido se manter, uma vez que mesmo a verdade como correção e precisamente ela precisa se abrigar em um já aberto (cf sobre a correção). Precisa estar aberto aquilo, pelo que o re-presentar se orienta (se retifica), e precisa estar aberto também aquilo ao que se deve atribuir a justeza (cf correção e relação sujeito-objeto; ser-aí e re-presentar). 4) Se considerarmos panoramicamente a história da aletheia a partir da alegoria da caverna, que tem uma posição chave tanto em relação ao que vem antes quanto em relação ao que vem depois, então é possível mensurar de maneira mediata o que significa erigir em primeiro lugar a verdade como aletheia de maneira pensante, desdobrá-la e fundamentá-la na essência. Que isso não apenas não aconteceu na metafísica até aqui e também no primeiro início, mas não podia acontecer. 5) A fundação essencial da verdade como desentranhamento da primeira reluzência na aletheia não é, então, simplesmente a assunção da palavra e de sua tradução adequada como “desvelamento”, mas importante é experimentar a essência da verdade como clareira para o encobrir-se. O encobrimento clareador precisa se fundar como ser-aí. O encobrir-se precisa ganhar o espaço do saber como essenciação do próprio seer enquanto acontecimento apropriador. A ligação mais íntima possível entre seer e ser-aí em sua viragem torna-se visível como aquilo que impõe a questão fundamental e obriga a ir além da questão diretriz, e, com isso, de toda metafísica; para além de fato em direção ao cerne da tempo-espacialidade do aí. 6) Como, porém, “a verdade” mesma e seu conceito, de acordo com uma longa história e com uma confusa tradição, para a qual muitas coisas confluíram, não se encontram mais em questão em nenhum modo de formulação claro e necessário, mesmo as interpretações da história do conceito de verdade tanto quanto as interpretações da alegoria da caverna se mostram em particular como precárias e dependentes daquilo que mesmo antes foi retirado do platonismo e da doutrina do juízo. Faltam as posições fundamentais para um PROJETO daquilo que é dito na alegoria da caverna e daquilo que se dá nesse dizer. Por isto, é necessário apresentar algum dia pela primeira vez uma interpretação coesa, proveniente da questão da verdade, da alegoria da caverna e tornar essa interpretação eficaz como uma introdução ao âmbito da questão da verdade e como uma condução à necessidade dessa questão, com todas as reservas que permanecem presas a tais tentativas imediatas; pois o fundamento e a perspectiva do PROJETO da interpretação e de seus passos permanecem pressupostos como não discutidos e aparecem como violentos e arbitrários. (tr. Casanova; GA65: 233)

O “e” na verdade é o fundamento da essência dos dois, o tresloucamento no aberto demarcador que forma a presentação e a consistência, mas sem que esse aberto mesmo tenha sido experimentável e fundamentável. Cf. a queda concomitante da aletheia e a sua conversão em homoiosis (correção). Pois o PROJETO experimentador não acontece aqui na direção da representação de uma essência geral (genos), mas na entrada histórico-originária nos sítios instantâneos do ser-aí. Em que medida tal ser-aí se dá na tragédia grega? (tr. Casanova; GA65: 239)

O “vazio” também não é a mera insatisfação de uma expectativa e de um desejo. Ele é apenas como ser-aí, isto é, como a retenção, o manter-se diante da renúncia hesitante, por meio da qual o tempo-espaço se funda como os sítios instantâneos da decisão. O “vazio” é do mesmo modo e propriamente a plenitude do ainda indecidido, a ser decidido, o a-bissal, o que aponta para o fundamento, para a verdade do ser. O “vazio” é a indigência preenchida do abandono do ser, mas esse já voltado para o aberto e, com isso, referido à unicidade do seer e de sua inesgotabilidade. O “vazio” não como o concomitantemente dado de uma precariedade, como sua indigência, mas muito mais como a indigência da retenção, que é em si um PROJETO irrompendo. Assim, ele se mostra como a tonalidade afetiva fundamental do pertencimento mais originário. A denominação como “vazio” para aquilo que se abre no acontecimento apropriador da retenção para a renúncia hesitante não é, por isso, determinada de maneira apropriada e continua sendo sempre determinada de maneira exagerada a partir do erigir dificilmente superável junto ao espaço da coisa e junto ao tempo do processo. (tr. Casanova; GA65: 242)

A estrutura dessa essenciação precisa ser colocada sempre uma vez mais no PROJETO: a essência da verdade é o encobrimento clareador. Esse encobrimento acolhe o acontecimento apropriador e deixa, dando a ele sustentação, que sua oscilação impere inteiramente através do aberto. Suportando e deixando imperar, a verdade é o fundamento do seer. O “fundamento” não é mais originário do que o seer, mas a origem como aquilo que ele, o acontecimento apropriador, deixa reemergir. (tr. Casanova; GA65: 242)

Se aquela temporalização e aquela espacialização constituem a essência originária de tempo e espaço, então sua proveniência, abissal, fundadora do a-bismo, se tornou visível a partir da essência do ser. Tempo e espaço (originariamente) não “são”, mas se essenciam. Mas a renúncia hesitante mesma tem essa junção fugidia originariamente unificadora da autorrenúncia e da hesitação a partir do aceno. Esse aceno é o reabrir-se do que se encobre enquanto tal, e, em verdade, o reabrir-se para o e como o acontecimento da apropriação, como o clamor do pertencimento ao próprio acontecimento apropriador, isto é, à fundação do ser-aí como o âmbito de decisão para o seer. Mas esse aceno só chega a se dar na ressonância do seer a partir da indigência do abandono do ser e só diz uma vez mais: nem a partir do clamor, nem a partir de um pertencimento, mas apenas a partir do entre que atua de maneira vibrante sobre os dois é que se abre o acontecimento apropriador e se torna realizável o PROJETO da origem do tempo-espaço como unidade originária a partir do abismo do fundamento. Espaço é o a-bismo arrebatadoramente fascinante do repouso. Tempo é o a-bismo arrebatadoramente extasiante da reunião. O arrebatamento fascinante é repouso abissal da reunião. (tr. Casanova; GA65: 242)

O contramovimento a partir do “espaço ” e do “tempo”. O contramovimento precisa ser tomado da maneira mais segura possível, de tal modo que espacialidade e temporalidade da coisa, do utensílio, da obra, da maquinação e do todo do ente possam se tornar visíveis como abrigo da verdade em uma interpretação. O PROJETO dessa interpretação é inexpressamente determinado pelo saber em torno do tempo-espaço como abismo. Mas a própria interpretação precisa despertar a partir da saída da coisa novas experiências. A aparência de que se trataria aqui de uma descrição óbvia em si não é perigosa porque esse caminho de interpretação quer expor espaço e tempo na direção do tempo-espaço. O caminho a partir daqui e o caminho a partir do ente precisam se encontrar. Perseguindo o caminho a partir do “ente” (mas já inserido no aberto da contenda entre terra e mundo), surge, então, a ocasião para inserir a discussão até aqui de espaço e tempo na confrontação inicial (cf A conexão de jogo). (tr. Casanova; GA65: 242)

O abrigo volta do mesmo modo determinadamente a cada vez o encobrir-se para o aberto, tal como ele mesmo é atravessado de maneira soberana pela clareira do encobrir-se. Por isso, junto a esse PROJETO da essência da verdade não há, por isso, nenhum lugar para uma interpretação inequívoca que é sempre uma vez mais sugerida da relação platônica. Pois o abrigo da verdade no ente não nos lembra demais a configuração da “ideia”, do eidos na hyle? Mas já o modo de falar “abrigo da verdade no ente” induz em erro, como se a verdade já pudesse ser sempre de antemão por si “verdade”. (tr. Casanova; GA65: 243)

(Verdade e abrigo) Pertence a todo abrigo da verdade no ente, de uma maneira a cada vez diversa, PROJETO e execução. Cada PROJETO é tempestade, agraciamento, revolvimento, instante. Toda execução é serenidade, duração, renúncia (concebido propriamente; e a forma da impropriedade pertinente; a in-essência?). Nenhum dos dois acontece sem a concordância do outro e os dois sempre a partir do fundamento da necessidade de um abrigo. (tr. Casanova; GA65: 245)

A determinação histórica da filosofia tem seu ápice no conhecimento da necessidade de criar a escuta para a palavra de Hölderlin. O poder ouvir corresponde a um poder dizer, que fala a partir da questionabilidade do seer. Pois isso é o mínimo que pode ser realizado para a preparação do espaço da palavra. (Se é que tudo não foi invertido ainda e transformado no elemento “científico” e “historiológico-literário”, seria preciso dizer: uma preparação do pensamento para a interpretação de Hölderlin precisa ser criada. “Interpretação” com certeza não tem em vista aqui tornar “compreensível”, mas sim fundar o PROJETO da verdade de sua poesia na meditação e na tonalidade afetiva, nas quais o ser-aí por vir vibra) (cf Reflexões VI e VII Hölderlin). Essa caracterização histórica da essência da filosofia a concebe como pensar do seer. Esse pensar nunca pode fugir para o interior de uma figura do ente e experimentar nela toda a luz do simples a partir da riqueza reunida de sua obscuridade estruturada em suas junções. Esse pensar também não tem como seguir jamais a dissolução em meio ao amorfo. Esse pensar precisa capturar em um ponto aquém da distinção entre figura e ausência de figura (o que só se dá no ente), no abismo do fundamento da figura, o ímpeto de jogada de seu caráter de jogado e suportá-lo no aberto do PROJETO. O pensar do seer precisa pertencer ao que tem de ser pensado mesmo de uma maneira completamente diversa de todo e qualquer ajuste em relação ao elemento objetivo porque o seer não tolera a própria verdade como suplemento e como algo trazido para junto de si, mas “é” ele mesmo a essência da verdade. A verdade, aquela clareira do encobrir-se, em cujo aberto os deuses e o homem são apropriados em meio ao acontecimento para a sua contra-posição, abre ela mesma o seer como história. Nós talvez precisemos pensar essa história, se é que devemos aprontar o espaço que em seu tempo precisa resguardar em ressonância a palavra de Hölderlin, que denomina uma vez mais os deuses e o homem; e isso para que essa ressonância afine aqueles tonalidades afetivas fundamentais, que determinam o homem por vir em meio à guarda da indigencialidade dos deuses. Essa caracterização da filosofia em termos da história do seer carece de uma explicitação, que auxilie o surgimento de uma lembrança do pensar até aqui (a metafísica), mas retransporte ao mesmo tempo o porvir para o interior da copertinência histórica. (tr. Casanova; GA65: 258)

A inquirição do seer realizada em termos da história do seer não é inversão da metafísica, mas de-cisão como PROJETO do fundamento daquela diferenciação, na qual ainda precisa se manter mesmo a inversão. Com tal PROJETO, esse questionamento em geral chega ao exterior daquela diferenciação entre ser e ente; e ela também escreve, por isso, agora ser como “seer”. Esse termo deve indicar que o ser aqui não é mais pensado metafisicamente. (tr. Casanova; GA65: 259)

Aqui temos a posição, na qual o seer mesmo, por força de sua história, obriga o saber sobre o ser a entrar na indigência de uma necessidade de decisão e exige dele ter clareza quanto àquilo que acontece nele como “PROJETO” do ser. (tr. Casanova; GA65: 261)

O salto pensante para o “interior” da verdade do seer precisa ressaltar ao mesmo tempo a essência da verdade, fixar-se no jogo de um PROJETO e se tornar insistente. (tr. Casanova; GA65: 262)

Para a experiência do ente e para o abrigo de sua verdade, o “PROJETO” é apenas o elemento provisório, o que transitoriamente se transpõe, ao prosseguir, para aquilo que é edificável e resguardável e que, enquanto guarda, recebe o selo do seer. (tr. Casanova; GA65: 262)

No saber pensante, o PROJETO não é o elemento provisório para algo diverso, mas o elemento único e derradeiro e, por isso, o que há de mais raro que se essencia em si como verdade fundada do seer. (tr. Casanova; GA65: 262)

Aqui, o PROJETO não é nada que estivesse apenas estabelecido “sobre” o ente, ele não é nenhuma “perspectiva”, que seria apenas aduzida ao ente. Pois toda e qualquer per-spectiva já requisita o que é corrente para o seu eixo de visada. E justamente isso, o fato de que de antemão e decidindo tudo um rasgo integral explode aquilo que, então, só se anuncia no aberto como um “ente”, o fato de que um equívoco arrebata para si tudo, clareando-se, em nome da possibilidade da guarda: é isso que o PROJETO pensante do seer tem de levar a termo. “Levar a termo”? Com certeza, mas nenhum fazer e nenhum engenho de acordo com o significado de uma reflexão desprendida. (tr. Casanova; GA65: 262)

Nós pensamos para nós mesmos esses projetos de acordo com um hábito natural como formas da representação, que possibilitam o vir ao nosso encontro de objetos: a condição transcendental de Kant. E nós fazemos bem em exercitar nessa interpretação da entidade como objetualidade o pensar do ente enquanto tal. Não obstante, essa interpretação kantiana se encontra na “base” do subjectum e na esfera da re-presentação. A caracterização do “PROJETO” se torna “subjetiva” no melhor sentido possível, isto é, não “egoica”, “subjetivista”, epistemológica, mas meíafisicamente determinada como subjectum: ela se encontra à base como o inquestionado e o inquestionável. A interpretação do pensamento kantiano pode experimentar a partir daí uma clarificação essencial e levar a que mesmo nessa posição de sujeito o pensar filosófico não passe ao largo dos abismos (esquematismo e imaginação transcendental). A questão é que já precisamos ter nos aberto questionadoramente para outros âmbitos, para que não designemos simplesmente essa concepção de Kant como uma curiosidade exagerada, mas para que a levemos a sério com a indicação para o abissal. Isso só tem em geral sucesso, se não lermos mais Kant no fundo “subjetivamente”, mas se o reinterpretarmos com vistas ao ser-aí. (tr. Casanova; GA65: 262)

Em um caminho histórico, esse é um passo para alcançarmos a proximidade daquele pensar, que não compreende mais o PROJETO como condição da representação, mas como ser-aí e como o caráter de jogado de uma clareira que chega a se erguer, cujo primeiro elemento continua sendo permitir o encobrimento e, assim, tornar manifesta a recusa. (tr. Casanova; GA65: 262)

Apesar disso, é difícil em todos os aspectos para os homens de hoje experimentar o PROJETO como acontecimento apropriador a partir da essência do acontecimento da apropriação como recusa. Não se exige para tanto outra coisa senão manter longe do seer toda perturbação e saber que esse elemento maximamente poderoso se torna na esfera de obras mal feitas humanas o que há de mais frágil, sobretudo porque o homem está há muito tempo habituado a medir o domínio do seer com os pesos para a mensuração da violência do ente, só pesando assim e nunca ousando o que há de mais digno de questão. (tr. Casanova; GA65: 262)

O fato de a subjetividade do subjectum se desdobrar por fim e se transformar na subjetividade absoluta é apenas o sinal obscuro do modo como constantemente se essencia o PROJETO desde o início da história do ser, anunciando-se como o que não é feito e como o que não é factível, de tal modo que o PROJETO, contudo, é finalmente explicado de qualquer forma a partir do incondicionado, que também condiciona precisamente o ser. Com essa “explicação”, a filosofia se depara com um fim. A revolta de Nietzsche é apenas a inversão desse estado. (tr. Casanova; GA65: 262)

Entrementes, porém, o ente se tornar cada vez mais poderoso sob a forma do elemento objetivo e do elemento presente à vista. O seer foi restrito à derradeira palidez do mais subtraído conceito universal e tudo o que é “universal” está submetido à suspeita de ser impotente e efetivamente irreal, do que é apenas “humano” e, por isso, também “alheio à essência”. Na medida em que o seer é colocado sob a máscara do que há de mais universal e vazio, ele não carece mais nem mesmo de uma rejeição expressa em favor do ente. Chega-se ao ponto de “prosseguir” sem o ser. Esse estado singular da história do homem “felizmente” quase não é reconhecido por ele, para não falar de ele ser concebido ou mesmo acolhido na vontade da história. De saída, ele impele severamente para as suas próximas consequências. Logo se prossegue agora mesmo sem o ente e se satisfaz com os objetos, isto, se encontra toda “vida” e toda realidade efetiva no empreendimento do elemento objetivo. De uma vez só, o procedimento e o erigir, a mediação e a expulsão se mostram como mais essenciais do que aquilo para o que tudo isso está voltado. A “vida” é tragada para o cerne da vivência e essa vivência mesma se eleva em direção à instituição do vivenciar. A instituição do vivenciar é a mais elevada vivência, na qual “o impessoal” se reúne. O ente só se mostra ainda como um ensejo para essa instituição, e o que pode ser nesse caso ainda o seer? Nesse ponto, contudo, o ponto decisivo da história é vislumbrado para a meditação e desperta o saber de que só na travessia pelas decisões extremas é possível salvar ainda uma história em face do gigantesco da ausência de história. Por isso, procuramos em vão pela história, isto é, por sua tradição historiológica, a fim de nos depararmos com o seer mesmo como PROJETO. Se é que um aceno para essa essência do seer nos tocará um dia, nós precisaremos estar já equipados para experimentar a aletheia de maneira consonante com o primeiro início. De qualquer modo, porém, o quanto estamos distantes disso e, com certeza, definitivamente distantes? (tr. Casanova; GA65: 262)

O seer mesmo anunciou a sua essência histórica. Mas permaneceu e permanece de qualquer modo uma dificuldade fundamental: o seer deve ser projetado em sua essência, e o próprio PROJETO é, porém, a “essência” do seer, o pro-jeto como acontecimento da apropriação. (tr. Casanova; GA65: 262)

PROJETO: que o homem já se jogue do ente, sem que esse já estivesse aberto como tal, em direção ao seer. Todavia, tudo resta obscuro aqui. Será que o homem é, afinal, um homem aprisionado? No (ente) com certeza e isso porque ele se comporta ao mesmo tempo em relação ao “ser” (por exemplo, a linguagem), porque essa ligação com o seer em geral é o fundamento de uma relação em um comportamento de uma postura. (tr. Casanova; GA65: 263)

Na transição para o ser-aí no interior do questionamento acerca da verdade do seer não resta nenhuma outra possibilidade senão mudar de saída a representação até o ponto em que a ligação com o ser como PROJETO e, por isso, como o caráter da compreensão for fixado (a compreensão de ser do ser-aí). Mas essas determinações, por mais decisivas que elas permaneçam para uma primeira elucidação do questionamento completamente outro da questão do ser, são, porém, vistas a partir da questionabilidade do ser e de sua essenciação, apenas um primeiro passo tateante em uma longa prancha de salto, um passo no qual quase não se pressente a presença de algo da exigência, que é feita no final da prancha para o salto. Todavia, toma-se esse passo não apenas como o primeiro em um longo estar “a caminho”, mas já como o passo derradeiro, a fim de erigir-se no dito como uma “doutrina” e “perspectiva” determinada e de organizar com ela todo tipo de coisas em um aspecto historiológico. Ou, porém, se recusa essa “doutrina” e se imagina que, com ela, se teria decidido algo sobre a questão do ser. (tr. Casanova; GA65: 266)

Se, por isso, o seer for pensado como o entre, no qual os deuses são compelidos, de tal modo que ele se mostre como uma indigência para o homem, então os deuses e o homem não podem ser tomados como algo “dado”, como algo “presente à vista”. No PROJETO daquele pensar, eles são, sempre a cada vez de maneira diversa, assumidos como o histórico, que, ele mesmo, só chega à sua essenciação a partir do acontecimento apropriador do entre. Isso, contudo, significa: que ele chega à luta em torno da própria essência, à consistência da decisão de uma das possibilidades veladas. (tr. Casanova; GA65: 267)

O pensar no outro início não conhece a explicação do ser por meio do ente e não sabe nada sobre o condicionamento do ente por meio do seer; condicionamento esse que sempre também coisifica o seer junto ao ente, a fim de emprestar-lhe, então, de qualquer modo uma vez mais, sob a forma do “ideal” e dos “valores” (agathon é o começo), uma elevação. Com certeza, então, segundo a forma e de acordo com um longo hábito de representação através da metafísica e apoiado pela linguagem cunhada a partir dela e pela sua fixação significativa, todo e qualquer discurso acerca do seer pode ser mal interpretado em meio à relação corrente da condição para o condicionado. Não temos como ir ao encontro imediatamente desse perigo; sim, ele precisa ser assumido como um dote da metafísica, cuja história, então, não pode ser afastada, se no PROJETO originário do seer a essência da história entra pela primeira vez em jogo. (tr. Casanova; GA65: 268)

O des-locamento consiste no acontecimento da apropriação do ser-aí; e isso de tal modo, com efeito, que no aí que se clareia (no a-bismo do que não possui apoio nem proteção) o acontecimento da apropriação se subtrai. Des-locamento e retração se ligam ao seer enquanto acontecimento apropriador. Neste caso, não acontece nada no interior do ente, o seer permanece inaparente, mas pode acontecer com o ente enquanto tal de ele, voltado para a clareira do in-habitual, lançar por terra seu caráter habitual e precisar se colocar em relação à de-cisão sobre como ele satisfaz ao seer. Isso não significa, porém, dizer como é que ele se ajustaria e corresponderia ao seer, mas como ele, o ente, resguarda e perde a verdade da essenciação do seer, chegando aí à sua própria essência, que consiste em tal resguardo. As formas fundamentais desse resguardo, contudo, são a abertura de uma totalidade do mundo (mundo) e o fechar-se diante de todo PROJETO (terra). Essas formas fundamentais só deixam emergir o resguardo e são elas mesmas na contenda, que se essencia a partir da intimidade do acontecimento da apropriação do acontecimento apropriador. Sempre a cada vez em cada um dos lados dessa contenda se encontra aquilo que nós conhecemos metafisicamente como o sensível e o não sensível. Por que, contudo, precisamente essa contenda entre mundo e terra? Porque, no acontecimento apropriador, o ser-aí acontece de maneira apropriadora e se transforma na jurisdicionalidade do homem, porque o homem é chamado para a guarda do seer a partir da totalidade do ente. Como, porém, o elemento querelante, a partir do qual nós temos de pensar em termos da história do seer o homem e seu “corpo”, a “alma” e o “espírito”? (tr. Casanova; GA65: 269)

Enunciar desse modo o seer não significa aprontar uma determinação conceitual, mas preparar a tonalidade afetiva do salto, a partir da qual e na qual o seer mesmo é ressaltado como PROJETO para o saber que também mantém a sua essência em um primeiro momento atribuída a partir dessa verdade do seer. (tr. Casanova; GA65: 270)

No ser-aí, para o qual o homem volta a tomar pé sobre si por meio da transformação transitória de sua essência, só tem sucesso uma preservação do seer naquilo que aparece pela primeira vez por meio daí como um ente. Se é dito em Ser e tempo que, através da “analítica existencial”, o ser do ente não humano se torna pela primeira vez determinável, então isso não significa que o homem seria o ente em primeiro lugar e de saída dado e que seria de acordo com a sua dotação de medida que os outros entes obteriam a cunhagem de seu ser. Tal “interpretação” supõe que o homem continuaria sendo sempre pensado ao modo de Descartes e de todos os seus sucessores e meros adversários (mesmo Nietzsche está entre eles) como sujeito. Isso, porém, é para nós a meta mais imediata: não estabelecer mais em geral o homem como um subjectum, uma vez que nós o compreendemos de antemão a partir da questão do seer e apenas assim. Se, contudo, apesar disso, o ser-aí ganhar o primeiro plano, então isso significa: o homem, concebido de acordo com o ser-aí, funda sua essência e o caráter próprio de sua essência no PROJETO do ser e se mantém, por isso, em todo comportamento e em todo modo realizado de se comportar no âmbito da clareira do seer. Esse âmbito, no entanto, não é inteiramente humano, isto é, não é determinável e sustentável por meio do animal rationale, nem tampouco por meio do subjectum. O âmbito não é em geral nenhum ente, mas pertence à essenciação do seer. Concebido de acordo com o ser-aí, o homem é aquele ente que, sendo, pode perder a sua essência e, com isso, sempre está certo de si mesmo da maneira mais incerta e ousada possível, o que acontece, porém, com base na entrega à responsabilidade pela guarda do seer. O primado do ser-aí não é apenas o oposto de todo e qualquer tipo de humanização do homem, ele também fundamenta uma história completamente diversa da essência do homem, que nunca tem como ser concebida a partir da metafísica e, por isso, também não a partir da “antropologia”. Isso não exclui, mas inclui o fato de que o homem agora ainda é mais essencial para o seer, por mais que ele venha a ser avaliado como mais desimportante a partir do “ente”. (tr. Casanova; GA65: 271)

A linguagem emerge do seer e pertence, por isso, a ele. Assim, tudo reside uma vez mais no PROJETO e no pensamento “do” seer. Mas agora precisamos pensar o seer de tal modo que nos lembremos aí ao mesmo tempo da linguagem. Mas como é que devemos agora conceber “a linguagem”, sem nos atermos antecipadamente à determinação da essência que precisa ser primeiro conquistada? Segundo tudo aquilo que foi insinuado, naturalmente de tal modo que a linguagem se torne experimentável em sua ligação com o seer. Como é, porém, que isso acontece? “A” linguagem é “nossa” linguagem; “nossa” não apenas como a linguagem materna, mas como a linguagem de nossa história. E, com isso, se abate sobre nós o que há de derradeiramente questionável da meditação sobre “a” linguagem. (tr. Casanova; GA65: 276)

VIDE: (Entwurf)

projet (ETEM)
project (BTJS)

Entwurf (esboço): O contexto no qual este conceito está imerso é mais amplo do que à primeira vista poderia parecer. Heidegger fala-nos reiteradamente em esboço do ser, mas retira a legitimidade desta expressão de seu próprio étimo originário. Em primeiro lugar, o termo Entwurf cunha-se a partir do mesmo verbo que caracteriza essencialmente o ser-situado: werfen. O ser-situado não ganha a existência através de um processo causal passível de ser apreendido de modo intelectivo-representacional: através de um antes e de um depois logicamente articulados. Ao contrário, ele é jogado (geworfen) abruptamente no acontecimento apropriativo. No interior deste acontecimento, ele já sempre se movimenta porém a cada vez em sintonia com uma compreensão de ser. À medida mesmo que é jogado na existência, ele desfaz a tendência preferencial do seer para o encobrimento (entwerfen) e o abre na totalidade. Esta abertura descreve a essência do conceito de “esboço”. (Casanova; GA67MAC:185-186)


Similarmente (a entwerfen), um Entwurf é um “rascunho, esboço, desenho, croqui, esquema, projeto”. Heidegger recupera a associação com o lançar. As palavras são assim adequadamente traduzidas por ” projeto” e ” projeção”, do latim proicere, ” lançar para a frente”.

Um Entwurf no sentido de Heidegger, não é um plano ou projeto particular: é o que torna possível qualquer plano ou projeto (SZ, 145; GA29, 526). Ele dá várias explicações do que é projetado: um mundo (Welt) (GA29, 526); o ser dos entes (Sein des Seienden) ou a “constituição do seu ser” (Seinsverfassung) (GA24, 29f; GA27, 198ss); concepções científicas fundamentais do ser tais como a visão matemática da natureza (GA27, 185ss); o próprio Dasein (SZ, 145). Ele também fala da projeção de algo sobre algo: a compreensão projeta o ser de Dasein sobre o seu “em-função-de” (Worumwillen) e sobre a significação (Bedeutung) do seu mundo (SZ, 145); a compreensão (Verständnis), ou o próprio Dasein, projeta Dasein sobre as (suas) possibilidades (Möglichkeit) ou sobre uma possibilidade (SZ, 145; GA24, 392f); entes são projetados sobre o seu ser (GA24, 29, 396); o ser é projetado sobre o tempo (Zeit) (GA24, 397, 437).

Um(a) projeto(ção) é “ livre”. Não se determina por nosso conhecimento anterior nem por nossos desejos anteriores, já que é somente à luz de um projeto que podemos possuir quaisquer conhecimentos ou desejos específicos. Um projeto não é projetado gradativamente, passo a passo, mas de uma só vez, por um salto (Sprung) adiante (GA6T1, 392; GA65, 352). Há três tipos principais de projeto (p.ex. GA27, 185ss):

1. Todo Dasein deve projetar um mundo e possuir uma compreensão pré-ontológica do ser, i.e., projetar o ser, incluindo o seu próprio ser. Tal projeção não ocorre em um tempo definido: é uma “ação imemorial (Urhandlung)” de Dasein. Esta projeção capacita Dasein a compreender, por exemplo, o que é um utensílio ou o que é uma outra pessoa, independentemente dos utensílios particulares e das pessoas que ele encontra. É comparável à compreensão geral de o que é uma cidade e ao senso de direção que uma pessoa possui.

2. Uma ciência envolve uma projeção da constituição dos entes com os quais ela lida, p.ex. a projeção do ser como matemática de Galileu e de Newton. Um tal projeto não se funda na experiência dos entes: o projeto decide antes o que conta como um ente (Seiende) e como experiência (Erfährung). Ele também não se funda em um projeto prévio ou em uma crítica do mesmo: um novo projeto não é compatível com o seu predecessor, pois altera inteiramente a nossa visão do ser e dos entes. Este tipo de projeto não suplanta o projeto do tipo 1: um físico matemático ainda precisa de uma compreensão pré-ontológica (vorontologische) de utensílios, pessoas, tempo etc. Um projeto científico é análogo ao mapa seletivo de uma cidade; não pode prescindir de uma compreensão pré-ontológica geral dos entes da mesma forma que um usuário do mapa não pode chegar a lugar algum sem um senso de direção.

3. Um filósofo adquire uma compreensão conceitual, ontológica, de ser, que envolve uma compreensão dos projetos 1 e 2. O filósofo não pode simplesmente descrever com esmero estes projetos sem nenhuma projeção especificamente filosófica. A natureza do ser, de Dasein etc. estão “cobertas (p.ex., SZ, 376), não abertas a puras inspeções empíricas. Por conseguinte, o filósofo precisa passar por uma projeção “existencial” ou uma “construção (Konstruktion) fenomenológica” da, p.ex., historicidade de Dasein (SZ, 375ss). Mais uma vez, o filósofo deve projetar um ente (p.ex., Dasein) “sobre seu ser e suas estruturas” (GA24, 29s). Compreendemos algo, x, ao projetá-lo sobre outro algo, y, o “sobre-o-qual (Woraufhin)” da projeção e o “sentido (Sinn)” de x (SZ, 323ss). Há, assim, uma “estratificação” de projetos. Compreendemos os entes ao projetá-los sobre o ser (GA24, 396). Compreendemos o ser ao projetá-lo sobre o tempo. O regresso termina com o tempo; o tempo, devido à sua “unidade estática”, é “projeção de si”; não precisa ser projetado sobre outra coisa para ser compreendido (GA29, 437). As projeções do filósofo prosseguem na direção inversa à projeção de sua conceitualização, o projeto básico de Dasein (GA24, 399). Isto está de acordo com a visão de Aristóteles; o que é anterior em si mesmo é posterior para nós. O tempo é anterior ao ser e o torna possível, o ser é anterior aos entes e os torna possíveis. Mas devido à obscuridade destas relações, passamos dos entes ao ser, e então ao tempo.

Mais tarde, Heidegger adota uma visão mais histórica do projeto 1, falando da “ projeção originária grega” do ser como a “constância da VIGÊNCIA” (Anwesen) (p.ex. GA6T2, 8). O projeto constituidor de Dasein é visto como a realização dos filósofos e/ou poetas mais do que do Dasein cotidiano.

Um projeto envolve a “concepção prévia (Vorgriff)” e o “a priori”. O que é um utensílio; outras pessoas; que há um mundo: estes são a priori dentro do projeto 1, e, portanto, para todo Dasein. (DH:151-152)


NT: Project(ing) (Entwurf, entwerfen), 100fn (as ecstatic temporality), 145-151, 147fn, 174, 181, 199, 221-223, 235, 260, 262-263, 277, 284-285, 295, 297, 301-302, 311fn (pre-ontological), 312-315, 324-327, 325fn (existentiell and existential), 330, 336-338, 360, 362-363 (mathematical), 372, 375fn (phenonemenological construction as), 383, 385, 392-394, 437, et passim; as thrown, 144-145, 148, 181, 223, 276, 285, 406; of Da-sein, 270, 277, 284, 313, 363, 385, 394, 406; of Dasein’s being, 145, 147, 195, 324; of existence, 325, 372; of being-in-the-world, 147; of authentic being-towards-death, 237, 260-267 (§ 53); of anticipation, 266-267; of resoluteness, 385; of understanding, 148, 151, 174, 265, 324; of possibilities, 298, 312, 383, 394; of a potentiality-of-being, 148, 305, 336, 365; of a meaning of being in general, 235; of relevance, 353; of a world, 195, 394; of nature, 362-363; of the primary ‘then’, 409; of historicality, 376; of the idea of historiography, 393; upon its “upon-which,” 151, 324-325; upon possibilities, 145, 147-148, 181, 187, 194-195, 222, 263, 270, 284, 295, 297, 299, 312, 315, 339, 383, 385, 387, 394; upon a potentiality-of-being, 194, 262-263, 265, 277, 287, 306, 313, 334, 343, 385, 406; upon a “for-the-sake-of-itself,” 327; upon significance, 145, 147, 151; upon the world, 151; upon meaning, 151, 324; upon being, 312, 393; upon one’s being-guilty, 296-297, 301, 305, 382, 385; upon one’s potentiality for becoming guilty, 287, 306; existential, 301, 305, 323, 376, 383; ontological, 302, 309, 312, 393; understanding, 314-315; self, 276, 287, 382-383, 385-386, 387; resolute, 386; thrown, 148, 223, 285; null, 285, 287-288; inauthentic, 339; factical, 297. See also Anticipation; Disclosedness; Meaning; Possibility; Potentiality of being; Understanding (BTJS)


Entwurf (der), entwerfen: «proyecto» o «proyección», «proyectar». El verbo entwerfen procede de werfen («lanzar», «arrojar»). Tradicionalmente, se aplica en el ámbito de la literatura y las formaciones mentales. Bajo la influencia del francés projéter, adquiere el significado de «esbozo provisional», «borrador». En la actualidad, entwerfen significa «proyectar», «esbozar», «imaginar», «idear». De manera similar, un Entwurf es un «borrador», «bosquejo», «esbozo», «modelo». Heidegger prefiere asociar entwerfen y Entwurf con «lanzar» (del latín proicere («arrojar»)), lo que permite las traducciones de «proyectar» y «proyección». En el marco del análisis ontológico del Dasein, el proyecto es la constitución existenciaria de la comprensión. El proyecto abre el espacio de juego de las posibilidades del Dasein en cuanto poder-ser. No se trata de un proyecto pensado y ejecutado racionalmente con el fin de lograr un fin concreto. El término Entwurf no tiene nada que ver con un plan estratégico que responda a una racionalidad de tipo técnico-instrumental; antes bien, en la proyección, la comprensión no aprehende temáticamente aquello hacia lo cual se proyecta, sino que tan sólo arroja al Dasein ante la posibilidad como posibilidad sin más. El proyecto es libre, es decir, no está determinado por un conocimiento previo o un deseo, pues sólo es posible tener conocimientos y deseos en el ámbito de un proyecto. El proyecto, por tanto, es la condición ontológica de posibilidad de cualquier plan, proyecto o deseo. En los cursos anteriores a Ser y tiempo, se utiliza el término Tendenz («tendencia») para indicar este rasgo característico de la existencia fáctica, que en 1927 se sustituye por el de Entwurf. Véanse también las entradas complementarias de Geworfenheit (die) y Verstehen (das). (GA58, p. 34; GA24, p. 392; GA2, pp. 145-148, 151, 174, 181, 221-223 262-263 (muerte), 266, 277, 284-285, 315, 324-325 (interpretación), 336, 362, 385, 406.) (LHDF)


1. ‘Entwurf’. The basic meaning of this noun and the cognate verb ‘entwerfen’ is that of ‘throwing’ something ‘off’ or ‘away’ from one; but in ordinary German usage, and often in Heidegger, they take on the sense of ‘designing’ or ‘sketching’ some ‘project’ which is to be carried through; and they may also be used in the more special sense of ‘projection’ in which a geometer is said to ‘project’ a curve ‘upon’ a plane. The words ‘projection’ and ‘project’ accordingly lend themselves rather well to translating these words in many contexts, especially since their root meanings are very similar to those of ‘Entwurf’ and ‘entwerfen’; but while the root meaning of ‘throwing off’ is still very much alive in Heidegger’s German, it has almost entirely died out in the ordinary English usage of ‘projection’ and ‘project’, which in turn have taken on some connotations not felt in the German. Thus when in the English translation Dasein is said to ‘project’ entities, or possibilities, or even its own Being ‘upon’ something, the reader should bear in mind that the root meaning of ‘throwing’ is more strongly felt in the German than in the translation. (BTMR)



  1. CH: Como ela “reside” aí e que significa “Ser” aí? (da Seyn 

  2. CH: Mas não significa: ser “é” graças ao projeto.