GA5 – técnica

Technik

Por mais que a referência à denominação que os gregos costumavam usar para o trabalho manual e para a arte com a mesma palavra (techne) seja comum e por mais que tal pareça evidente, continua, no entanto, a ser equívoca e superficial; pois techne não quer dizer nem ‘trabalho manual’ nem ‘arte’, nem, de modo nenhum, a técnica no sentido actual, nem significa, em geral, nunca um tipo de realização prática. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: A ORIGEM DA OBRA DE ARTE]

Ora, de facto, a palavra “com-posição”, que foi usada mais tarde como palavra condutora para a essência da técnica moderna, é pensada a partir desta “com-posição” (e não a partir de estante e de montagem). [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: A ORIGEM DA OBRA DE ARTE]

A com-posição enquanto essência da técnica moderna provém do deixar-jazer-diante, do logos, experimentado de modo grego, da poiesis e da thesis gregas. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: A ORIGEM DA OBRA DE ARTE]

Devemos de novo evitar entender “estabelecer” no sentido moderno e ao modo da conferência acerca da técnica, como “organizar” e fazer com que fique pronto [fertigmachen]. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: A ORIGEM DA OBRA DE ARTE]

Um fenômeno de um nível igualmente importante é a técnica de máquinas. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O tempo da imagem no mundo]

A técnica de máquinas é ela mesma uma transformação autônoma da prática, de tal modo que é esta que exige o emprego da ciência natural matemática. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O tempo da imagem no mundo]

A técnica de máquinas permanece o rebento até agora mais visível da essência da técnica moderna, a qual é idêntica à essência da metafísica moderna. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O tempo da imagem no mundo]

No entanto, não é aqui suficiente, por exemplo, afirmar a técnica, ou – a partir de uma atitude incomparavelmente mais essencial – colocar como absoluta a “mobilização total”, quando se reconhecer estar perante ela. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O tempo da imagem no mundo]

Mesmo assim, a metafísica absoluta não é a causa daquilo que a seu modo se institui como a confirmação daquilo que se propicia na essência da técnica. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O conceito de experiência em Hegel]

Quando dentro da era da subjectidade, na qual se funda a essência da técnica, à consciência é contraposta a natureza enquanto ser, então esta natureza é apenas o ente enquanto objecto da objectualização técnica moderna, a qual agride indistintamente a consistência [Bestand] das coisas e dos homens. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O conceito de experiência em Hegel]

Quanto mais inequivocamente as ciências forem levadas para a sua essência técnica pré-determinada e para o seu cunho, tanto mais decididamente se aclara a pergunta pela possibilidade do saber reclamado na técnica, pelo seu modo, pelos seus limites, pelo seu direito. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: A palavra de Nietzsche “Deus morreu”]

Na acomodação impensada a estes modos de representação, habituou-se já, desde há décadas, a referir o domínio da técnica ou a rebelião das massas como as causas da situação histórica da era, e a dissecar infatigavelmente a situação espiritual do tempo segundo tais perspectivas. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: A palavra de Nietzsche “Deus morreu”]

A natureza aparece por todo o lado, porque disposta a partir da essência do ser, como o objecto da técnica. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: A palavra de Nietzsche “Deus morreu”]

A instalação incondicionada do impor-se incondicional da elaboração propositada do mundo vai-se configurando necessariamente nos moldes do mando humano, num processo que surge da essência oculta da técnica. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

A ciência moderna e o estado totalizante constituem-se como consequências necessárias da essência da técnica e, igualmente, como os seus seguidores. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

No fundo, pretende-se que a essência da vida se deve entregar ela mesma à e-laboração técnica. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Que se encontrem hoje em dia, e com todo o desplante, nos resultados e na posição da Física Atômica, oportunidades para provar a liberdade humana e para estabelecer uma nova teoria dos valores, eis aqui algo de significativo para a supremacia da representação técnica, cujo desenvolvimento há muito se desprendeu das opiniões e posições pessoais. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

A força dominadora inerente à essência da técnica revela-se, ainda, quando se tenta, em terrenos secundários e com a ajuda das valorações até hoje vigentes, domar a técnica, acabando-se, porém, por utilizar os meios técnicos, os quais são tudo menos formas exteriores. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Isto porque, de todas as formas, a utilização de maquinaria e a fabricação de máquinas não constituem, só por si, a técnica ela mesma, mas apenas um instrumento que lhe é conforme, com vista ao estabelecimento da sua essência na objectividade da sua matéria-prima. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Mais ainda, a transformação do homem em sujeito e do mundo em objecto é uma consequência do estabelecimento da essência da técnica, e não o contrário. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Ao invés, um olhar sobre a totalidade íntegra do ente é susceptível de observar, a partir da invasão do progresso técnico, de que lado poderia surgir uma ultrapassagem da técnica, portadora de mais originalidade. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

As construções cegas, sem imagem, da produção técnica impedem o acesso ao aberto da conexão pura. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Ela começou antes, com a essência não experimentada da técnica, que ameaçava já os nossos antepassados e as suas coisas. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

O homem que se impõe é o funcionário da técnica, independentemente de cada um pessoalmente o saber ou não, o querer ou não. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

O homem da idade da técnica está, nesta despedida, contra o aberto. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Esta despedida não é uma despedida de… mas uma despedida contra… A técnica é a instalação incondicional, posta pelo impor-se do homem, do absoluto estar-desprotegido sobre o fondo da aversão que reina em toda a objectividade contra a conexão pura que atrai a si, enquanto centro inaudito do ente, todas as forças puras. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

A produção técnica é a organização da despedida. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Como se pudesse haver, num qualquer compartimento anexo, uma espécie de estância separada do relacionamento essencial do homem, devido à vontade técnica, para com a totalidade do ente, estância essa que pudesse oferecer algo mais do que efêmeras escapadelas para os auto-enganos, das quais faria parte, entre outras, a fuga em direcção aos deuses gregos. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

O que ameaça o homem na sua essência é a opinião segundo a qual a produção técnica põe o mundo na ordem, ao passo que é precisamente esta maneira de pôr na ordem que nivela, na uniformidade da produção, qualquer ordo, i. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Mas antes de tudo, a própria técnica impede qualquer experiência da sua essência. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Pois, enquanto se desdobra plenamente, ela desenvolve nas ciências uma espécie de conhecimento, o qual permanece impedido de alguma vez aceder à esfera essencial da técnica, ou sequer de repensar a sua proveniência essencial. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

A essência da técnica apenas lentamente vem à luz do dia. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

A imposição da objectivação técnica é a permanente negação da morte. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

A elaboração calculista da técnica é um “fazer sem imagem” (Elegia IX). [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

A organização técnica da esfera pública à escala mundial, através da radiodifusão e da já ultrapassada imprensa, é a verdadeira forma de hegemonia do historicismo. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O dito de Anaximandro]

O investigador é impelido necessariamente para o círculo da figura essencial de técnico, num sentido essencial. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O tempo da imagem no mundo]

Esta homogeneidade torna-se o mais seguro instrumento do domínio completo, isto é, do domínio técnico sobre a Terra. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O tempo da imagem no mundo]

Esta metafísica não se desmoronou ante a metafísica dos séculos XIX e XX; bem pelo contrário, o mundo técnico moderno, na sua exigência incondicionada, não é outra coisa que a consciência natural, a qual, segundo a modalidade do seu visar, realiza a produtibilidade, que se assegura a si mesma, de todo o ente na imparável objectivação de tudo e de todos. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: O conceito de experiência em Hegel]

O lugar daquilo que nos ofereceu, a partir do seu interior, o conteúdo mundano das coisas outrora guardadas, vai sendo ocupado, cada vez mais depressa, cada vez mais irreverentemente e mais completamente, pela objectualidade do domínio técnico sobre a terra. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

Este dia é a noite do mundo remodelada como dia técnico. [tr. Borges-Duarte et alii; GA5: Para quê poetas?]

 

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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