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metaphysica

sábado 25 de julho de 2020

metaphysica generalis, metaphysica specialis

A metafísica ocidental pós-aristotélica não deve a sua formação à assunção e ao prosseguimento de um sistema aristotélico supostamente existente, mas à não compreensão da questionabilidade e abertura nas quais Platão   e Aristóteles   deixaram os problemas centrais. Dois motivos determinaram preponderantemente a formação do conceito escolar citado e impediram cada vez mais que a problemática originária pudesse voltar a ser apreendida.

Um desses motivos diz respeito à estruturação de conteúdo da metafísica e provém da interpretação do mundo própria do cristianismo, uma interpretação marcada pela crença. Segundo essa interpretação, todo o ente não-divino é algo criado: o universo. Dentre as criaturas, por sua vez, o homem possui uma posição insigne, na medida em que tudo depende da salvação da sua alma e da sua existência eterna. Assim, de acordo com a consciência cristã do mundo e da existência, o todo do ente estrutura-se como Deus, natureza e homem, com cujas regiões se articulam a teologia, cujo objeto é o summum ens, a cosmologia e a psicologia. Elas constituem a disciplina da metaphysica specialis. Diferentemente dessa metaphysica, a metaphysica generalis (ontologia) tem por objeto o ente “em geral” (ens commune).

O outro motivo essencial para a formação do conceito escolar de metafísica diz respeito ao seu modo de conhecimento e ao seu método. Como a metafísica tem por objeto o ente em geral e o ente supremo, um objeto pelo qual “qualquer homem se interessa” (Kant  ), ela é a ciência que possui a mais elevada dignidade, a “rainha das ciências”. De acordo com isso, mesmo o seu modo de conhecimento tem de ser o mais rigoroso e pura e simplesmente vinculativo. Isso exige que ela se adeque a um correlativo ideal   de conhecimento. Considera-se como um tal conhecimento o conhecimento “matemático”. No sentido mais elevado, esse conhecimento é racional e apriorístico, porque independente de experiências contingentes, isto é, uma pura ciência racional. O conhecimento do ente em geral (metaphysica generalis) e do ente segundo as suas regiões principais (metaphysica specialis) torna-se, assim, uma “ciência a partir da simples razão”.

Kant permanece fiel à intenção dessa metafísica; ele desloca-a ainda mais intensamente para o interior da metaphysica specialis, que denomina “metafísica autêntica”, “metafísica na sua meta final”. Em face do “malogro” de todos os empreendimentos nessa ciência, em face da sua incoerência e da sua ineficácia, porém, todas as tentativas de ampliar o puro conhecimento racional têm de ser, à partida, interrompidas, até que a pergunta pela possibilidade interior dessa ciência seja clarificada. Assim, surge a tarefa de uma fundamentação no sentido de uma determinação da essência da metafísica. Como é que Kant estabelece essa demarcação da essência da metafísica? [GA3MAC:26-27]


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