Veio à tona, então, que, em Ser e tempo mesmo, o discurso sobre a Daseinsanalyse é frequente. Aí, a Daseinsanalyse não significa aqui outra coisa senão realização da mostração das determinações do Dasein transformadas em tema na analítica existencial, que, na medida em que esse é determinado enquanto existente, são chamadas de existenciais. Este conceito de Daseinsanalyse ainda pertence, portanto, à analítica existencial e, com isso, a uma ontologia.
É preciso distinguir disso fundamentalmente a “Daseinsanalyse” no sentido da comprovação e da descrição de fenômenos que se mostram a cada vez faticamente junto a um determinado Dasein existente. Essa análise é, uma vez que dirigida a um existente respectivo, necessariamente orientada pelas determinações fundamentais do ser desse ente, isto é, por aquilo que a analítica existencial expõe como existenciais. Nesse caso, é preciso observar que aquilo que é exposto na analítica existencial com vistas ao Dasein e sua estrutura existencial é limitado, e, em verdade, limitado pela tarefa fundamental da questão acerca do ser. A restrição é dada por meio do fato de que, com vistas ao caráter temporal do ser enquanto presentidade, tudo depende de interpretar o Dasein enquanto temporalidade. Por isso, não há nenhuma analítica do (808) Dasein, que pudesse ser suficiente para uma fundamentação de uma antropologia filosófica (ver Ser e tempo, p. 17495).
Aqui se mostra o círculo necessário de toda hermenêutica: como analítica ontológica-existencial, a analítica existencial pressupõe já certas determinações do ser, cuja determinação completa dever ser precisamente preparada pela analítica.
Ao lado dessa terceira determinação da Daseinsanalyse pode-se constatar uma quarta. Ter-se-ia em vista com isso: o todo de uma disciplina possível, que transformaria em tarefa para si apresentar os fenômenos existenciários demonstráveis do Dasein histórico-social e individual no sentido de uma antropologia ôntica marcada de maneira daseinsanalítica. A terceira determinação é a realização da quarta determinação, assim como a segunda determinação é a realização da primeira. Essa Daseinsanalyse antropológica pode ser ainda dividida em a) e b), a saber, em uma antropologia-normal e em uma patologia daseinsanalítica ligada a essa antropologia. Na medida em que se trata de uma análise antropológica do Dasein, uma mera classificação dos fenômenos expostos não pode ser suficiente, mas ela precisa estar orientada para a existência histórica concreta do ser humano atual, isto é, do ser humano que existe na sociedade industrial atual.
(HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon. Organizado por Peter Trawny. Traduzido por Marco Casanova. Rio de Janeiro: Via Verita, 2021)