Esse uso moderno de hypárkhein, para significar o existir de uma coisa qualquer, foi de encontro, em nossa época, ao problema da tradução de “existência” no existencialismo, que não atribui a existência senão ao homem. Já a designação dessa corrente de pensamento opôs duas terminologias: hyparxismós [υπαρξισμός] e existentialismos [έξιστενσιαλισμός]. Hoje, prefere-se a primeira expressão à sua cópia. Mas, se a designação de uma corrente filosófica é matéria de convenção, a tradução do próprio conceito de existência revela dificuldades mais tenazes. É assim que, quando Malevitsis traduz, em 1970, o livro de Jean Wahl, Les philosophes de l’existence [Os filósofos da existência], ele propõe “hypostasis” [ύπόστασις], e não “hyparxis” [ύπαρξις], para verter “existência”. A posição de Malevitsis se apoia na recusa de Heidegger e de Jaspers de serem identificados como existencialistas, para evitar a confusão entre a existência ôntica dos entes e a existência própria ao homem. Essa é a razão pela qual ele descarta a tradução habitual por “hyparxis”. A ideia não carece de pertinência, pois, desde a Antiguidade, a semântica do hupárkhein perdeu sua conivência secreta com as sutilezas da semântica de arkhê/ arkhô/árkhomai [princípio e começo, fundamento/eu comando/eu começo]. Mas o termo “hypostasis” também tem uma longa história que se enraiza no neoplatonismo e na cristologia cristã, atingindo seu ponto culminante com a formação do termo “substantia” [substância]. As interferências com a questão do ser aumentaram a tal ponto a opacidade de seu sentido que até mesmo Malevitsis se vê forçado a acrescentar entre colchetes o termo “ypárxis” para evitar as confusões. (BCDU)