Santos Arvore

ÁRVORE
A pujança da árvore, o abrigo que ela nos dá, a madeira com a qual construímos tantos bens, o dar frutos sem perder sua força, a sua tranqüila posição, serenidade e domínio, não poderia deixar de assimilar-se aos inúmeros esquemas que o homem noeticamente constrói, que, levados ao grau máximo da sua perfeição, expressam muito das formalidades por nós atribuídas à divindade.

A árvore é uma manifestação do poder e ela simboliza a divindade, através dos graus do símbolo. A árvore é o homem com suas raízes na terra, na animalidade, na matéria que o compõe, mas seus galhos se estiram para o alto, para o ar límpido, para o azul imaculado do céu. E, nesses galhos, surgem as folhas que respiram o pensamento, e as flores e frutos são os resultados de toda a criação humana intelectual. Árvore das montanhas ou dos vales, sujeitas às grandes tempestades e à rudeza do altos cimos ou à hibridez das terras fofas e cheias de detritos dos vales, é ela como o ser humano, e também o simboliza.

Não esqueçamos que Helena foi uma árvore que se divinizou. Em Rodas chamava-se Dentrítes “a da árvore”. Dioniso também é apresentado como uma árvore. Nas árvores encontravam os gregos poderes que as habitavam como as hamadríadas, que “nasciam e morriam com as árvores”.

Também os egípcios divinizavam as árvores, como participantes das perfeições do Ser, pois a visão dela nos oferece um símbolo da sucessão da vida, a “árvore da vida”, com sua alternância de nascimento e morte, dos frutos que geram, que surgem e perecem, das folhas que caem e se renovam, das flores que a embelezam e se despetalam ao saculejarem-nas os ventos.

A árvore é ligada também à vida humana, como encontramos em certos costumes asiáticos e entre nós brasileiros ligar a vida de quem nasce a uma árvore que se planta. Plantar uma árvore é dar uma vida, é prosseguir a duração da vida que sempre exige uma vida que perdura através dos seres vivos. Nalgumas tribos melanésias, o mana do homem cresce à proporção que se desenvolve a árvore que a ele está ligada como irmão vegetal, que o liga à vida cósmica. Há toda uma simbólica no plantio dessa árvore, pois deve o homem abrir a terra com um pênis artificial, e à mulher cabe semear, enquanto todos cantam hinos.

Nos diversos mitos, há árvores que falam, árvores que amam e sofrem, árvores que apelam à misericórdia do lenhador que pretende abatê-las, árvores que imploram não lhes tirem os galhos, que são membros de seu corpo, etc.

A árvore é como a vida e como o ser humano, e há uma perfeição de que ambos participam, a vida. Mas, da árvore, saem, através dos galhos, novas vidas que repontam. É a árvore símbolo da vida coletiva, dos vários indivíduos ligados a um centro comum.

A árvore traz a vida e a árvore salva. O salvador é também a “árvore da vida”. E tão profundo é esse símbolo que os revolucionários de 1789, na França, ergueram árvores da liberdade, fundando, assim, nelas, o seu afã de domínio do futuro, as “árvores de maio”.

No paraíso terrestre, estão as árvores do bem e do mal e a árvore da vida. Os egípcios procuravam a árvore na qual os deuses reinam. O madeiro da vida é a sua substância. A árvore, em todas as culturas, tem os mesmos significados.

No Ocidente, encontramo-la entre os germânicos, como a árvore sagrada de Uxal. É da árvore que sai a cruz do Cristo, que será o símbolo da nova religião.

A árvore é assim o símbolo do mistério da morte e da vida. Não é difícil, portanto, compreender as diversas reações emotivas que o homem conheceu através dos tempos, ante as árvores, que sempre lhe despertam a previsão de que o mistério o espreita, e o desafia a desvendá-lo. Toda arte humana está impregnada da presença da árvore e a variância de significabilidade não nos afasta, no entanto, do mesmo roteiro, que é o apontar mais profundo do símbolo da árvore: a vida e a morte, na sua constante sucessão, em suma, o tempo, como um dos seus maiores simbolizados.