GA87:306-307 – Nietzsche – a questão do valor

Giachini

Para Nietzsche, segundo ouvimos, a questão pela certeza, pelo certo e indubitável, não é tão fundamental quanto a questão pelo valor.

(270) Ele explica isso assim:

“A questão da certeza só recebe sua gravidade sob o pressuposto que se tenha respondido a questão do valor”.

A questão da certeza, portanto, se transforma de um mero jogo numa questão essencial quanto a questão do valor tiver estabelecido que a certeza, a verdade é um valor para a vida, o valor supremo para a conservação. Assim, a questão do valor dá justificativa a todas as outras questões. E só através dela que a questão da certeza recebe seu verdadeiro fundamento.

Mostramos, pois, que assim como a questão da certeza, também a questão do valor pergunta pelo ente: Para Nietzsche, o ente é vontade de poder – e enquanto tal, imposição de valor. O ente, portanto, inclui valores. Consequentemente, também Nietzsche coloca a antiga questão – todavia num sentido específico, que ganhou caráter histórico.

Mais uma vez então procuramos esclarecer o que compreende Nietzsche por questão do valor: Em seu pensamento sobre valor, segundo ouvimos, está em questão a inversão de todos os valores. Visto falar de “imposição de valor”, ele admite valores, a imposição de valores também no pensamento antigo, projeta seu pensamento retrospectivamente. Sim, na imposição dos valores supremos ele vê a tarefa primordial da metafísica. Ele chama a essa interpretação de “moral” – “moral”, aqui, como o modo de instituir valores segundo o “bem” e o “mal”. O “bem” é o devido, o determinante, e o “mal” é seu valor contrário. Antes da inversão de Nietzsche, os valores supremos eram: Deus – o mundo suprassensível. Ao processo de desvalorização e nova valorização ele chama de “Niilismo”. CJltrapassando a forma primitiva, o “niilismo incompleto”, que busca instituir outros ideais no lugar dos ideais decaídos, caminha o “niilismo completo”, o “niilismo ativo”. Ele fornece um novo princípio de imposição de valores. O mundo suprassensível, os ideias são derrubados, e em seu lugar vige agora o mundo sensível, o instinto no mais verdadeiro dos sentidos, portanto: “A vontade de poder”. Esse é o novo princípio da instituição de valores. (271) O suprassensível se torna meio instituído pelo sensível. O verdadeiro, o bem, Deus se transformam em mero valor para a vida, é instituído – o que antes era incondicionado (torna-se) condicionado. –

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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