Seinsgeschichte

(?Seinsgeschichte), (?Geschichte des Seins), Histoire de l’être, história do ser, history of being, being-historical, historia del ser

A Seinsgeschichte de Heidegger não é uma “história” do ser, como os livros de Frederick Copleston são uma “história” da filosofia. Em vez disso, é um argumento altamente teorizado sobre a apropriação, “dando” ou “enviando” (cf. geben, schicken) a clareira-para-sentido (ἀλήϑεια-1) em várias configurações ao longo da metafísica ocidental.1 Em outras palavras, é uma história muito idiossincrática da ontologia, que pressupõe e defende a visão única de Heidegger sobre a clareira apropriada. Se ele tivesse que juntar esses vários “envios” em uma narrativa diacrônica, teria escrito um trabalho de história científica: uma história da filosofia sobre como a apropriação “dá” a clareira para o ser e, portanto, é responsável pelas várias formações do ser nos últimos vinte e quatro séculos — em suma, uma história das “dispensações” metafísicas do ser (Seinsgeschicke). E, de certa forma, ele o fez, não em um único livro, mas em uma série de monografias, palestras e ensaios que, como um todo, é chamada de Seinsgeschichte. Mas esse seria um livro bem diferente de uma história da ontologia que não contemple essas suposições. (Sheehan, 2015, p. 250)


(…) choices for rendering die Geschichte des Seins, Seinsgeschichte, and seinsgeschichtlich. Focusing on the “being” component in these words and deciding to translate Geschichte with “history,” we rendered these words as “history of being”, “being-history,” and “being-historical.” But how to reflect in translation the important difference between Geschichte and Historie? (Emad & Maly, p. xxiii)


Heidegger atribui a primeira aparição do conceito de Seinsgeschichte, “história do ser”, a GA9:EV, escrito em 1930 e publicado em 1943 (GA7:QCT, 28/24): a ” ek-sistência do homem histórico começa no momento em que o primeiro pensador expõe uma instância de questionamento para o desencobrimento dos entes, perguntando o que são os entes. (…) A história começa, pela primeira vez, quando os próprios entes são especificamente promovidos ao desencobrimento e mantidos nele, quando esta manutenção é concebida em função do questionamento acerca dos entes enquanto tais. O desvelamento inicial dos entes como um todo, a questão acerca dos entes enquanto tais e o começo da história ocidental são o mesmo (…) O homem ek-siste — isto agora significa: a história das possibilidades essenciais de uma humanidade histórica para ela se mantém, no desvelamento dos entes como um todo. As raras e simples decisões da história surgem do modo como a essência original da verdade essencializa” (GA9:EV, 187s/126s).

SZ contém o germe desta ideia: já que Dasein é “histórico”, seu questionamento acerca do ser também é histórico. Assim, ao indagar acerca do ser precisamos também explorar a história da indagação acerca do ser. Heidegger sugere — bastante razoavelmente, embora não esteja obviamente vinculado à ” historicidade” de Dasein — que os filósofos, desde os gregos até o presente, sustentaram visões variadas acerca do ser. A razão explícita que possui para examinar suas visões é mais do que simplesmente afirmar a sua própria visão, o fato de tendermos a sucumbir à tradição. Empregamos conceitos e categorias tradicionais sem investigar e explorar, de forma adequada, as ” fontes” originais das quais foram retirados (SZ, 20s). Podemos, por exemplo, usar as noções de “matéria” e “forma” sem nos recordarmos das reflexões de Aristóteles sobre um artesão dando forma ao seu material ou sem imaginar se elas são prontamente aplicáveis a outros entes além dos artefatos (cf. GA5:UK, 16ss/152ss). Para evitar tais possibilidades, Heidegger empreende uma Destruktion da tradição, não destruindo-a no sentido usual, mas “desatando-a” de modo a discernir as “experiências originais” que lhe deram origem. Isto mostrará os méritos, falhas e limitações dos conceitos tradicionais e poderá revelar novas possibilidades obscurecidas pela tradição. Esta destruição haverá de desatar as correntes que a tradição nos impôs e permitirá que lancemos um olhar cheio de frescor e atenção aos entes (SZ, 22. Cf. GA6T2:NII, 415 / GA11:ENDPHILO, 14s). SZ não é, entretanto, histórico do modo como EV é. Ele não sugere, como faz EV, que o mundo de Dasein, em primeiro lugar, esteja aberto pelo questionamento filosófico ou que mudanças cruciais no mesmo dependam de desenvolvimentos filosóficos. SZ não considera a questão de como e quando Dasein chegou a ser em um mundo, nem implica que o mundo sofra mudanças significativas. SZ esboça uma história do questionamento sobre o ser, mas não do próprio ser. (DH)


  1. GA10: 90.24–28 = 61.35–38. By “gives” Heidegger intends “enables, occasions, is responsible for” as at GA22: 106. 32 = 87.32: “ursprünglich ermöglichend.” GA7: 10.18 = 7.20–21: verschulden; ibid., 12.10–11 = 10.2: veranlassen