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ratio sufficiens

quarta-feira 24 de janeiro de 2024

Leibniz   definiu a representação corrente, que tudo tem um fundamento e que cada causa tem um efeito, como principium reddendae rationis   sufficientis, como o princípio fundamental da entrega do fundamento suficiente. A RATIO SUFFICIENS, o fundamento suficiente, não é no entanto, no sentido de Leibniz, de forma alguma o fundamento que é justamente suficiente para algo ser considerado como ente, e não se desmorone imediatamente em nada. O fundamento suficiente é aquele que entrega e estende aquele que ele coloca em posição de preencher a sua essência total, isto é a perfectio. A RATIO SUFFICIENS significa por isso em Leibniz também a summa ratio, o fundamento supremo. Aqui deveríamos dar-nos por satisfeitos com a observação de que o fundamento suficiente para Leibniz é continuamente o fundamento que mais longe alcança e assim o que tudo antecipa. Através da versão rigorosa do princípio do fundamento como principium   reddendae rationis sufficientis, o pensamento moderno encontrou pela primeira vez o seu andamento profundo. Na história deste pensamento ergue-se a obra de Kant   a uma altura única. Todas as suas três obras principais iniciam o seu título com a palavra «Crítica»: Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e Crítica da Faculdade de Ajuizar. Juízo é a faculdade para ajuizar. A razão pura, isto é aquela que não é determinada através dos sentidos, tanto a teórica, como também a razão prática é uma faculdade de ajuizar segundo princípios a priori  . Por isso pertence a uma crítica completa da pura [107] (tanto da razão teórica como da prática) uma crítica da faculdade de ajuizar. Também na terceira crítica a razão é o verdadeiro tema. Mas razão (Vernunft  ) significa em latim ratio. Como é que a palavra latina ratio, cálculo e razão, alcança o significado de «fundamento» (Grund  ), (princípio do fundamento = principium rationis  ), é o que escutaremos em seguida. [tr. Telles Menezes; GA10  : NONA AULA]

Em consequência, a «crítica da razão pura» deve definir a razão na sua relação com a natureza e na sua relação com a vontade, e isto quer dizer com a causalidade da vontade, isto é da liberdade. A demanda da crítica é a demanda pelas condições da possiblidade a priori de natureza e liberdade. As condições da possibilidade a priori (de)põe juntamente o respectivo fundamento, o qual delimita a natureza e a liberdade na sua essência e assim no-las entrega e estende na perfeição das suas definições. Por trás da fórmula «condições da possibilidade a priori» oculta-se a entrega do fundamento suficiente, da RATIO SUFFICIENS, que como ratio é a razão pura. Segundo Kant, apenas se pode no relativo à razão (ratio), definir-se algo naquilo que isso é, e como isso é um ente para o ser vivo «homem». Mas isto não exprime agora tão só, que no sentido do pensamento moderno o ente sempre apenas é como objecto e o objecto sempre apenas objecto para um sujeito, senão que agora torna-se mais evidente: este sujeito, quer dizer a razão, a ratio, isto é a concentração das condições da possibilidade a priori para natureza e liberdade, é esta concentração apenas como entrega do fundamento suficiente. Numa forma daqui em diante transformada surge agora à luz, o que um aforismo do pensamento grego das origens diz: to gar auto noein   estin te kai einai   «O mesmo é tanto perceber como também ser.» [109] [tr. Telles Menezes; GA10: NONA AULA]

O novo modo pelo qual ser se nos remete, não consiste apenas em que o ser agora como objectualidade se manifesta, senão que este manifestar-se demonstra uma capacidade de decisão, em consequência da qual o ser se define na área da subjectividade da razão, e apenas aí. A capacidade de decisão deste destino do ser quer dizer: está excluída qualquer outra fundamentação do ser do ente no exterior da dimensão da razão transcendental  ; porque as condições apriorísticas da possibilidade dos objectos, o seu fundamento suficiente, RATIO SUFFICIENS, são a ratio, a própria razão. Formalmente, também se poderá dizer: toda a objectualidade dos objectos, isto é toda a objectividade dos objectos se apoia na subjectividade. Contudo esta fórmula fala apenas quando nós tomamos em consideração o seguinte: A subjectividade não é algo de subjectivo no sentido em que com ela, se poderá apenas significar aquilo que está limitado a uma única pessoa, ao acidental da sua particularidade e da sua arbitrariedade. A subjectividade é a legitimidade essencial dos fundamentos, que são suficientes para a possibilidade de um objecto. A subjectividade não significa um subjectivismo, mas aquele entregar da reivindicação do princípio do fundamento, na sequência do qual existe hoje a Era Atômica, na qual a particularidade, isolamento e legitimidade do indivíduo desaparecem a uma velocidade desenfreada em benefício da uniformidade total. Tudo isto se apoia, nós já conseguimos vê-lo e percepcioná-lo hoje quer queiramos quer não, no destino do ser como objectualidade para a subjectividade da razão, para a ratio definida através do principium rationis. A sua reivindicação de poder desencadeia o ajuste de contas universal e total de tudo o que é calculável. [tr. Telles Menezes; GA10: DÉCIMA AULA]

Meditemos por um instante sobre um pensamento subsidiário determinante. O princípio do fundamento diz na segunda tonalidade: ser e fundamento: o mesmo. Entrementes ouvimos: ser aclara-se sempre como um destino do ser. A isso junta-se como o mesmo uma cunhagem correspondente destinada do fundamento, da ratio, da conta, da razão 6. Se agora o reddendum pertence à essencia da ratio, transforma-se com ela também o modo e o sentido do rationem reddere. A expressão linguística é decerto a mesma para os antigos romanos e para Leibniz, mas justamente este mesmo transformou-se histórico-ontologicamente de uma maneira que introduz a matrização da época moderna e prepara aquilo que foi revelado à luz através do pensamento de Kant, sob a designação de «transcendentais». Em Leibniz, o reddere é relacionado com, e executado através do eu representante, que é definido como o seu próprio certo sujeito. Uma tal interpretação da essência do homem e com isso daquilo que ele recebe no reddendum oferecido, teria sido estranha à Romanidade, apesar de já não ser tão decisivamente estranha como seria para o pensamento grego. O pensamento leibniziano escuta no reddendum uma destinação com um outro carácter reivindicativo. Porque a ratio é aqui é o principium, a reivindicação que é determinante e dominante para todo o ente, no respeitante ao seu ser. Ele exige a entrega da razão para a possibilidade de um cálculo, que computa tudo o que é, como ente. A RATIO SUFFICIENS, o único fundamento própria e unicamente suficiente, a summa ratio, a suprema razão para a [147] calculabilidade geral, para o cálculo do Universo, é Deus. O que diz Leibniz sobre Deus em relação ao Universo? No ano de 1677 (com 31 anos de idade), Leibniz escreveu um diálogo sobre a Lingua rationalis, isto é o cálculo, o modo de contar, que deverá ser capaz de, sem excepção para tudo o que é, calcular as relações entre palavra, signo e coisa. Aí, nesse diálogo, e noutros ensaios, Leibniz preconcebeu os fundamentos daquilo que hoje não é utilizado apenas como máquina pensante, antes pelo contrário, define o modo de pensar. Numa anotação manuscrita à margem sobre este diálogo, observou Leibniz: Cum Deus calculat fit mundus. Quando Deus calcula, faz-se mundo. [tr. Telles Menezes; GA10: DÉCIMA SEGUNDA AULA]

Mas o fundamento entregue realiza apenas depois este trazer-à-permanência dos objectos quando ele dá de modo suficiente uma conta bastante para a salvaguarda dos objectos. O fundamento a ser entregue deve ser uma RATIO SUFFICIENS. [tr. Telles Menezes; GA10: CONFERÊNCIA O PRINCÍPIO DO FUNDAMENTO]